Dez mil desempregados no Vale do São Francisco

por Carlos Britto // 11 de janeiro de 2009 às 13:45

Frutas no chão e trabalhadores rurais sem emprego. É o reflexo da crise econômica mundial nas fazendas do Vale do Rio São Francisco, norte da Bahia.Depois de mostrar a queda nas exportações da indústria, o BATV apresenta a realidade do agronegócio. Dez mil pessoas já foram demitidas na região que é a maior exportadora brasileira de manga e uva. A produção que deixa de ser vendida acaba sendo jogada fora. A trabalhadora rural Cleonice Gonçalves arruma a sacola para voltar para casa. É uma despedida forçada depois de se dedicar 15 anos ao trabalho numa fazenda. ‘Não gosto de pensar porque já chorei muito. Eu penso em mim e penso nos outros. Tudo na minha casa depende daqui, depende do meu salário, lamenta. Numa empresa de exportação de uva, em Curaçá, norte da Bahia, todos os 260 funcionários cumprem o aviso prévio. O local onde as frutas eram tratadas está desativado. Os 18 hectares de área plantada da fazenda devem ficar, em pouco tempo, devastados. Por causa da crise internacional, nos últimos três meses, dez mil pessoas ficaram desempregadas nas fazendas do Vale do São Francisco. Segundo a Câmara de Fruticultura, outras 50 mil foram dispensadas dos trabalhos temporários neste período de entre safra.  No ano passado, as fazendas do Vale do Rio São Francisco exportaram para os Estados Unidos e Europa, 105 mil toneladas de manga e 65 mil toneladas de uva.

Dez mil desempregados no Vale do São Francisco

  1. Pe. Antonio disse:

    A propósito da situação do desemprego no Vale do São Francisco gostaria de jogar um pouco de luz para que procuremos entender a origem da crise pela qual passa o mundo e que está chegando com força violenta em nossa região. É a contradição do capitalismo neoliberal. Pois lembro que Dom Helder dizia que o Capitalismo é intrinsecamente perverso, tem dessas coisas, provoca tudo isso. Vivemos hoje um tempo de profundas contradições e, sobretudo, de uma inaceitável situação onde o avanço científico e tecnológico é ordenado e apropriado pelos detentores do capital em detrimento das mínimas condições de vida de mais de dois terço dos seres humanos. As reformas neoliberais, cujo objetivo é de liberar o capital à sua natureza violenta e destrutiva. Essas reformas abortam as imensas possibilidades do avanço científico de qualificar a vida humana em todas as suas dimensões.
    A crise que vivemos hoje é conseqüência deste retorno violento ao livre mercado e ao capital livre de qualquer regulamentação. Esse tempo assustador é denominado por Viviane Forrester como “error econômico”. É tempo de ampliação do desemprego, do trabalho precário e de uma situação de permanente angústia e insegurança daqueles que, para sobreviver, têm apenas sua força de trabalho para vender. Quem tiver tempo e disposição para ler veja o que diz FORRESTER, Viviane. “O Horror Econômico”. São Paulo, Editora da universidade Estadual Paulista, 1997. Nesta obra, a autora os problemas do trabalho e do desemprego, um sofrimento humano como sabemos, nos persegue até os dias de hoje . Vivemos em meio a um engodo magistral , um mundo desaparecido , que teimamos em não reconhecer como tal e que certas políticas artificiais pretendem perpetuar .
    Milhões de destinos humanos são destruídos, aniquilados pelo mais sagrado tabu: o trabalho. A autora argumenta no livro que o trabalho funda a civilização ocidental, que comanda o planeta. Nossos conceitos de trabalho e , por conseguinte , de desemprego , em torno dos quais a política atua ( ou pretende atuar), tornaram-se ilusórios e nossas lutas em torno deles , tão alucinadas quanto as do Quixote contra os moinhos . Segundo a autora, participamos de uma nova era. E o pior, argumenta, sem conseguir observá-la, sem admitir e nem sequer perceber que a era anterior desapareceu. O sofrimento humano, um sofrimento real, gravado no tempo, naquilo que tece a verdadeira história sempre ocultada. Sofrimento irreversível das massas sacrificadas. Em outros termos, sofrimento de consciências torturadas e negadas uma por uma. Quanto ao desemprego, fala-se dele por toda parte, hoje, entretanto, o termo acha-se privado de seu verdadeiro sentido. São feitas laboriosas promessas, quase sempre falaciosas, que deixam entrever quantidades ínfimas de empregos.
    Milhões de pessoas lutam contra o desemprego, sozinhas ou em famílias, para não deteriorar-se, nem demais nem muito depressa. Sem contar inúmeros outros na periferia, vivendo com o temor e o risco de cair nesse mesmo estado. Não é o desemprego em si que é nefasto, mas o sofrimento que ele gera e que para muitos provém de sua inadequação aquilo que o define, aquilo que o termo desemprego projeta, apesar de fora de uso , mas ainda determinando seu estatuto .
    Um desempregado, hoje, não é mais objeto de uma marginalização provisória e sim objeto de uma lógica planetária que supõe a supressão daquilo que se chama trabalho , vale dizer, empregos . O social e o econômico pretendem ser sempre comandados pelos intercâmbios efetuados a partir do trabalho; este último desaparece rapidamente. Os desempregados vítimas desse desaparecimento são tratados e julgados pelos mesmos critérios usados no tempo em que os empregos eram abundantes. Eles se criticam, como são criticados, por viver em uma vida de miséria ou pela ameaça de que isso ocorra .Uma ínfima minoria , munida de poderes , de propriedades e de privilégios, detém o direito à vida , enquanto o resto da humanidade , para merecer viver , deve mostrar-se útil a sociedade, ou seja , lucrativo. É uma obra a ser revisitada e lida com atenção.
    Lendo e confrontando-a com o que está acontecendo, verificamos assim a veracidade de suas analises. O que escreve no livro se verifica com muita clareza neste tempo de crise econômica mundial. Aqui no Vale do São Francisco.

  2. joão Telê disse:

    Este blog realmente toma um rumo interessante. No processo de informar termina gerando todo tipo de conhecimento. Está ficando uma universidade. Muita gente ainda não se deu conta. O nível está muito bom. Muitos participantes, para não se sentirem um estranho no ninho, vão ter que mudar de nível e de visão e isto é muito bom. Talvez o próprio Carlos Britto não tivesse pensado no tão longe em que está chegando. Veja aí o texto do Pe. Antônio, falando do bem e do mal que o capitalismo é capaz de trazer. Em resumo, o egoísmo peculiar ao homem cria a raça e a sub-raça num processo destruidor da humanidade, nas pessoas, nas instituições e nos países. As diferenças têm que existirem, até como uma forma de promover o crescimento, mas não estamos conseguindo o respeito aos limites, cuja ultrapassagem compromete o desenvolvimento do mundo com justiça social. Esta e as outras crises, no fundo, no fundo têm a mesma origem.

  3. Pe. Antonio disse:

    No fim de um dia de trabalho, volto ao blog e percebo com muito contentamento que Carlos Brito abriu espaço para que pessoas inteligentes e comprometidas com com a construção do conhecimento e da democracia partilhem visões, opinião e contribuam para elevar o nivel cultural de nossa região. João Telê, o que podemos fazer para que mais pessoas como você participem e dêem sua contribuição! Vamos elevar o nivel do debate no blog, dicutindo mais déias, projetos e realidade social e menos pessoas.

  4. serginho disse:

    é isso ai um blog que tras um vasto conhecimento acho que sou o mas novo que acesso constantemente o blog com 22 anos . mutio bom o blog

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