Em Cabrobó, Dilma volta a dizer que é preciso “encarar dificuldades” ao invés de “tampar o sol com a peneira”

por Carlos Britto // 21 de agosto de 2015 às 17:33

dilma em cabrobó (1)A presidente Dilma Rousseff voltou nesta sexta-feira, 21, a pedir esperança à população diante da crise. Ao inaugurar uma estação de bombeamento da transposição do Rio São Francisco em Cabrobó (PE), no Sertão pernambucano, Dilma admitiu que o País passa por dificuldades e que teve dificuldades com o orçamento, mas disse que é preciso enfrenta-las em vez de “tampar o sol com a peneira”.

Atrasada em quase três anos e quase que duas vezes mais cara, a obra de transposição só deve levar de fato água à população em dezembro de 2016.

“Temos dificuldades? temos sim. Ninguém tem que tampar o sol com a peneira. Mas achar que está tudo ruim não é a forma pela qual a gente constrói canal. A gente constrói canal encarando a dificuldade de frente e ultrapassando a dificuldade com muita força no coração e com muita esperança”, disse Dilma, a uma plateia formada por movimentos sociais e entidades rurais ligadas ao PT.

A presidente disse que, apesar das dificuldades orçamentárias, não cortará programas sociais. “Tenho certeza que tem muita coisa que falta pra gente fazer. Assim como na casa de vocês, às vezes, vocês tem alguma dificuldade com o orçamento, o governo federal também teve. Assim como vocês escolhem onde vão apertar o cinto, nós também. Não vamos apertar o cinto nos programas essenciais para o País seguir em frente, os programas sociais e os programas como este aqui (transposição)”, afirmou.

O evento teve faixas com a estrela do Partido dos Trabalhadores, vaias a políticos do PSB, legenda que rompeu com Dilma em 2013 e disputou contra ela a Presidência em 2014, e pedidos de postagem de fotos em redes sociais por parte do apresentador do evento.

Elogios a Lula

Em seu discurso, Dilma explorou a figura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda muito forte no interior do Nordeste. “Refiro-me nesta obra ao presidente Lula porque é uma obra que esteve colocada como possibilidade durante 150 anos, mas precisou que um nordestino fosse eleito presidente, que este nordestino tivesse sido expulso, praticamente, da sua casa aqui em Pernambuco, e tivesse vindo para São Paulo e soubesse o custo em termos de vidas, em termos de perspectiva de futuro e esperança que a seca impunha para a população do Nordeste. A vontade de fazer foi muito importante. Por isso sempre me refiro a ele. Ele teve um papel decisivo para que esta obra ocorresse”, disse a presidente.

Dilma fez referência a Dom Pedro II, que teria idealizado a obra de transposição, mas o citou como rei e não imperador. “O rei deu uma mãozinha porque falou pelo menos que tinha que fazer“, afirmou.

Dilma citou a transposição como medida para diminuir as desigualdades regionais. “O que o governo tem de fazer? Tem de fazer que esta luta seja mais igual, tem de garantir as oportunidades, que ninguém que vai correr uma corrida tenha 50 metros de vantagem e o outro não tenha os 50 metros de vantagem. Porque quem sair na frente vai ganhar e o outro vai perder”, afirmou.

dilma em cabrobó (2)A presidente acionou uma motobomba inaugurando nesta sexta-feira um trecho de 45,9 km em Cabrobó entre o canal de aproximação, que liga o rio São Francisco à obra, e o reservatório de Terra Nova. Serão necessários dois meses para que a água tome toda esta parte da obra, enchendo os reservatórios de Tucutu e Terra Nova, ambos em Cabrobó.

A estação de bombeamento inaugurada no início desta tarde eleva a água do São Francisco a 36 metros de altura, o equivalente um prédio de 12 andares, com uma vazão de 12,4 metros cúbicos/segundo.

A transposição do rio São Francisco, iniciada em 2007, deveria ter ficado pronta em 2012 a um custo nominal de R$ 4,5 bilhões, mas só deve ser concluída em dezembro de 2016 a R$ 8,2 bilhões, em valor nominal.

