Neste artigo, uma mãe solo expõe sua luta para garantir o direito à educação do filho cadeirante na rede estadual em Petrolina. Apesar de seguir todos os trâmites burocráticos e buscar apoio em diversos órgãos, ela enfrenta dificuldades para conseguir um acompanhante de sala para o adolescente.
Confira o relato completo:
Sou mãe solo e, como tantas outras, enfrento diariamente os desafios de criar e educar meu filho. Mas minha luta vai além do cotidiano: é uma batalha contra a negligência do Estado. Meu filho, Felipe, tem 15 anos e nasceu com hidrocefalia e mielomeningocele, o que compromete seus movimentos inferiores. Ele é cadeirante e totalmente consciente da sua condição. Ele quer estudar, aprender e ter uma vida como qualquer outro adolescente da sua idade. Mas o que deveria ser um direito básico se tornou um tormento.
Em novembro do ano passado, fiz a pré-matrícula na rede estadual de ensino de Petrolina e procurei a GRE (Gerência Regional de Educação) para entender quais providências deveriam ser tomadas para garantir que meu filho tivesse o suporte necessário. Me orientaram a aguardar até janeiro, quando a matrícula definitiva seria feita e a solicitação do acompanhante de sala poderia ser encaminhada. Fiz tudo dentro dos prazos, na esperança de que a burocracia não fosse um empecilho para o direito do meu filho.
As aulas começaram e Felipe, cheio de entusiasmo, finalmente pôde frequentar a escola. Mas durou pouco. No segundo dia de aula, já pediram para buscá-lo mais cedo porque não havia cuidador disponível. Desde então, minha luta tem sido incansável para que ele tenha simplesmente o direito de estudar.
Fui diversas vezes à GRE de Petrolina em busca de respostas. A justificativa é sempre a mesma: a solicitação foi enviada para a central em Recife, e eles não podem fazer nada enquanto aguardam uma resposta. Enquanto isso, Felipe segue perdendo aulas e sendo penalizado pela ineficiência do Estado.
Tentei todas as vias possíveis: recorri ao Conselho Tutelar, que tantas vezes atua de forma enérgica em outras situações, mas que, no nosso caso, nada fez. Busquei apoio na Promotoria Pública, que solicitou um prazo para a GRE resolver o problema. O prazo venceu e, até agora, nada mudou.
Enquanto espero por uma resposta concreta, improviso soluções. Eu e meu filho mais velho íamos à escola durante o intervalo para ajudar Felipe com suas necessidades básicas. Como isso se tornou inviável, consegui uma pessoa para ajudar pela manhã – mas às minhas custas, porque o Estado não cumpre seu papel.
Tenho uma nova audiência na Promotoria no dia 26 de março. Quero saber quando Felipe terá um acompanhante de sala e poderá, de fato, exercer seu direito à educação. Porque o que temos até agora são apenas ofícios, protocolos e promessas vazias.
A pergunta que fica é: por que temos que brigar tanto por algo que deveria ser garantido? Educação inclusiva não pode ser apenas discurso. Enquanto o Estado se esconde atrás da burocracia, meu filho, assim como tantas outras crianças e adolescentes, segue sendo excluído do direito mais básico: aprender.
Hoje, o que eu sinto é desamparo e descaso. O que meu filho quer e merece ir à escola, estudar e ter um futuro digno. Mas, infelizmente, parece que o Estado não está disposto a permitir.