Saiba como funciona o “Juntas”, mandato dividido por 5 mulheres na Alepe

por Carlos Britto // 15 de outubro de 2018 às 07:40

‘Juntas’ (PSOL) foi o nome que apareceu na urna e conquistou os votos de 39.175 pernambucanos. A titular do mandato é a ambulante Jo Cavalcanti, já que a candidatura foi registrada no nome dela na Justiça Eleitoral. O Juntas conta com a participação de mais quatro ‘eleitas’: a jornalista Carol Vergolino, a estudante de Letras Joelma Carla, a professora da rede estadual Kátia Cunha e a advogada Robeyoncé Lima, a primeira mulher trans que vai participar de um mandato na Alepe.

As histórias de vida delas são completamente diferentes, incluindo quem já morou em palafitas, como é o caso de Jo Cavalcanti; pessoas de classe média e até filha de um economista reconhecido, como Carol Vergolino. O que elas têm em comum é a militância no PSOL. Por causa disso, participaram de várias capacitações oferecidas pela legenda e, deste modo, tomaram conhecimento de mandatos coletivos, entre outras práticas – não tão convencionais – que estão sendo experimentadas Brasil afora.

Mas como vai ocorrer um mandato coletivo na prática? “Não vamos fazer nada sem a decisão coletiva”, alega Jo. É ela quem vai falar na tribuna da Alepe e votar, já que a candidatura foi registrada no nome dela. No entanto, as cinco vão se reunir e chegar a um consenso, que será expressado por Jo nas votações do Plenário.

Ainda na adrenalina da vitória e sem o conhecimento exato de como será a prática do dia a dia, Jo vai receber o salário de parlamentar, e as quatro vão receber salários de assessoras parlamentares. Como a proposta é que seja tudo igual entre as cinco, a diferença do salário de parlamentar para o de assessora será colocada em um fundo para que o mandato possa bancar algumas iniciativas “em construção”, que ainda não estão definidas. Elas não souberam dizer quanto é o salário de deputado estadual nem o de assessor.

Atualmente, o vencimento de um deputado estadual – sem as verbas extras – é de R$ 25,3 mil. “A nossa intenção é todos os dias estarmos na Alepe e nos revezar no final de semana para participar dos movimentos. Vamos trabalhar os 365 dias do ano“, afirma a jornalista Carol Vergolino.

As bandeiras defendidas por elas incluem várias das outras parlamentares dessa legislatura, como aumentar a representatividade da mulher e agir a favor de projetos que diminuam a violência – incluindo contra a mulher. “Quando a gente se junta, é mais forte contra a opressão. Homens e mulheres são iguais no direito, mas até hoje não é essa a prática”, diz Robeyoncé Lima, que trabalha como técnica administrativa na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

A estudante Joelma Carla diz que o grupo deseja “dar voz a quem nunca teve. Construir políticas públicas que incluam o interior, porque lá falta oportunidade na área de educação, transporte, entre outras”. Educação também é uma bandeira prioritária para Kátia Cunha, que é professora de educação física em Igarassu, no Grande Recife.

O Juntas também têm em comum o fato de pretender conciliar suas trajetórias profissionais com o mandato da Alepe por acharem que a função de deputado não é profissão.

O coletivo local se inspirou em outras experiências que já ocorreram, como a Gabinetona, que resultou na atuação de Aurea Carolina e Cida Falabella em Belo Horizonte nas eleições de 2016. Elas dividem um gabinete da Câmara de Vereadores da capital mineira. A última eleição contou com o registro de 11 candidaturas coletivas distribuídas por São Paulo, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul e Paraná, além da iniciativa pernambucana.

A assessoria de imprensa da Alepe informa que o acordo entre as cinco candidatas é informal e que, formalmente, é considerada deputada eleita Jo Cavalcanti, que registrou a candidatura no Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE-PE). “Um dos nossos desafios é mudar o regimento da Alepe para que a chapa coletiva seja reconhecida”, diz Jo.

Juntas foi uma inovação reconhecida por mais de 39 mil pessoas que nos deram os seus votos”, alega Carol Vergolino, com a intenção de que novas formas de mandato sejam reconhecidas pela Casa de Joaquim Nabuco. Elas também conseguiram cerca de R$ 20 mil em doações via vaquinha virtual – mecanismo que permite a doação de pessoa física pela internet – e receberam R$ 24,6 mil do fundo que banca as eleições pelos partidos.

História

A Avenida Conde da Boa Vista, Centro do Recife, é o local de trabalho de Jo Cavalcanti, que vive de comércio informal e é moradora do Morro da Conceição, na Zona Norte da Capital. “Nos horários livres da Assembleia, continuarei por lá”, diz.

Atualmente, ela mora em uma casa de ‘herdeiros’, mas não tem o título de posse da propriedade. Ela faz parte do MTST, movimento que defende os sem-teto. “Já morei na maré dos Coelhos por sete anos. Minha casa foi incendiada e tive que sair de lá. Vejo muita gente morando de forma desumana. É por isso que participo desse movimento“, conta.

Com o ensino médio completo, ela entrou para os quadros do PSOL em 2016. Na época, nem planejava ser deputada, mas dizia que queria fazer algo pelas pessoas, principalmente aquelas em situação parecida. “A gente está precisando de lideranças novas, oxigenar os espaços da política. Não pretendo fazer carreira política, mas em Pernambuco tem que acabar a política como cargo de trabalho eterno, que passa de pai para filho“, opina. Com informações do JC.

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