Artigo do leitor: “Quando os homens se reúnem, perdem a sensação de sua fraqueza”

por Carlos Britto // 30 de novembro de 2019 às 21:37

Neste artigo, o leitor Mário Gomes destaca o potencial de Petrolina, sem deixar de reconhecer a importância histórica de Juazeiro (BA).

Confiram:

Juazeiro & Petrolina.

“Quando os homens se reúnem, perdem a sensação de sua fraqueza”.

Esse provérbio parece incontestável, porém quando se trata de Juazeiro e Petrolina, ele se modifica.

Desde 1956, já trabalhando nas Lojas Silva, com 17 anos de idade,  já conhecia as rusgas das duas cidades. No meado do século vinte, as brigas entre elas já existiam, principalmente entre jovens. Nos anos 60/70, já engrossavam.  Hoje não é diferente, mesmo em outras proporções, claro.

No final de outubro deste ano, fui convidado a participar de uma reunião em Petrolina, na Univasf, para ser discutido o desenvolvimento do Vale do São Francisco. Ali chegando, deparei-me com alguns conhecidos, principalmente de Juazeiro. Foi uma reunião muito válida. Como não poderia deixar de ser, ouve algumas provocações, principalmente contra Juazeiro – o que já é comum. Em determinado momento alguém disse:  Petrolina é a cidade dos ricos, com alguns pobres;  Juazeiro é a cidade dos pobres, com poucos ricos e parte mora em Petrolina.

O debate foi esquentando, pois alguns foram munidos de lenha, sempre jogando na fogueira, 90% contra Juazeiro, até que um senhor muito sensato perguntou se permitíamos que ele definisse, com uma palavra Juazeiro e Petrolina. Ouve unanimidade. E ele, serenamente disse:

Petrolina é Dubai. E as expressões faciais, todas, eram de interrogação. Ora, se Dubai,  hoje, considerada uma das mais ricas e prósperas do mundo, que seria Juazeiro? Foi um silêncio fúnebre. E ele disparou: Juazeiro é Roma. O alívio foi sensacional. Um virava para o outro, como a dizer: porra! O mais apressado da turma, rapidamente disse: Roma é a cidade eterna. Roma é a cidade dos Profetas. Roma é a cidade de grandes pensadores, Roma é a cidade número UM da cultura, das religiões, das artes,  da história.        

Depois de uma vibração incontida, principalmente dos juazeirenses, ele retorna afirmando: Juazeiro tem uma história feita a várias cabeças, de homens e mulheres que fizeram a diferença. Resta-nos resgatá-la. O meu entusiasmo foi tão grande que, mesmo sendo ali o de menor conhecimento, porém contando com um pouco de experiência, não vacilei em afirmar o que aquele senhor disse. E contei um fato que afirma e reafirma quem é Juazeiro. “No ano 2004 ou 2005, representando o Lions da Bahia, Distrito LA-2, estive em Manaus para participar de um encontro sobre a Transposição do São Francisco, cujo palestrante era o senador Jarbas Passarinho. Ao me apresentar disse que era de Juazeiro da Bahia. Ao encerrar minha palavra, veio em meu encontro um homem franzino, barbudo, de óculos, cabelos grandes (pouse de artista), simpático e me inquiriu: “o senhor é de Juazeiro da Bahia? – Sim senhor. – Sabe que Juazeiro da Bahia é a terra que tem mais artista por metro quadrado? – Não! – Aguarde. Foi, pegou uma cartilha, que tinha curiosidades sobre mais ou menos 300 cidades.  – Tá aqui. abriu e leu.

