Artigo do leitor: “Seu Padilha e sua Petrolina”

por Carlos Britto // 21 de setembro de 2018 às 10:21

Foto: reprodução

Nos 123 anos de emancipação política de Petrolina, o poeta, jornalista e publicitário Carlos Laerte rende homenagem a um personagem ilustre da cidade que muitos, infelizmente, ainda desconhecem sua história: Antônio de Santana Padilha.

Boa leitura:  

Nunca houve quem amasse tanto Petrolina como um dia amou Antônio de Santana Padilha. Nascido, vivido e casado com a cidade, o escritor de contos, crônicas, teatro e poesia fez nascer dessa união o primeiro romance, ‘Pedro e Lina’ (1980), e a primeira cronologia histórica e cultural do município, ‘Petrolina no tempo, no espaço, na vez’ (1982).

Revestido de um bem querer que a tudo sublima, Toinho Padilha, como assim o chamavam os mais íntimos, não se contentando com a versão oficial do nome de Petrolina (uma homenagem ao imperador Dom Pedro II e sua esposa Dona Leopoldina), propõe numa narrativa épica a versão ficcional para a origem toponímica da cidade:

“Toda vez que frei Henrique dizia Pedro e Lina, sorria-se na assistência. No seu acentuado sotaque italiano, na palavra Pedro, abria o som do e, trocava a letra d por t e elidia a vogal final com o e da conjunção – pronunciava claramente: PETROLINA.” (PADILHA, 2007, p. 337)

No romance com 250 páginas, o livro de Seu Padilha, que era contabilista, jornalista e foi subprefeito (1930), adjunto de Promotor Público (1932 a 1940) e vereador (1947), conta em 66 capítulos a história do amor de um vaqueiro e a filha do fazendeiro patrão no final do século 19. Escrito com um apuro literário surpreendente, a obra apresenta em alguns momentos tempos narrativos distintos caminhando juntos e separados.

Como era considerado o poeta da cidade, o historiador, a referência cultural, Seu Padilha era chamado constantemente a escrever os discursos e saudações para recepção das autoridades. Foi assim na chegada do segundo bispo, Dom Idílio José Soares, e também no belíssimo pronunciamento que fez durante a recepção a Dom Avelar Bandão Vilela, o terceiro bispo de Petrolina. Muitos desses trabalhos foram reunidos no livro ‘Álbum de Saudações’ (1964).

À sombra de uma árvore na praça Dom Malan ou na porta do jornal “O Pharol”, do amigo João Ferreira Gomes (Sr. Joãozinho do Pharol), Toinho Padilha estava sempre em dia com a Petrolina e o bem querer. Seja no distante ano de 1923, quando aos 19 anos lançou em parceria com J. Fernandes o jornal humorístico O Alicate, ou em face da publicação do livro ‘Corre um rio de lágrimas’ (1965), o escritor petrolinense de corpo frágil garantia seu lugar na vanguarda dos acontecimentos e no sentimento de pertencimento que animava sua alma muito mais. A obra ‘Corre um rio de lágrimas’ contou com o prefácio de Rui Santos e ilustrações de Lula Cardoso Ayres e se constituiu no primeiro livro da região a fazer parte de uma coleção da Imprensa Oficial de Pernambuco.

Com horizontes abertos e foco na sensibilidade artística, sua presença fazia a diferença nos acontecimentos comunitários, culturais e esportivos da cidade que crescia como o “Jardim de Pernambuco à beira do rio plantado”, como definiu um dia Cordeiro de Miranda; ou no dizer do monsenhor Ângelo Vieira Sampaio, “Terra dos Impossíveis”.

Na terceira parte do livro ‘Petrolina no tempo, no espaço, na vez’, quando registra os acontecimentos entre os anos de 1924 a 1975, Seu Padilha ilustra os fatos e as crônicas do cotidiano com pequenos causos de um humor bastante refinado e cheios de curiosidades acerca de personagens de outros tempos e contemporâneos das mesmas pétalas à retina. São também obras publicadas por Antônio de Santana Padilha ‘Escrituração Relâmpago’ (contabilidade – 1945), ‘Superfície’ (versos – 1967) e ‘Ribeiril do São Francisco’ (poema folclórico – 1970), além dos livros que deixou inéditos, ‘Pescadores do São Francisco’ (drama), Patriotismo (drama), ‘O Túmulo do Poeta’ (alegoria) e ‘Irmão Divino’ (cine-drama). A cronologia foi lançada quase um ano depois da sua morte, ocorrida em 1981, aos 77 anos, em decorrência de um problema do coração.

Para relembrar a data do nascimento de Seu Padilha (5 de setembro de 1904), Petrolina comemora o Dia Municipal do Livro, organizado pelo Colegiado de Letras da Universidade de Pernambuco (UPE), com uma programação que inclui contação de histórias, arrecadação de livros, roda de conversa com escritores, recital poético e leitura dramatizada. Ele também foi homenageado recentemente pelo 1º Festival de Literatura do Sertão do São Francisco (Flisertão), realizado pela Prefeitura de Petrolina. Aos poucos, a nossa cidade vai (re) descobrindo e valorizando Seu Padilha. Um reconhecimento sincero ao nosso mais completo escritor, que criou uma obra fantástica e estimulou em todos nós o amor maior por essa cidade única no mundo: Petrolina. Parabéns por esses 123 anos bem vividos.

Carlos Laerte/Poeta, Jornalista e Publicitário

Artigo do leitor: “Seu Padilha e sua Petrolina”

  1. Josafá Moreira. disse:

    Belíssima lembrança e homenagem faz Carlos Laerte. Seu Padilha foi, além do talentoso escritor, poeta, contabilista, pessoa de elegância no trato. Tive a felicidade de trabalhar e conviver com o mesmo quando, em tenra idade fui office boy numa empresa na qual seu Padilha era encarregado de escrituração contábil. Parabéns pelo artigo, que representa um resgate valioso da história de Petrolina e uma justíssima homenagem a um homem extraordinário. Parabéns Petrolina.

  2. Petrolina Minha Terra Meu Lugar disse:

    Precisamos valorizar mais as pessoas que amaram a cidade e que fizeram tudo para o seu engrandecimento, e que sem elas Petrolina poderia mesmo nem ter se tornado cidade, poderia ter sido um daqueles milhares de povoados que surgiu e se extinguiu sem nem um registro na história. Vou citar apenas alguns. Frei Henrique (religioso que se decidiu pela construção de uma capela que daria lugar ao que hoje a nossa Igreja Matriz). Padre Manoel Joaquim da Silva (foi o maior interessado pela transformação do então povoado em Freguesia, sendo seu primeiro vigário). José Crispiniano Rodrigues Coelho Brandão (que tanto lutou pela emancipação de Petrolina). Juvêncio Rodrigues Coelho Pombo (fundador da 21 de Setembro). João Ferreira Gomes (fundador do Jornal O Pharol). Dom Antonio Maria Malan (1o Bispo Diocesano). Francisco Manoel de Souza Filho (primeiro deputado federal petrolinense). Clementino de Souza Coelho (Industrial). Nilo de Souza Coelho (Governador). Antônio de Santana Padilha (poeta e escritor). José Raulino Sampaio (poeta e escritor), Cid de Almeida Carvalho (poeta e escritor). João Cardoso de Sá (primeiro médico petrolinense). J. D’avila (poeta e escritor).

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