Neste artigo enviado ao Blog, o geógrafo e servidor público Antonio Coelho Filho faz uma análise pertinente sobre o que existe por trás da urbanização do bairro Cacheado, em Petrolina.

Confiram:

A comunidade do Cacheado fica localizada na Zona Noroeste da cidade de Petrolina, com uma população de 1.380 habitantes (SMS de Petrolina, 2011). Surgiu após janeiro de 2004, quando fortes chuvas acima da média anual ocorreram na região de Petrolina. Muitos habitantes que viviam em situações de vulnerabilidade social em áreas particulares como Jardim Esperança, as chamadas ‘invasões’ do Pedro Raimundo e do Cosme e Damião, foram atingidas pelas enxurradas e removidas para áreas públicas ou adquiridas pelo Poder Público em casas construídas com verbas emergenciais do Governo Federal destinadas ao município, após o período de calamidade pública decretada.

Entretanto, nem todas as famílias foram contempladas com as casas prometidas pelo governo municipal. Diante dessa situação, essas famílias se aglomeraram numa área no Loteamento Jardim Petrolina constituindo um assentamento precário.

Em 01 de junho de 2010, através do Decreto Municipal n.º 54, foi adquirida pela Prefeitura de Petrolina uma área de aproximadamente 34 mil metros quadrados e pago a importância de R$ 350 mil.

Passou-se mais de um ano e nada acontecia de fato. Para ativar a memória dos moradores, foi realizada uma festa pela Prefeitura Municipal em 20 de setembro de 2011 para anunciar os supostos trabalhos de urbanização da comunidade do Cacheado. Nessa festa o prefeito Júlio Lóssio, acompanhado por secretários municipais, vereadores, líderes comunitários, representantes da Caixa Econômica Federal e do Governo Federal, assinou “o convênio para a urbanização da comunidade Cacheado. A obra, orçada em mais R$ 20 milhões, vai oferecer para as 400 famílias que ali vivem, a construção de casas, praças, pavimentação de ruas, esgotamento sanitário, água e energia elétrica, além da construção de uma unidade de Atendimento Multiprofissional Especializado (AME)”.

Além disso, na localidade, também seria construída “uma creche do Programa Nova semente, que tem como madrinha a primeira-dama do município, Andréa Lóssio, uma das pessoas que sempre lutou pela melhoria de vida dos moradores do Cacheado. A previsão da Prefeitura é que as obras sejam iniciadas até novembro e finalizadas em um prazo de 12 meses”, afirma a Prefeitura.

O acampamento dos trabalhos de topografia da comunidade do Cacheado iniciou-se no final de março de 2012. No local instalou-se a equipe de topografia com o objetivo de realizar o cadastramento técnico da área através dos equipamentos de “Estação” Total e o Sistema de Posicionamento Global (GPS). Diante de várias notícias em relação à urbanização histórica dessa comunidade, esse trabalho ainda não trouxe a garantia para as famílias da construção das moradias, mas a presença da gestão municipal naquele período servia apenas para acalmar os ânimos da comunidade e controlar as pessoas com promessas vazias, com o objetivo de conquistar eleitores para o pleito eleitoral que se aproximava.

O discurso tinha conotação político-partidária que passava uma visão condizente coma as normas legais e étnicas para as famílias envolvidas no processo de HIS. E dessa forma recebia o apoio e a confiança do eleitor daquela comunidade. Pois, em outubro de 2012, eram realizadas as eleições e os gestores envolvidos nesse processo concorriam a cargos políticos.

Dessa forma, os gestores municipais usaram de todos os instrumentos do Município para manter o controle das famílias do Cacheado, ou seja, usavam de argumentos falsos e ilegítimos para alimentar a comunidade com as promessas de realizar o sonho da moradia até as eleições de outubro de 2012. De lá para cá o processo de urbanização tomou outro direcionamento: morosidade, indefinição e falta de projetos.

Em mais uma coletiva à imprensa realizada no dia 09 de setembro de 2013, o prefeito Júlio Lóssio anuncia a liberação de recursos do Governo Federal na ordem de R$ 28 milhões para a urbanização do Cacheado, sendo que as obras devem durar 15 meses.

Os anúncios feitos nos anos anteriores eram devido ao ano eleitoral de 2012, que se aproximava. E agora, será o fenômeno “cassação” para aparecer como bom “gestor”? o povo que o julgue, mas a comunidade do Cacheado merece e precisa urgentemente de suas casas e viver com dignidade humana. Pois ali, 99% das famílias vivem morando em casas de taipa, em situação de insalubridade e de vulnerabilidade social.

Antonio Coelho Filho/Geógrafo e Servidor Público