Os canais da transposição estão divididos em dois eixos, o norte, com 260 km e o leste, com 217 km. Até julho, 77,8% do total da obra estavam concluídos. Quando pronta, a transposição levará água a 12 milhões de pessoas em 390 municípios em Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.

Cobranças

Vaiado pela plateia de movimentos sociais e sindicatos rurais ligados ao PT em sua chegada e ao iniciar seu discurso, o prefeito de Cabrobó, Auricélio Torres (PSB), defendeu a presidente, mas também a deixou em saia justa ao fazer cobranças públicas. Ele já havia feito cobranças em maio do ano passado, quando Dilma visitou a obra.

Tratamos a política com seriedade e muito longe de praticar a politica mesquinha daqueles que torcem pelo quanto pior, melhor. Estamos juntos e estamos solidários com a senhora neste momento de dificuldade. O mandato da senhora foi legitimado pelo povo brasileiro e é assim que deve ser. As pessoas que exercitam a democracia com responsabilidade pensam assim“, disse inicialmente Torres.

No entanto, em seguida, disse a população de seu município ficaria “triste” se ele não fizesse algumas cobranças a ela. Cobrou um projeto de irrigação e 500 unidades do Minha Casa, Minha Vida no município. “Gostaríamos que a senhora tivesse um olhar diferenciado para esses pleitos nossos. Atendendo nossos pleitos, Cabrobó será eternamente grata à presidente Dilma Rousseff”, afirmou o prefeito.

Além de Torres, houve vaias também para o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), e para o senador Fernando Bezerra (PSB-PE). Eles eram aliados do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), que morreu em um acidente aéreo no ano passado, quando enfrentava Dilma na disputa pela Presidência.

dilma em cabrobó (3)Neguinho Truká

Protagonista de manifestação contra a transposição do rio São Francisco no ano passado, o cacique Aurivan dos Santos Barros, o ‘Neguinho Truká’, acompanhou a cerimônia desta manhã no palco ao lado da presidente.

Ele disse que a tribo Truká não fez protesto desta vez para que não se confundisse com os atos que pedem o impeachment da presidente. No entanto, ele disse que tentaria falar com ela para, novamente, manifestar sua discordância do projeto e cobrar as políticas públicas prometidas, segundo o cacique, no início das obras. “Somos contra a transposição. O projeto é um erro muito grande. O rio está morrendo. A transposição é um dos fatores que vai acabar com a vida do rio”, disse Neguinho Truká.

Em seu discurso, Dilma disse que encomendou aos Ministérios da Integração e do Planejamento um plano de revitalização do rio para a próxima década. De acordo com o cacique, a transposição corta o território Truká, tribo que conta com 6.044 indígenas em quatro municípios sertanejos. (fonte: Estado de S.Paulo/fotos: Ricardo Stuckert Filho/Presidência)

Em Cabrobó, Dilma volta a dizer que é preciso “encarar dificuldades” ao invés de “tampar o sol com a peneira”

  1. Maria do Socorro disse:

    Conversa pra boi dormir. Imagine você, candidato de um partido, NÃO SABER que seu tesoureiro estava arrumando dinheiro sujo.
    Não sei como não prenderam essa mulher e o comunista barbudo, travestido de operário, para enganar seu próprio povo.

  2. Ediuilson disse:

    É considerada de custo alto pelo povo, pela mídia e pelos adversários de Dilma Rousseff​, porque a obra é no Nordeste, mas o trem bala de São Paulo ao Rio de Janeiro orçado inicialmente em 53 Bilhões de Reais não há tanta especulação de valores, e a transposição de 8 bilhões para atender 12 milhões de habitantes, valor este que não chega R$ 700,00 por habitante contemplado, é tão criticado.

    1. Ediuilson disse:

      A população nordestina que será contemplada com a transposição é de aproximadamente 21% dos 56.186.190 (em 2014) de habitantes de todo o Nordeste brasileiro.

