Artigo do leitor: O comício de Dr. Nilo e as “meninas” da Vila Balão

por Carlos Britto // 20 de fevereiro de 2021 às 07:00

A história de Petrolina registra momentos marcantes. Alguns, no entanto, são desconhecidas para o grande público. Flávio Cabral, petrolinense da gema e bom contador de causos, tem sempre boas histórias. Acompanhem essa.

O comício de Dr. Nilo e as “meninas” da Vila Balão

Na campanha política para Senador, em 1978, Dr. Nilo Coelho resolveu fazer o encerramento na sua querida Petrolina. A eleição seria no dia 15 de novembro e o calendário eleitoral determinava que só poderia haver comícios até 48 horas antes do dia do pleito. Foi armado um grande palanque em frente a loja “A Principal” dos irmãos Abdísio e Antônio Macedo. A atração artística ficou a cargo do cantor Nelson Gonçalves, que veio de Salvador no carro com Lauro Coelho. A Praça Souza Filho estava lotada e não parava de chegar gente.

Quando já estava quase na hora de começar eu estava com Ricardo Coelho percorrendo a área onde estava o público, buscando parâmetros para calcular a quantidade de pessoas, Dr. Geraldo mandou nos chamar. Subimos no palanque e ele nos disse: “chegou um portador de Socorro da Vila Balão me comunicando que as meninas querem vir para o comício. Já providenciei o transporte para trazê-las”. É bom lembrar de que naquela  época não havia celular. O portador fazia as vezes, levando e trazendo os recados.

Socorro era uma grande amiga de Dr. Geraldo, que, há muito tempo, lidava com “casa de tolerância”. Quando Dr. Geraldo foi prefeito (1973/1977) ela conseguiu com ele transferir o “tombadim” que funcionava em condições sub-humanas, perto da antiga Estação da Leste, chamado de “João Bernardo”, para a “Vila Balão”, que ficava numa área perto da Avenida da Integração, onde hoje é a Panvolks. Socorro trabalhou em todas as campanhas de Dr. Geraldo Coelho para Deputado Estadual.

Fomos até a esquina do Edifício Borges, onde estava estacionada a “Mercedinha 608” da Dibepel. Lá encontramos o motorista Egídio, que era lateral esquerdo do Palmeiras, que nos conduziu até a Vila Balão.

 Apesar de ainda ser cedo a noite estava animada. Os homens bebendo, as mulheres circulando, uma radiola de ficha tocando músicas pertinentes ao ambiente. Uma noite típica de um “bordel” de uma cidade do interior.

Assim que nos viu Socorro foi ao centro do salão, bateu palmas e exclamou: ”Hoje aqui não tem função! Vai ter o comício de Dr. Nilo Coelho lá na Souza Filho e Dr. Geraldo mandouseu filho nos buscar”.

As “meninas” foram saindo do salão e se dirigindo para a mercedinha.

Socorro logo identificou um problema: e as três grávidas que não podem subir na carroceria? A solução veio rápida: o táxi (um opala cinza de quatro portas) que atendia aquela comunidade, iria levar e trazer as gestantes. Durante todo o trajeto as meninas não pararam de cantar um minuto: “Nilo, Nilo, Nilo, é o nosso candidato para Senador”…

Estacionamos entre a Praça Dom Malan e o Palácio Episcopal, e elas foram em bloco para o comício. Como eram mais de vinte pessoas a chegada chamou a atenção de todos. Se posicionaram bem na frente do palanque, na chamada “turma do gargarejo”, Socorro fez sinal de positivo pra Dr. Geraldo, que respondeu efusivamente.

O comício começou, vários oradores usaram da palavra  e Dr. Nilo, vestido de calça de Mescla Renaux azul e camisa branca, encerrou com um belíssimo pronunciamento.

Nelson Gonçalves começou o show cantando “Caminhemos”: “Não, eu não posso lembrar que te amei”… e o público foi ao delírio. As músicas se sucederam e o petrolinense, apesar da fama de contido, interagiu com o cantor durante todo o show.

Depois do comício, eu e meu amigo Ricardo Soares Coelho (i.m), levamos as meninas de volta à Vila Balão. Saímos de lá com a certeza de que, naquela noite de novembro do ano de 1978, as moças que exerciam a mais antiga das profissões naquele “randevu”, tiveram alguns momentos bem diferentes da sua rotina diária.

Flávio Cabral

Artigo do leitor: O comício de Dr. Nilo e as “meninas” da Vila Balão

  1. Petrolinense disse:

    Muito bom, memórias de Petrolina, década de 60, 70, 80 e 90 têm muitas histórias que merecem ser contadas.

  2. Paulo Cabral disse:

    Bela narrativa.

  3. MARTA REGINA GUIMARAES ANGELIM CABRAL disse:

    Flávio Cabral, um dos melhores contadores de causos que conheci. Parabéns pelo belo relato.

  4. Petrus Ananias disse:

    Moral da história ou estória: é daí?

  5. José Roberto Dos Santos disse:

    Olá, sou o José Roberto, petrolinense e morador de Petrolina até 1995. Atualmente tenho 43 anos, más já moro em São Paulo faz 24 anos. Eu morava na rua Triunfo, bem pertinho da antiga vila balão… lembro que, quando criança, ía com alguns amigos cassar passarinhos de estilingue bem pertinho da vila kkk.. e via algumas meninas e senhoras em frente das suas casinhas simples. Era um local de muita pobreza e até perigoso para ser frequentado. Enfrente à vila, onde hoje tem o parque municipal Josefa Coelho, era uma mata fechada perigosíssima.

  6. Francisco Lopes disse:

    Parabéns, Flávio Cabral, belas lembranças da nossa cidade. Bem que você poderia presentear a nossa Petrolina com um belo livro de memórias! Eu seria o primeiro a adquirir um exemplar.

  7. Cláudio+Robério+Amorim disse:

    Muito bom, a história de Petrolina contada em causos, 1978 o ano em que nasci, será esse o motivo, será? Rsrsrsrs

  8. Bingo disse:

    Eu era menino e estava lá. Era inocente para captar a presença das não donzelas, mas de todo resto, tudo bate.
    Ótimo Flávio, assim que se faz a história.

  9. Risoneide Brito disse:

    Belas lembranças,mesmo menina já ouvia falar dessa casa ,agora quero algo sobre André do cavaquinho

  10. Gilmar Tomaz disse:

    show de bola !!!

  11. abner de oliveira vasconcelos disse:

    É boa sugestão a do nosso amigo Francisco Lopes, fico na torcida para que o amigo Flavio considere, garanto que o segundo exemplar será meu.

  12. João Ferreira mudo disse:

    Não sou se Petrolina, mas chegue aqui em março de 1968, morando na rua Julio de Melo 259, vizinho de Silvestre Araujo e Joaquim mão de onca, Peetrolina era uma tranquilidade so, Andre do Cavaquinho ainda assombrava as meninas, podias- dormia na calçada e tudo ceerto, Ela nos tras muitas recordaçoes pitoresticas que a caracteriza como cidade do acolhimento…abs

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