Depois desse encontro, colhi  informações com amigos (as) mais idosos (as),  passei a me perguntar: quem é Juazeiro? Patenteei : É a terra dos diferentes, mas possíveis – Mestre Alfredo, o exímio marceneiro; Ledo Ivo, o elevado escultor; Família Cardoso (a família símbolo da educação); Targino Gondim, Sérgio do Forró, Raimundinho da acordeom, os reis da sanfona; Manuca, Herkis Felix, destaques no teatro e no cinema; Padre Luna, Joseph Bandeira, poetas e grandes oradores; Joaquim Barreto, o escritor; Bolivar Santana, escritor, orador e político com P maiúsculo; Osvaldo Benevides, o criativo empresário da comunicação; Miécio Caffé, cartunista com bico de pena, considerado um dos melhores do mundo; Lília / Hélia / Lize Caffé, professoras de inglês,  piano e canto; Sam Duarte, pintor por excelência, de grandes personalidades; Euvaldo Macêdo Filho, o bisturi da fotografia dos ambientes; Edésio Santos/Urbano, destaques nas cordas do violão e cavaquinho; Dozinho, Artur Lima, Caboclinho, Zé Rapadura, Daniel Alves e Luiz Pereira , os mágicos com a bola no pé; um time de craques na educação e cultura: Professores: Judite Leal Costa, Aidê Fonseca Falcão, Guiomar Lustosa Rodrigues, Bebela, José Pereira,  Graciosa, Cremildes Brandão, Rivadávio Espínola Ramos,  Cândido etc. etc.

Luiz Galvão, Ivete Sangalo, o incomparável João Gilberto,  os cristalinos da voz.

E concluí: Juazeiro é uma Roma; Juazeiro é uma cidade alegre; Juazeiro é uma cidade acolhedora; Juazeiro é uma cidade que debulha carinho e fraternidade; Juazeiro é uma cidade que ouve com quatro ouvidos e vê com quatro olhos; Juazeiro tem história, marco da vida. Quem não tem história não existe.

 Faço minhas as palavras do Pe. Luna pedindo por Juazeiro:

“Senhora das Grotas, tome conta de Juazeiro.

Acompanhe sua infância e Juventude. Ampare seus filhos. Inspire seus dirigentes. Promova seus pobres. Liberte seus oprimidos. … Guarde o tesouro do seu passado. E cubra de muito progresso o seu futuro.

“Para que juntos cantemos na glória

Com voz pura sublime e altaneira

Em transporte de amor à vitória

De tão santa e imortal padroeira”.

“Há quem viva nesta vida

poupando tudo que tem,

se preocupando em deixar

carro, casa, outro bem.

Mas lhe digo uma verdade:

bom mesmo é deixar saudade

no coração de alguém”.  

Juazeiro deixa saudade

no que chega e no que sai,

no que fica e no que vai.    

Querida Juazeiro, você será sempre eterna, como Roma. Será sempre simples, festiva, acolhedora, estreita como nossas veias, porém carregando o sangue que alimenta a vida.

 Mário Gomes/Leitor

Artigo do leitor: “Quando os homens se reúnem, perdem a sensação de sua fraqueza”

  1. Ângela Duarte disse:

    Belo texto, mas não há como mensurar o que é expressado por paixão (e nesse aspecto, Juazeiro é grande).
    O que o juazeirense quer é desenvolvimento. Nilo Coelho sozinho (ou Osvaldo; ou Fernando) foram mais importante que todos juntos de Juazeiro.
    Enquanto a veia artística se destacava na margem sul do São Francisco; a força política e o empreendedorismo se desenvolviam na outra margem.
    Como duas criaturas diferentes, Petrolina e Juazeiro precisam vencer suas diferenças e declarar amor uma a outra; precisa dizer que SE dependem para uma felicidade maior. Não ousarei comparar Roma a Dubai, ambas têm brilho. Uni-las é o desafio e o meu querer…

    1. Defensor da liberdade disse:

      Política não é empreendedorismo, é parasitismo…

    2. Defensor da liberdade disse:

      Aliás as primeiras mudas de uva que aqui chegaram não foram pela mãos dos Coelhos, o projeto implementado previa outros produtos tradicionais e de baixo valor agregado.

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