    2. Ediuilson disse:

      A população dos 4 estados contemplados é de aproximadamente 25 milhões, sendo que o Ceara chega a quase 9 milhões de habitantes, e terá grande parte do interior e toda região metropolitana contemplada com o canal Cinturão das Águas que ligará a transposição a quase todo estado.

  3. Ediuilson disse:

    TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO
    A transposição do rio São Francisco é um projeto de deslocamento de parte das águas do rio São Francisco, no Brasil, nomeado pelo governo brasileiro como “Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional”. A ideia de transposição das águas remonta ao ano de 1847, ou seja, no tempo do Império Brasileiro de Dom Pedro II, já sendo vista, por alguns intelectuais de então, como a única solução para a seca do Nordeste. Naquela época, não foi iniciado o projeto por falta de recursos da engenharia. Ao longo do século XX, a transposição do São Francisco continuou a ser vista como uma solução para o aumentar as disponibilidades em água no Nordeste Setentrional. A discussão foi retomada em 1943 pelo Presidente Getúlio Vargas. O primeiro projeto consistente surgiu no governo João Batista de Oliveira Figueiredo, quando Mário Andreazza era Ministro do Interior, após uma das mais longas estiagens da História (1979-1983) e foi elaborado pelo extinto Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS). Em agosto de 1994, o presidente Itamar Franco enviou um Decreto ao Senado, declarando ser de interesse da União estudos sobre o potencial hídrico das bacias das regiões semiáridas dos estados do Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. Convidou o então Deputado Federal pelo Rio Grande do Norte, Aluízio Alves, para ser Ministro da Integração Regional e levar adiante a execução do projeto.[6] [7]
    Fonte Wikipédia
    Em 2005, esta noticia nos jornais do Brasil:
    Bispo D. Cappio, agregam-se as notícias vinculadas ao religioso, militante contra o projeto de transposição das águas do São Francisco, o qual realizou uma greve de fome, gerando polêmica de repercussão nacional.
    O Bispo D. Cappio, que está realizando uma greve de fome em uma fazenda no município de Cabrobó, em protesto contra o projeto de transposição do rio São Francisco, registrou em cartório de Barra, na Bahia, que vai manter o protesto até a morte caso o governo não abandone o projeto (matéria 117, Gazzeta, Gazzetando, 2005, p. 24).
    Mas na verdade só no governo Lula realmente houve um pontapé inicial concreto, mesmo diante de tantas iniciativas de grupos contrários, e hoje o governo Dilma está iniciando a concretização de um sonho de D. Pedro II e de milhões de sertanejos nordestinos, a ligação das moto-bombas, que começaram levando água que viajará um longo percurso até chegar o Rio Grande do Norte.
    A minha pergunta é, onde anda o Bispo Dom Cappio? O quê ele esta fazendo hoje? O quê ele pensa hoje a respeito da transposição? Por que ele caiu no esquecimento?
    Obrigado a Lula e Dilma por este desafio, obrigado a todos que colaboraram por isto está acontecendo. Acredito que seja o agradecimento de milhões de brasileiro que sabem reconhecer o grande diferencial do idealizar e o construir.

  4. Lampião disse:

    Ora, ora…Mas não foi isso que ela fez durante a campanha eleitoral: tampando o Sol com a peneira! Por que ela não quis encarar essas dificuldades em 2014?

  5. Pacato Cidadão disse:

    Eduilson, a população de PE, RN, CE e PB juntas não chega a 24 milhões de habitantes. Vc está dizendo que a água do rio São Francisco vai chegar as casas de 50% (12 milhões) da população dos 4 Estado? a discussão da obra vem desde 2005, ou seja, 10 anos. Se vc tivesse um pouco de inteligência ia chegar a conclusão que tal ladainha é engodo. No mais, o custo operacional dessa obra é milionária. Levantamentos mostram que será a água mais cara do mundo. Nenhum empreendimento se sustentaria. Para isso o governo federal vai subsidiar uma grande partedos custos. Já o produtor do Vale do São Francisco paga pela água bruta, conforme determina lei sancionada por Dilma a uns 3 anos atrás.

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