Cem anos de um certo Zé Coelho

por Carlos Britto // 19 de fevereiro de 2023 às 08:53

Se estivesse vivo, o ex-senador e empresário José de Souza Coelho (falecido em 2007) faria hoje – 19 de fevereiro – 100 anos de idade. ‘Seu Zé Coelho’, como era carinhosamente chamado, ficou conhecido em Petrolina também pelos grandes carnavais que fazia na cidade. Seu filho e empresário, Luiz Eduardo Viana Coelho, nos enviou uma homenagem ao pai, que certamente marcará o início das comemorações do aniversário desse carismático petrolinense. Confiram:

Um legado dos Coelho

Essa carta aberta vai endereçada a minhas irmãs e irmãos; primas e primos; familiares próximos e distantes. Tive, tarde dessas, a grata surpresa de receber um telefonema de tio Adalberto. Como é do conhecimento de alguns de vocês, de vez em quando ele vai negociar gado no interior da Bahia. Pois bem, numa dessas andanças ele esteve num lugarejo chamado Missão do Aricobe, encravado no coração do oeste baiano, portanto na região de agropecuária. Mal sabia ele que a prosa em torno da compra de um pequeno rebanho revolveria tanto nossas emoções. E aqui explico o sucedido.

Conversa vai, conversa vem, e findos detalhes da negociação, bem como a escolha e o embarque dos garrotes, eis que ‘seu’ Antonio Paulino Câmara, o vendedor, abordou nosso tio Adalberto de bate-pronto e da forma como lhes transcrevo: “E Zé Coelho, homem? O que é feito dele? Tá sumido, nunca mais deu notícia…” Ora, durante as tratativas nosso tio sequer tocara no nome de parentes. Nem muito menos dissera que era de Petrolina. Daí a imaginar que ‘seu’ Antonio conhecia Zé Coelho havia uma distância de léguas. Mas a conversa prosseguiu.

Entre constrangido e sensibilizado, tio Adalberto disse-lhe que papai falecera há sete anos. Pois não é que ‘seu’ Antonio – um homem rijo e disposto do alto de seus 88 anos – se emocionou com a notícia? Confessou então ter muitas saudades do amigo, que só agora sabia falecido. E de ter trabalhado indiretamente para a Exportadora Coelho. Refeito da pancada, disse sentir falta até dos carnavais de Petrolina. Isso porque, amigos, ele, como tantos outros pequenos comerciantes do Nordeste brasileiro, era nosso fornecedor de matérias-primas da região.

A mecânica era simples: ele recebia os adiantamentos; comprava toda carnaúba e mamona que encontrasse pela frente; despachava-as em barcas a partir de um afluente do rio Grande e as fazia chegar a Petrolina. Mais adiante, e muitas vezes fazendo com que o período coincidisse com o Carnaval animado que Zé Coelho promovia, ele acorria até nossa cidade amada para receber sua parte no negócio. Em tempos tão maliciosos como os de hoje, isso pode nos parecer uma utopia. Mas houve tempo em que todos lucravam, ajudavam o País a crescer e saíam felizes.

Naquela época, disse ‘seu’ Antonio, tudo era no fio do bigode; as conversas eram francas e diretas; os problemas de um eram os do outro; ninguém concebia falcatruas à margem da lei nem passava pela cabeça dos parceiros enganar ou malbaratar o saudável ganha-pão. Como se esse agregado de virtudes não bastasse, ainda saíam ao som da charanga fidelíssima de Zé Coelho. Transidos pelas saudades, tivemos dificuldade para encerrar o telefonema, tio Adalberto e eu. Por um minuto, entramos no túnel do tempo e lá queríamos ter ficado. Fez-se silêncio.

Nosso silêncio – quase uma oração – se endereçou naquele momento para todos aqueles Coelho velhos que, sem saber, nos deixaram, ao modo deles, um legado de boa fé, amor ao trabalho e de crença num país melhor.

