Pais de Beatriz querem prisão de funcionário acusado de apagar imagens da noite do crime e devem recorrer de decisão de juíza

por Carlos Britto // 27 de julho de 2018 às 16:57

Sandro Romilton e Lucinha Mota, pais da menina Beatriz (Foto: Alieny Silva/Blog do Carlos Britto)

Quase três anos após o crime que chocou a sociedade do Vale do São Francisco e ganhou repercussão nacional, os pais da menina Beatriz Angélica Mota – assassinada brutalmente a facadas aos sete anos de idade, num evento festivo realizado no Colégio Maria Auxiliadora, onde estudava, em Petrolina – voltaram a protestar. Eles querem a prisão de Alisson Henrique de Carvalho Cunha, acusado de apagar parte das imagens das câmeras de monitoramento do colégio, na noite de 10 de dezembro de 2015 (quando ocorreu o fato).

A delegada responsável pelo caso, Pollyana Neri, pediu a prisão preventiva de Allisson, decisão que foi acatada pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE). No entanto, a juíza Elane Ribeiro indeferiu o pedido. De acordo com o professor Sandro Romilton, pai de Beatriz, a justificativa dada pela magistrada foi a de que esse pedido deveria ter ocorrido à época em que a delegada Gleide Ângelo conduzia as investigações (em 2016).

Sandro explica, por sua vez, que até então a família da menina não tinha certeza de quem seria o responsável por apagar as imagens. Agora ele e sua esposa, Lúcia Mota, sabem que foi Alisson. “Esse é um fato novo. Ao apagar as imagens, ele atrapalhou mais de um ano as investigações”, desabafa.

Lúcia acrescenta afirmando que a juíza, ao alegar a questão cronológica dos fatos para basear sua decisão, esqueceu-se de levar em conta os requisitos da legislação penal (Código 312).

Para uma prisão preventiva, tem de se provar a materialidade do crime e a autoria. Isso já foi comprovado. O Judiciário, em sua decisão, reconhece que foi intencional. E em relação ao tempo, como a juíza alega em seu indeferimento, quem causou isso foi o próprio Alisson, ao apagar as imagens, porque a polícia só conseguiu identificar que aquelas determinadas câmeras estavam apagadas muito tempo depois, e aí se precisou de todo um investimento para recuperar (as imagens) e identificar se foram apagadas propositalmente e quem foi o autor”, afirma Lúcia. Ela se diz convicta de os assassinos de sua filha já poderiam ter sido presos, se não fosse por esse detalhe.

Pouco depois da notícia do pedido de prisão de Alisson ter sido negado pela justiça, rumores em Petrolina deram conta de que a delegada Polyanna Neri seria substituída do caso, mas a Polícia Civil (PC) adiantou-se em informar que ela estava apenas tirando alguns dias de férias.

Críticas

Em nota à imprensa, a direção do Colégio Auxiliadora fez questão de ressaltar que Alisson não seria funcionário da instituição de ensino, e sim de uma empresa terceirizada. Lúcia, no entanto, não economiza nas críticas. “Nós repudiamos a atitude do Colégio Maria Auxiliadora, diante de todas as evidências. Não resta mais dúvidas de que o colégio apagou as imagens e o funcionário já foi identificado”, afirma, acrescentando que em nenhum momento ela e Sandro sentiram-se apoiado pela direção do colégio.

Além de Alisson, Lúcia lembra que outras cinco pessoas suspeitas (já ouvidas pela polícia) são peças-chaves para desvendar esse crime hediondo. Já o pai de Beatriz reforça que decisões como a da juíza só estimulam a família da garota a buscar a solução para o caso. Sandro frisa que o MPPE, se já não formalizou, deve formalizar um pedido para que a magistrada reavalie sua decisão. “Se ela der outra negativa, infelizmente vamos ter de procurar as instâncias superiores”, finalizou.

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