Um adeus fora de hora

por Carlos Britto // 28 de abril de 2024 às 22:00

Fiquei na dúvida se deveria escrever esse texto. Eu não era muito próximo de Rafael Coelho. Mas a relação era respeitosa e fraterna. Eu sabia mais dele do que ele pensava. Não foram as poucas as vezes que Dr. Augusto (com esse falo diariamente) se dirigia a ele com a graça e admiração peculiar.

“Pai, o povo muda de calçada quando te vê. Você pede muito para esse hospital”, ele me dizia que o filho ralhava com ele, fazendo graça.

“Para de entrar em confusão de graça, você não tem nada com isso”, cobrava Rafael. E ele achava graça.

Os Coelhos quase nunca são unânimes. Mas que Rafael era unanimidade, bússola e porto seguro para todos eles, não há contestação.

“Vem gente da família de todo lugar. Sem intimidade, com ou sem liga, mas a família se uniu na dor e no tamanho da perda. Ele era ponte entre todos nós”, me disse Luiz Eduardo, meu amigo Duca, entre respiração ofegante e soluços.

Os três filhos estavam perfilados para receber os cumprimentos de todos. Ao lado de uma mãe contida e gritando por dentro, apenas balbuciavam frases soltas de agradecimento. A perda foi grande demais para qualquer ação ou reação.

Petrolina nunca mais tinha visto uma comoção desse tamanho. E por alguém que passava à margem da política, mas pedalava como os comuns em sua bicicleta simplória e sem grife, buscando o oxigênio que lhe faltou no final.

Érica, a esposa, apenas me disse que, do tamanho de sua humildade: ele Rafael, acharia que tanta gente, tanta manifestação, seria um exagero. Dona Marisa, a mãe, só observava com um olhar perdido para uma cena dura demais para qualquer mãe. Impossível demais.

Difícil escrever um texto desse tamanho, fugindo da pieguice e dos clichês. Da mesma forma que é impossível não se emocionar ou contar esse epitáfio duro, como se cada frase não dilacerasse a alma.

Continuo achando que pais não nasceram para enterrar filhos e toda morte é perda irreparável, mas algumas me parecem precipitadas e injustas, mesmo que eu seja um mero comum que apenas escreve um texto.

Rafael diria, em sua frase marcante: “Amanhã será melhor”.

Nesses momentos sempre lembro de uma música de Eric Clapton que escreveu em frangalhos a canção Tears in Heaven, que em tradução livre diz:

“Se eu te visse no céu?
Será que as coisas seriam iguais?
Será que você seguraria na minha mão?”

Carlos Britto, em um domingo triste demais

Um adeus fora de hora

  1. Jose Florencio Coelho Filho disse:

    👏👏👏👏👏

  2. Que Deus o tenha em um bom lugar, pois era digno e merecedor de tal bonificação.

  3. antonio luna alencar disse:

    Carlos, um texto sucinto, muito verdadeiro escrito com o falar do coração.
    Parabéns

  4. antonio luna alencar disse:

    Carlos , parabéns pelo texto m homenagem a Rafael Coelho. Como voce, tbm não tinha muita aproximação pessoal com ele, mas o suficiente pra reconhecer nele um grande ser humano.

  5. Silvania disse:

    Belissimas palavras, dirigidas paraceste grande homem!!

    Para quem experimentou esta exiatencia com o Raphael…
    Nossa eterna gratidao !!!

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