Luiz Eduardo Viana Coelho/Empresário

Cem anos de um certo Zé Coelho

  1. alex rodrigues disse:

    muito bonita essa homenagem, e sei quê petrolina tem o sobrenome de coelho, isso é o q eu considero e respeito muito e q os q ficaram aqui continue todo esse trabalho.

  2. marcio disse:

    De fato, “seu” Zé e “seu” Paulo Coelho foram exemplos de obstinação e empreendedorismo num sertão esquecido e abandonado pelo poder do centro-sul.
    Bonitas palavras do filho em homenagem ao pai.

  3. ALDO disse:

    os coelhos de um modo geral serão sempre lembrados e os petrolinenses,terão gratidão por eles por toda vida, é uma pena nossa cidade hoje está acabada por
    uma administração sem nenhum compromisso com o povo.

  4. vera lucia felipe silva disse:

    A família Coelho é marca registrada de Petrolina não adianta querer mudar a história que é clara e continuada através dos personagens que fazem parte
    dela,sou petrolinense e sei reconhecer o papel importante de seus integrantes.

  5. Flávio Alves da Silva Diniz disse:

    Histórias que nos levam a relembrar momentos ímpares vividos por homens e mulheres que transformaram nossa cidade nesta maravilha que contemplamos hoje. O amigo Luiz Eduardo é uma referência importante neste processo.

  6. Catarina disse:

    Linda homenagem, Duca! Tenho certeza que o seu pai assim como eu iria se emocionar com as suas palavras. Bjs com carinho da prima, Catarina

  7. Sábio disse:

    É o que fica de bom da vida.

  8. Martins disse:

    Petrolina-PE é a cidade que mais cresce no estado, e isso se dá conta por conta da família Coelho. São homens com Zé Coelho, Osvaldo, Geraldo, Paulo, Augusto, Nilo, Fernando, Fernando Filho e Miguel Coelho. Que essa Cidade continua viva e se desenvolvendo. A gestão de Miguel fez Petrolina ressurgir e voltar a evoluir. Quem tiver opinião contrária desafio visitar outras cidades do estado e verificar de perto o que é má gestão

  9. José Reginaldo de Castro Cavalcanti disse:

    Sou muito grato ao Dr.Ze Coelho. Petrolina é destaque nacional ,graças aos Coelhos.

  10. FUNDEB DO PROFESSOR INDO PRA ARGENTINA disse:

    Sou contra monopólio e vitaliciedade em qualquer poder. Pois quando isso acontece, gera em quem está no Poder, um endeusamento e exaltação, que pode levar a arbitrariedades sem tamanho! Mas como se diz por aí, “em time que está ganhando não se mexe”! E foi assim com a Família Coelho em Petrolina! Tivemos a grande sorte de tê-los governando nossa cidade por muitos anos e elevando uma “Passagem de Juazeiro” para a Capital do Sertão! Muitos juazeirenses, inclusive, já disseram: “Queria tanto que os Coelhos começassem a governar Juazeiro. Para ver se nossa cidade ia pra frente como Petrolina”! E é essa Petrolina, que só cresceu porque tivemos essa sorte de vê-la administrada pelos Coelhos, como Oswaldo, Geraldo, Zé Coelho, Augusto, entre outros, que sempre amaram nossa terra!
    Então, como minha mãe dizia: ” Não gosto de ninguém falando mau dos Coelhos”! E assim cresci, aprendendo a respeitar essa família que merece respeito e fez Petrolina despontar entre as demais cidades ribeirinhas!
    Alguns podem até dizer, Petrolina é desenvolvida por causa do Rio São Francisco”! Se não tivesse recursos públicos para desenvolver projetos para melhor aproveitar esse recurso natural, por meio dessa família, Petrolina estaria atrasada até hoje como muitas cidades nordestinas que ficam à beira do Velho Chico e que ainda vivem um subdesenvolvimento por conta de seus políticos que só pensam em roubar!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *


Últimos Comentários