Artigo do leitor: “A insistência na mentira da geração de emprego em Juazeiro”

por Carlos Britto // 25 de janeiro de 2017 às 18:30

A recente divulgação feita pela atual gestão de Juazeiro (BA) sobre o número de empregos gerados no município não condiz com a realidade. Pelo menos é o que garante o economista Antonio Fonseca Fraga. Neste artigo enviado ao Blog, ele afirma que a prefeitura “insiste numa mentira” criada pela publicidade governamental e divulgada na mídia.

Confiram:

A Prefeitura de Juazeiro tem usado sistematicamente e de forma intencional a mentira estatística para mostrar um desempenho de governo eficiente e com dados positivos sobre a economia do município. No governo anterior, e agora nesse, são investidas somas altíssimas dos recursos municipais para divulgar em mídias de rádio, blog e TV dados sobre a rotatividade do emprego na cidade, dados que dizem pouco sobre a realidade do trabalho e dizem muito menos sobre a real situação do emprego no município.

São argumentos que não resistem a uma simples análise. Qualquer cidadão que atentar para esses números, mesmo sem ser perito da área, perceberá que o dado é extremamente revelador da pobreza do município. Há números que se prestam muito à mentira. Esse dado de geração de emprego em Juazeiro é um deles.

O conceito de desemprego adotado pelo IBGE é muito restrito. Na verdade ele toma apenas o conceito de empregado com carteira assinada, e não traz nada mais sobre os que são ocupados e os sem ocupação. Um catador de lixo em atividade está ocupado. Portanto, não é um desempregado. Mas, o que é um catador de lixo, senão um ser vivendo no próprio abismo do desemprego? A propaganda mascara a gravidade desse problema em que envolve o desemprego, a ocupação informal e a desocupação.

Entretanto, o mesmo IBGE traz outros números que podem esclarecer esse fato: Juazeiro tem hoje 38.000 pessoas empregadas entre os setores público e privado, ou seja, pessoas que recebem salários mensais. E tem 43.000 pessoas ocupadas em outras atividades que agrupam os profissionais liberais, empresários, pecuaristas, agricultores, ambulantes, moto-taxistas, taxistas, catadores de lixo, vendedores de amendoim, acarajé, sanduiche, espetinho, donas de casa etc.

Juazeiro tem no total, portanto, 81.000 pessoas trabalhando. Só que dentre os trabalhadores assalariados vamos tirar os funcionários municipais, que são 9.000, 2.500 estaduais e 1.000 federais. Vão sobrar 25.500 trabalhadores com carteira assinada na iniciativa privada, porquanto é esse universo que o IBGE trabalha. Pois bem, vamos analisar agora o que aconteceu com esses trabalhadores no ano de 2015 e 2016:

a) em 2015 foram admitidos 16.711 e demitidos 18.271, com uma perda de 1560 postos de emprego.

b) em 2016 o saldo foi positivo em 1.269, assim recuperou parte da perda, mas ainda segue com 291 postos a menos. Veja aí o absurdo da alta rotatividade: em um universo de 25.500 empregados, houve troca de quase 70% dos postos de trabalho.

O que revela essa alta rotatividade no emprego? Que o emprego tem sido basicamente de pessoas com baixa qualificação profissional, são empregos temporários, que é típico na construção civil, na agricultura, no setor de serviços os mais elementares etc.

A análise prossegue com o conceito de População Economicamente Ativa (PEA), que no Brasil gira em torno de 65% da população, permitindo deduzir que Juazeiro tem 145.000 pessoas aptas ao trabalho, mas somente 81.000 são empregados e ocupados. Ou seja, 64.000 pessoas em nada se ocupam. E isso é justificado pelo grande número de famílias no Programa Bolsa-Família, que em número exato de dezembro de 2016 era de 48.982 famílias.

São famílias com renda per capita entre R$ 85,00 e R$ 450,00, onde muitas dessas famílias têm no programa a única fonte de renda. Olha que dramático! Isso é o retrato da extrema pobreza que vive essa cidade. A propaganda é muito loquaz, mas a realidade é dura e diz muito mais. A introdução da economia no exercício político é papel essencial de governo, que deve buscar formas de facilitar a geração de renda para as pessoas, valorizar os seus patrimônios através de melhorias na cidade, nas ruas, nos serviços, no saneamento etc.

Isto é, ter em relação aos habitantes e ao bem-estar nada mais que uma forma de apoio. Mas a verdade é que a Prefeitura não possui estratégias definidas para geração de renda no município. Não cuida sequer dos espaços públicos de feiras, não há programas de treinamentos e profissionalização, não há programas de apoio à atividade da pequena indústria, da pecuária, do processamento de produtos alimentares. Nada!

Nada que possa evitar a alta mobilidade no emprego, que decorre do que se chama de desemprego estrutural, advindo da defasagem entre o nível técnico exigido e a baixa qualificação profissional do trabalhador, não se preocupa jamais em qualificar o trabalhador em profissões que lhe assegurem maior permanência no emprego.

Esse quadro de miséria favorece pouco a pouco a formação do discurso da filantropia, o discurso da construção da Minha Casa Minha Vida, o discurso da Bolsa Família, enquanto falha na escolarização das crianças e dos jovens, na manutenção dos serviços de saúde, na manutenção da limpeza da cidade, nos investimentos em equipamentos urbanos. A verdade é que utilizam de vários discursos. Entretanto, não é capaz de propor ou conceber melhorias para a cidade no longo prazo. São meros repetidores de frases formatadas, enquanto grassa a miséria nas periferias e no interior. Essa é a estratégia que permite aos que governam ser a classe burguesa e exercer sua dominação sobre essa pobreza mendicante, na verdade, criando ilhas de poder para ser disseminadas entre os pares.

 Antonio Fonseca Fraga/Economista

Artigo do leitor: “A insistência na mentira da geração de emprego em Juazeiro”

  1. Bia disse:

    So o Pheeling acredita

  2. Joaseiro disse:

    Até que enfim um ser pensante nesta cidade. Não retiro uma vírgula no que disse.

  3. Marcio disse:

    Artigo perfeito

  4. Feeling 2 disse:

    Nossa mano, deixa de inveja hahaha o cara quer contrapor com números que fogem da metodologia do Ministério do Trabalho achando que foi a Prefeitura quem criou os dados hahahaha Cara os números estão lá. Entre no Caged e baixe a lista de todos os municípios em relação ao SALDO de empregos. E foi fato, em 2016 enquanto Juazeiro inaugurava shopping, virava um canteiro de obras com pavimentação, saneamento, empresas chegando ao Distrito Industrial etc… Petrolina se enchia de baronesas hahaha Menos, bem menos! Até porque quem divulgou foi o MTE e quem propagou foi a imprensa nacional G1, Veja, Exame, Terra, JC, Diário etc.

    1. carlos disse:

      É Feeling, os olhos vêem, más a língua esconde…

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