Apenas dormir do lado

por Carlos Britto // 16 de dezembro de 2019 às 23:29

Escrevi esse texto, já tem um tempo. Sinto que é tão real que vale dividir ainda com vocês. Falo da idade que chega, do tempo que passa e da minha completa convicção que a gente nasce, cresce, corre e sempre quer voltar para o mesmo lugar: o ponto de partida.

Para minha felicidade agora (o que seria frustrante há alguns anos) eu continuo o mesmo. A vida, que nos oferece perdas e ganhos, se mostra uma experiência fantástica todos os dias. Aliás, chegar até aqui, foi uma história bacana e construída dia após dia. E nada frustrante.

Uma vez vi uma reportagem da Rita Lee conversado com o Tom Zé, em que falavam da tristeza de chegar aos anos dois mil e ninguém usar roupa prateada e nem andar por aí em naves que funcionariam a energia solar. Não penso nisso, mas reclamo da falta de valores.

Como base de família aprendi a conviver com integridade e lealdade. Nasci no tempo, e fui criado num ambiente, onde a palavra valia e respeito era via de regra. E isso tem que valer. E por que não?

Sou do tempo da Emaaf, onde tínhamos medo da diretora Mary Belgium olhar nossas orelhas que poderiam não estar tão limpas ou nossas unhas revelassem a falta de cuidado. Lembro das várias histórias de que ela faria os alunos tirarem a camisa da escola, se encontrados em bar.

Era expulsão sumária.

Nossa velha camisa da farda, por cima da antiga calça surrada, poderia parecer medíocre, nunca nosso comportamento ou nossas notas.

Não aceito o rótulo de nostálgico. Contudo, levo comigo acontecimentos e pessoas, e os uso todos os dias, para exemplificar os caminhos e escolhas que a vida nos impõe todo o tempo.

Guardo com imenso carinho e faço vivas as lembranças. Mas isso é tudo que me permito.

Precisamos mesmo é avançar. Buscar novos horizontes, quebrar paradigmas, cair e levantar diversas vezes. Amar o tempo inteiro.

Amor de verdade, que é démodé, antigo, arcaico ou atrasado para alguns, mas que está a cada dia mais em alta. Mais presente e mais atual.

A busca de ser feliz é um desafio e luta diária. É preciso acreditar nessa possibilidade real e enxergar as oportunidades em meio às adversidades que se mostram às vezes muito maiores.

Problema pode ser apenas um ponto de vista, uma vírgula para que possamos transpor as dificuldades e buscarmos a tal felicidade, valorizando ainda mais o que nos oferece o destino.

A vida, que se mostra um fardo em diversos momentos, revela também prazeres indescritíveis como o que acontece nesse momento aqui, no final desse texto. Depois de um dia super longo, de muito trabalho, aonde o corpo vai à exaustão, ao meu lado meu filho insiste para que vá com ele. Quer apenas dormir ao meu lado.

Penso que o amor ronda agora meu espírito e aguarda o tempo exato para entrar em sua plenitude para consagrar esse momento. Vigilante.

O meu filho, agora com mais sono ainda, não desiste e parte para o ataque final.

-Vamos papai, já estou com muito sono. E não consigo mais esperar.

-Já vou meu filho. Estou desligando o computador. Já terminei de escrever!

Carlos Britto

Apenas dormir do lado

  1. Robson Almeida disse:

    Saudade de quando eu dizia a minha mãe que estava com insônia e ela pedia para eu deitar do lado dela. Diante de tanto amor e segurança, eu dormia imediatamente.
    Parabéns, Carlos Brito. Eu sei o que seu filho queria.

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