Participantes de audiência no Senado afastam risco de colapso na agricultura irrigada do Vale

por Carlos Britto // 16 de outubro de 2015 às 07:45

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Apesar da gravidade da crise hídrica que afeta o Vale do Rio São Francisco, dirigentes de órgãos e empresas públicas que participaram de audiência pública na Comissão Mista de Mudanças Climáticas (CMMC) do Senado Federal, nesta quinta-feira (15), divulgaram informações que afastam a hipótese de colapso imediato do sistema produtivo baseado na agricultura irrigada que depende das águas do São Francisco.

O diretor-geral do Operador do Sistema Elétrico Nacional (ONS), Hermes Chipp, um dos participantes, disse que está sendo feito todo o possível para que seja mantido em nível adequado o volume de água no reservatório de Sobradinho até o início efetivo do período de chuvas nesta bacia. O objetivo é assegurar, de modo controlável, os usos múltiplos da água, como o abastecimento humano e os projetos de irrigação.

“A Bacia do São Francisco praticamente está sendo operada para outros usos da água, não para abastecimento energético”, esclareceu.

Chipp citou o trabalho do comitê integrado por diferentes áreas do governo, coordenado pela Agência Nacional de Águas (ANA) e com participação da ONS, para monitor e controlar as vazões tanto de Sobradinho como do Reservatório de Três Marias, em Minas Gerais, em trecho anterior do rio. Em Sobradinho, a saída de água foi reduzida até agora de 1.300 para 900 metros cúbicos por segundo. Já em Três Marias, desde 2013, houve aumento de 300 para 600 metros cúbicos por segundo.

Ainda segundo Chipp, se o quadro crítico da falta de chuvas perdurar em 2016, e havendo limitações de uso do reservatório de Três Marias para regular a vazão, poderá haver nova redução da vazão de saída em Sobradinho. Dessa vez, a medida seria de 800 metros cúbicos por segundo, como estratégia para manter o atendimento dos múltiplos usos da água.

Perímetro Senador Nilo Coelho

Ao redor do lago de Sobradinho operam muitos dos distritos irrigados implantados pela Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), o maior deles o perímetro Nilo Coelho, que estava sob ameaça de ficar sem água já em meados de dezembro. Do total de 150 empregos diretos gerados pelos projetos implantados pela companhia, 60 mil estão nesse distrito irrigado.

No perímetro Senador Nilo Coelho a situação era mais crítica porque a captação para esse projeto, na sua concepção original, só permite a retirada de água do volume útil da barragem. Por isso, a Codevasf já vinha executando conjunto de obras para garantir captação da chamada reserva morta, já que o volume mínimo útil seria atingido em meados de dezembro.

A boa notícia é que essas obras devem ficar prontas até 30 de novembro, 15 dias antes do prazo previsto, como foi adiantado pelo assessor da diretoria da Codevasf, Marcos Pedra. Para isso, explicou o assessor, as três empresas contratadas estão trabalhando 20 horas por dia, quatro além do que já vinham fazendo. Os investimentos, orçados em R$ 34 milhões, incluem gastos com aquisição de bombas, circuitos elétricos e flutuantes que serão instalados às margens do rio para captar a água. Estão sendo também construídos diques e canais.

Garantia

Com as obras, afirma o presidente da comissão, senador Fernando Bezerra (PSB-PE), será garantido o fornecimento de água para perímetros irrigados situado antes e depois da Barragem de Sobradinho mesmo com a queda do volume útil do lago.

“Vamos continuar acompanhando porque os impactos de uma eventual interrupção de água são muito negativos para a economia regional”, alertou o senador FBC, ao observar que a fruticultura – de uva e manga, principalmente – é responsável por aproximadamente 150 mil empregos nos perímetros irrigados do São Francisco.

O polo Petrolina (PE)/Juazeiro (BA) é a principal exportadora de frutas do país, com liderança na produção de uva e manga. Por isso, afirma o senador, merece todo cuidado por parte do setor público. A seu ver, essa atenção ficou demonstrada durante a audiência pública por parte dos convidados.

Judicialização

O diretor-presidente da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), José Carlos Miranda, disse que a empresa vem colaborando com o esforço para dar respaldo a todas as modalidades de uso das águas de Sobradinho. Observou, contudo, que companhia não fica imune a problemas decorrentes da redução da vazão de saída. Um deles seriam as ações judiciais movidas por ribeirinhos que se sentem prejudicados. Disse que já são mais de 300 processos. (fonte: Agência Senado/foto divulgação)

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