Artigo do leitor: Pela Copa de hoje

por Carlos Britto // 12 de junho de 2014 às 09:32

Neste artigo enviado ao Blog, o advogado Ícaro Argolo faz uma análise pertinente sobre o que acha da Copa do Mundo no país, que será aberta nesta quinta-feira (12). Confiram:

fifaÉ prudente iniciar pontuando que não jogo no time dos pessimistas ou na seleção do #NãoVaiTerCopa. Acho que entrar nesse campo só reafirma a contradição histórica de uma nação rica culturalmente (e em recursos diversos) que mantém seus entraves burocráticos e de corrupção como prevalência a aspectos de promoção da responsabilidade coletiva e pertencimento na unidade nacional e participação popular.

É assim que encaro esta Copa da Fifa, dando total ênfase ao sentido e a força cultural e popular que o futebol proporciona aos brasileiros e em mesmo pé de igualdade, sem deméritos ou secundarizações, mantendo o mesmo senso crítico na realidade enfrentada pelo povo brasileiro.

Como já apresentei anteriormente em outras discussões, o legado estrutural produzido pela Copa não será, nem de longe, o anunciado. Continuaremos engarrafados, com a defasagem na mobilidade urbana, com grandes elefantes brancos sem função social e com alto custo operacional e amordaçando, principalmente, o futebol nordestino hipossuficiente em relação ao sulista; continuaremos, mesmo após as prováveis manifestações, lutando pela melhoria na qualidade dos serviços públicos acreditando que o quadro de precariedade existente pode ser superado com o mínimo do que foi exigido pelo padrão Fifa e gentilmente acatado pelo governo brasileiro.

Seguiremos fazendo o bom combate, por entender que este governo flexibilizou ao extremo o estado brasileiro, com a Lei Geral da Copa, aos interesses de uma organização privada reconhecida aos quatro campos por seu potencial de envolvimento em escândalos de corrupção e avantajados índices de lucratividade, explorando financeiramente a dedicação cultural dos povos sem a garantia singular a direitos brasileiros como o contraditório das manifestações políticas proibidas pelo verdadeiro estado de sítio a que estamos submetidos.

Enfim, seguiremos a luta cotidiana no cotidiano das lutas que virão. Mas como rubro-negro baiano que sou, torcedor fervoroso com orgulho, apostarei no bom desempenho da seleção canarinho. Diferente do que falam acerca do futebol, caracterizando-o como ópio, entendo se tratar de uma rica, diversa e ampla expressão cultural popular. É um sentimento que unifica e atribui uma espécie de razão ao senso comum mais subjetivo que possa haver na condição de integração entre os diferentes.

Não se trata de proselitismo. Só quem vai a um estádio compreende o fervor e a integração a que singelamente me refiro. E, neste sentido, haverá todas as Copas (!). Somos um povo vibrando por este sentimento real, e ainda que o legado político já tenha ido pela linha de fundo desse gramado politiqueiro, enquanto resultado eleitoral direto, manteremos a unidade em prol de um desejo coletivo máximo de garantir a este povo sofrido o sentido de uma vitória que traduza o ímpeto de felicidade por dias melhores.

Seguiremos apoiando, sempre que preciso, mesmo quando o contexto é desfavorável, mesmo quando a corrupção possa saltar aos olhos e precarizarem ainda mais os serviços públicos, garantindo por outro lado amplo e irrestrito enriquecimento à uma organização privada que recebe verba e concessões, sem sequer ser fiscalizada por poderes institucionais. Não estou falando da Fifa, “Dona da Copa”. Essa agente já sabe que fatura alto com a exploração alheia sem a contrapartida devida.

Refiro-me à CBF, que teve um ganho real de 93% do seu faturamento nos últimos 4 anos com o anúncio da Copa. Esse montante, algo em torno de R$ 436,5 milhões (2013), com toda certeza não será repassado em igualdade de condições para o futebol brasileiro. Logo, a pergunta: a CBF gerencia e fiscaliza o futebol, mas quem fiscaliza e gerencia a CBF?

Ícaro Argolo/Advogado

Artigo do leitor: Pela Copa de hoje

  1. Amaral disse:

    O governo parou obras de mobilidade urbana no resto do país, pra priorizar as 12 cidade, disse que lá é prioritário e aqui é secundário. Final das contas, não fez nada lá e nem aqui.

  2. Petrolinense disse:

    você está certo, o Brasil se resume hoje a 12 cidades. As outras 5.550 que se explodam. Por isso torcerei contra a seleção. Não vou pactuar com essa política de concentrar investimentos para poucos.

  3. Jair Lima disse:

    O pior ainda está por vir. Manter esses estádios será uma luta invencíve. Hj li em jornal de Recife que o governo de Pernambuco já gastou mais de 50 milhões com o funcionamento da Arena Pernambuco e autorizou mais 30 milhões. A previsão é que os gastos ultrasse 90 milhões por ano só com o funcionamento. Depois vem reparo etc.

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