Pioneiro na luta por indenizações de mutuários em Pernambuco, vereador Camelo do Seguro ainda vê desafios: “Não pagamos nem 10%”

por Carlos Britto // 04 de junho de 2021 às 16:58

Foto: Blog do Carlos Britto

PAULISTA (PE) – Liderança política das mais fortes deste município da Região Metropolitana do Recife (RMR), o vereador e vice-presidente da Câmara Municipal, Antonio Camelo (PSB), viveu nesta semana mais um momento inesquecível de sua luta em assegurar o pagamento de indenizações referentes ao seguro dos mutuários da extinta Cohab. Ele foi o protagonista da cerimônia, na última segunda-feira (31/05), no ginásio esportivo de Paulista, que contemplou 77 moradores. No dia seguinte, em Igarassu, também na RMR, foram mais dez.

As indenizações são decorrentes de imóveis adquiridos pelos mutuários por meio do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), no final dos anos 80, e que, com o passar dos anos, apresentaram graves falhas de construção. Algumas delas terminaram até em mortes, a exemplo do desabamento de dois prédios em Olinda, no final dos anos 90. Neste caso, fica mais fácil as famílias das vítimas buscarem seus direitos na justiça. Porém, a maioria dos moradores não sabia que eles também poderiam ser indenizados por prejuízos nos seus imóveis, mesmo sem necessitar que uma tragédia como a de Olinda ocorresse.

Dezoito anos atrás, Antonio Camelo – ou simplesmente ‘Camelo do Seguro’, como se tornou conhecido – resolveu comprar a briga dos mutuários numa época em que ninguém acreditava em resultados positivos. Tudo começou, inclusive, com a vinda de um grupo de advogados de Santa Catarina para Pernambuco, após a repercussão nacional da tragédia em Olinda. O trabalho inicial foi justamente em relação aos prédios tipo caixão, semelhantes aos do desabamento. Segundo Camelo do Seguro, esse tipo de moradia construída pela Cohab não tinha nenhum tipo de sustentação. Vários prédios começaram a apresentar problemas estruturais, como rachaduras. Os que não desabaram, acabaram sendo condenados e demolidos, levando os mutuários a buscarem a justiça.

O vereador revelou, com base em dados do Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Itep), uma informação preocupante. “O estado de Pernambuco é onde temos o maior número de vítimas de escombros de prédios no país. São 6.800 prédios-caixões que estão com problemas estruturais”, destacou. Esse levantamento foi recomendado à época pelo Ministério Público Federal nas cidades de Paulista, Igarassu, Abreu e Lima, Olinda, Recife e Jaboatão dos Guararapes, as quais apresentam o maior índice desse tipo de construção no país.

As ações processuais contra as seguradoras são realizadas pelo Escritório de Advocacia Gamborgi Bruno & Camisão Advogados Associados, através da  Federação das Associações de Moradores dos Núcleos da Cohab e Similares do Estado de Pernambuco (Femocohab-PE), e buscam sempre um acordo de conciliação. Quando o grupo veio defender a causa dos mutuários pernambucanos, tinha 400 clientes em todo o país. Hoje conta com 65 mil – em boa parte no Estado. As ações, atualmente, abrangem não apenas prédios, mas também residências.

Atuação

Como tudo começou por paulista, a maior parte dos mutuários que receberam suas indenizações está no município metropolitano. Mas Camelo do Seguro informou que o mapeamento já saiu do território pernambucano. “Na Bahia entramos na justiça em Juazeiro, Senhor do Bonfim, Jacobina e Serrinha, para quem em breve o pagamento seja efetuado”, frisou. Camelo destacou ainda que, em Juazeiro, curiosamente já houve mais pagamentos de indenizações do que em Petrolina, porque na cidade pernambucana o início desse trabalho foi cercado por alguma desconfiança. “Tivemos que levar algumas lideranças comunitárias até Santa Catarina para verem como era o procedimento”, lembrou.

Há poucas semanas Camelo do Seguro esteve em Petrolina com a equipe de advogados e da Federação para pagar moradores da Vila Marcela. Na cidade, outros mutuários de bairros como Cohab (II, III, IV, V e VI) também aguardam sua vez. Segundo o vereador, mil famílias de Petrolina já receberam indenizações do seguro. No entanto, em todo o Estado, o desafio ainda é grande. “Não pagamos nem 10%”, completa Camelo. Na próxima matéria, os entraves que dificultam o acordo entre seguradoras e mutuários.

Por Antonio Carlos Miranda           

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