Mobilização contra crime ambiental de Brumadinho leva sanfranciscanos a protestarem pelas ruas de Juazeiro

por Carlos Britto // 26 de fevereiro de 2019 às 08:20

Foto: Ascom/divulgação

Reforçando a mobilização pelo país em protesto contra a tragédia ambiental de Brumadinho (MG), que completou um mês, trechos das principais ruas do Centro de Juazeiro (BA) deram passagem na manhã de segunda-feira (25) a um ato público organizado por movimentos populares e instituições de apoio da região. Quem caminhava segurava faixas, microfone e distribuía panfletos, ou quem simplesmente parou suas atividades para prestar atenção na movimentação expressava solidariedade com as vítimas do rompimento da Barragem da Mina Córrego do Feijão. O ato serviu também como mais um grito em defesa do Rio São Francisco, ameaçado pelo material poluente da barragem.

Saindo da Praça Dedé Caxias, os manifestantes da área urbana e rural de Juazeiro, além de outros municípios do Sertão do São Francisco – na Bahia e em Pernambuco – seguiram em caminhada até a Orla Nova, onde aconteceu uma celebração inter-religiosa guiada pela representante dos povos de terreiro, Ioná Pereira, e pelo bispo da Diocese de Juazeiro, Dom Beto Breis.

Pescadores/as, agricultores/as, atingidos pela Hidrelétrica de Sobradinho e Itaparica, lideranças comunitárias, artistas, estudantes e religiosos/as, fizeram pronunciamentos, cantaram e ecoaram gritos de ordem durante o trajeto, despertando a população para a gravidade do problema e cobrando justiça. O comerciário Cassiano Souza, que assistiu à mobilização, externou sua preocupação com as consequências desse crime e disse que não só a população “mas os governos também têm que se mobilizar”.

A tristeza e apreensão de que as águas doces que abastecem a região sejam prejudicadas motivaram a moradora da comunidade de Ferrete, em Curaçá (norte da Bahia), Sônia Medrado, a se juntar ao protesto. “Se a água do São Francisco chegar a ficar imprópria para consumo, nós vamos morrer tudo, porque não tem de onde tirar água mineral aqui”, disse.

Foto: Ascom/divulgação

Impactos e ameaças regionais

Curaçá é um dos municípios da região banhados pelo Velho Chico e já conta com mais de 80% do seu território mapeado para exploração mineral. Além disso, de acordo com informações da prefeitura, em 2016 mais de 10 empresas já desenvolviam pesquisa ou exploração em uma média de 20 localidades. Dom Beto citou os prejuízos que a mineradora Galvani tem causado na comunidade de Angico dos Dias, em Campo Alegre de Lourdes, onde já se constata contaminação de lagoa, poluição do ar e uma série de outros direitos tirados da população local.

Rizoneide Gomes, da Comissão Pastoral dos/das Pescadores/as (CPP), lembrou que o rio já vem sendo contaminado diariamente com o alto índice de agrotóxicos, esgotos e outros empreendimentos, inclusive a mineração. “A gente vê essa situação com muita preocupação porque infelizmente os órgãos fiscalizadores não tem uma ação efetiva pra fazer as vistorias necessárias”, lamentou.

Quanto aos riscos de contaminação da calha do Velho Chico devido à tragédia de Brumadinho, a promotora de Justiça do Ministério Público da Bahia e representante do Núcleo do São Francisco (NUSF), Luciana Khoury, sinalizou que há falas técnicas de que isso não irá acontecer, pois a lama seria retida na Hidrelétrica de Retiro de Baixo, no Estado mineiro. Entretanto, ela destaca que neste caso há contenção do material, porém a água segue com metais pesados, o que pode impactar a fauna e a flora aquática – além do consumo humano. Ela informa ainda que foi instaurado um inquérito civil para acompanhar com maior rapidez os impactos e agilizar possíveis formas de prevenção. Com informações do IRPPA.

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