Artistas levantam questões sobre o Teatro petrolinense

por Carlos Britto // 30 de março de 2016 às 21:33

Foto: arquivo

O Teatro Dona Amélia foi palco para uma mesa sobre a cena teatral contemporânea de Petrolina, ontem (29). Atores, diretores e o público se reuniram para falar sobre essa arte e refletir sobre o fazer teatral na região. A atividade marca um momento importante para a cidade e faz parte das ações do projeto Experimenta Cena 2016, realizado pelo Sesc Petrolina, que vem com uma programação desde o último dia 21. Com mediação da atriz e escritora Cátia Cardoso, a mesa contou com a participação dos diretores Antônio Verolnaldo e Thom Galiano, além do ator Antônio Pablo.

Durante as falas, surgiram debates sobre a proposta dos grupos e os seus meios de sobrevivência, políticas públicas para a Cultura e a formação dos profissionais. Thom Galiano, diretor da Trup Errante e do Núcleo de Teatro do Sesc Petrolina, lembrou que “não dá para pensar no presente, sem pensar um pouquinho no passado”, refletindo sobre o avanço da cidade, onde, há pouco tempo, não havia um teatro adequado e tantos festivais. “São essas articulações que fazem pensar em um teatro profissional. Espaços para acolher a produção”, pontuou Galiano. Sobre a manutenção do trabalho, ele comentou sobre a estratégia que os grupos têm usado. “Tentar não se isolar, talvez tenha sido a estratégia dos últimos momentos. É a diferença no que a gente faz, o projeto não é individual, é um trabalho coletivo“, afirmou.

Representando a Cia. Biruta, Antônio Veronaldo diz que o grupo sempre viveu o Teatro como uma profissão. O diretor refletiu sobre os problemas encontrados na cidade pelos grupos e diz ser importante sair do lugar romântico em relação aos palcos e pensar no artista como profissão. “Cada vez mais é muito difícil ser grupo. O primeiro conflito é que o fluxo (de pessoas) é muito grande. Minha proposta é coletividade e isso é um processo doloroso para o fazer teatral contemporâneo aqui na cidade“, exemplificou Veronaldo. O grupo tem buscado a formação de seus integrantes, investindo em residências com artistas e em cursos fora da região. “Sair das fronteiras do rio para depois voltar“, completou o diretor.

O múltiplo artista Antônio Pablo foi o representante do Sarau das 6, grupo criado em Jacobina, no norte da Bahia, que hoje realiza trabalhos em Petrolina, ainda se dividindo entre os dois estados. Sobre o processo de trabalho, Pablo diz: “estamos pesquisando um processo diferente. A gente se coloca enquanto intérprete-criador“. A formação do grupo tem se dado através de cursos e oficinas, oferecidas pelo Sesc. “A aprendizagem parte muito de cada um. Eu acho que a cidade de Petrolina e o Sesc têm muita formação“, disse o artista.

Questionamentos

Do público, alguns questionamentos foram lançados para os participantes da mesa. O artista visual e bailarino André Vitor Brandão comentou sobre a mistura entre as linguagens artísticas no palco. Já o ator Luis Osete, lembrou que “ a Cultura também é um direito. Está na constituição“. “A gente olha para a cena petrolinense e não consegue enxergar a presença do poder público. A cidade está avançando em termos econômicos e não vê isso sendo partilhado com esse setor tão importante“, afirmou Osete.

A certeza que se fica sobre se fazer Teatro, seja em Petrolina ou em outro lugar do mundo, é que esta é uma comunidade e que, nesse lugar, a arte é maior do que qualquer um. O amor ao que se faz é maior. O sentimento é revelado nas palavras da música ‘Dom de Iludir’ de Caetano Veloso, lembrada na conversa pela atriz Ádila Madança, “ cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é“. Depois de três horas de conversa, é hora de colocar o cenário nas costas e voltar para casa. Pois, amanhã a cortina deve se abrir novamente. (foto: Adriano Alves/divulgação)

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