Engenheiro Agrônomo defende políticas públicas voltadas à agricultura irrigada

por Carlos Britto // 11 de outubro de 2011 às 21:05

Neste artigo abaixo, o engenheiro agrônomo e produtor rural Josival Amorim defende políticas públicas permanentes voltadas à agricultura irrigada.

Confiram:  

A Agricultura Irrigada precisa ser repensada

Sarney, quando presidente, veio a Petrolina para lançar o programa de um milhão de hectares irrigados. Na mesma visita inaugurou as instalações da fábrica Dantas Irrigação. Uma bela estrutura no Distrito Industrial de Petrolina. Muito dinheiro ali aplicado. Até hoje não funciona. Aquela indústria se justificava pela magnitude do programa lançado para irrigação, naquela época. Naquele dia, houve a maior concentração de deputados e senadores que eu já vi fora de Brasília.

Ainda bem que aquele programa não aconteceu. A área irrigada daquela época não era muito diferente da atual, com cerca de 200.000 hectares em funcionamento normal. O prejuízo foi menor assim.

Qualquer plano tem que está em sintonia com as condições locais, mas também com o contexto geral. Tudo precisa está contemplado. Os fatores de produção, como terra, água, clima, mão de obra, recursos financeiros e vontade política são imprescindíveis para um plano deste tipo. Todavia não se pode visualizar, somente, as necessidades da produção, do emprego e renda. Há que ajustar tudo em função do mercado, porque o comprador sempre quer o melhor e o mais barato. Tem que se ter conhecimento da concorrência em cada mercado consumidor, sobre cada produto que se pretende produzir. Se há viabilidade técnica, mas se a econômica está comprometida, precisamos identificar os gargalos e resolvê-los.

O Brasil é muito amplo e diversificado. Um planejamento agrícola em cima de um zoneamento bem feito, no tempo e no espaço, é imprescindível. Não adianta querer produzir numa região A o que somente se produz, com menor custo, na região B na mesma época. Pelo mapa climático esta situação pode até se inverter de uma época pra outra. Com a economia globalizada, há de se considerar também a concorrência externa. Em determinado momento é mais barato para o país importar determinado produto, ao invés de produzi-lo. Se o preço de aquisição é tão inferior ao custo da produção própria, Por que então não pagar ao nosso produtor para não produzir aquele produto, naquele momento?

Não me esqueço da época do presidente João Figueiredo, quando lançou a campanha do preço mínimo “Plante que o João garante”. Ao mesmo tempo, o governo da França lançou a campanha “Não plante que o governo garante”. Tratava-se de uma expectativa de super oferta de beterraba por outros países da Europa.

Portanto o governo tem que se convencer de que uma economia livre não pode ser confundida com a liberdade absoluta das pessoas em produzir o que quer, quando, onde, quanto e como quer. O produto Agropecuário resulta de processo da criação, uma vez que partimos de uma semente e geramos uma árvore, uma erva ou um arbusto. Conseguimos isto usando a luz natural, o calor e a atmosfera. Não temos isto tudo gratuitamente, porque a natureza insiste em dividir tudo com outros seres vivos que ela precisa manter, tais como fungos, bactérias, insetos e outros. Neste processo todo, nós agredimos a natureza com desmatamento, queimadas e agrotóxicos.

Numa ação reativa esta mesma natureza que dá, também tira com intempéries ou, violentamente, por catástrofes.

Todavia os insumos, a tecnologia e os serviços que se aplicam na convivência com a natureza, e em prol da produção agropecuária, imprimem um custo maior ou menor, dependendo da política econômica do país onde ocorre a produção. Muitos insumos, equipamentos e serviços têm origens em outras regiões e em outros países. Então, o prejuízo que toma o produtor na sua atividade impacta também contra a economia como um todo.

O governo tem uma estrutura técnica que, bem ajustada, pode exercer o controle, acompanhamento e assessoramento devidos ao setor primário. O planejamento Agrícola competente não pode prescindir da ação e coordenação oficial do governo. Na sua execução precisam-se normas próprias e bem administradas. Os tratamentos diferenciados para o setor são imprescindíveis às compensações das nossas desvantagens, diante de países concorrentes onde os custos são bem inferiores ao custo Brasil. Historicamente, quando se facilitou muito a vida de produtores faltou controle nos incentivos. Lembro-me quando se colocou dinheiro a fundo perdido para reflorestamento. Muita gente importante reflorestou uma área enorme, somente no papel. No terreno, ou plantou e não cuidou ou não plantou. Mas o dinheiro foi realmente pelo fundo perdido. Hoje em dia o controle destas coisas é bem mais fácil.

Em resumo, um planejamento em cima de um bom zoneamento agrícola neste país é um desafio que se tem de enfrentar. Fácil não é, mas alguém precisa iniciar esta luta.

Tudo deve ser feito para viabilizar a agricultura irrigada, porque ela é importante na sustentabilidade do semiárido nordestino.

Precisamos, sim, expandir a área irrigada contanto que, ao mesmo tempo, se não antes, resolvam-se os gargalos que inviabilizam a atividade. Do contrário somente se estará ampliando problemas ao invés de se viabilizarem as soluções.

A própria agricultura familiar, irrigada ou não, precisa ser auto sustentada, do contrário não libertaremos tantas famílias da indignidade em estarem sempre dependentes das chamadas ajudas sociais, como se vivessem uma catástrofe após a outra. As coisas não devem ser “malfeitas”, porque os consertos, além de serem mais caros, deixam sempre sequelas irreparáveis.

Josival Coelho de Amorim/Engenheiro Agrônomo

Engenheiro Agrônomo defende políticas públicas voltadas à agricultura irrigada

  1. givaldo disse:

    Otimo texto muito sábio os comentários , mas faço uma ressalva hoje o vale do são francisco é uma das regiões mais prosperas do nordeste e tudo graças ao desenvolvimento de tecnologias próprias e desenvolvimento de pequisas claro que o lado econômico deve ser levado em conta sim sempre, mas o lado social e a razão de ser do estado e o vale do são francisco é um exemplo de reforma agraria que esta dando certo, mas é de se levar em conta as afirmativas do autor de devemos sim fazer um revisão da irrigação como um todo.

  2. Edson Lins disse:

    Magnífica abordagem sobre irrigação e produção agrícola. Você é uma das pessoas que deveriam estar inseridas no Conselho Nacional de Irrigação. Senão vejamos: 1 milhão de hectares irrigados sem noção de cultura favorável financeiramente, sem definir quais áreas deveriam ser contempladas, sem analisar o que o mercado necessitava em termos de consumo. Então, hoje, o Vale do
    São Francisco peca e muito na tentativa de “querer ter lucro” sem analisar que, por exemplo, o coco, dá sempre a sensação de que ele tem saída, tanto in natura como processado e envasado, aí todos querem plantar coco. Hoje, concordando com o engenheiro que publicou o artigo, existe uma racionalização do plantio. Vemos a
    Embrapa testando outras culturas, como pera, maçã e outras de clima diferentes. Resumindo: o Vale tem sempre que se antenar com o mundo.

  3. Maria disse:

    Sr. Josival, o problema não é a política econômica, o problema são os espertalhões que aqui chegam para tirar proveito e benefício dessa mesma política econômica e vão embora deixando somente o estrago feito e rindo da cara daqueles que querem a seriedade. Veja as indústrias que aqui se instalaram: pegaram os benefícios, colocaram nos bolsos e contas no exterior, foram embora e deixaram a região a ver um parque industrial sucateada.
    Temos que combater esses espertalhões, verdadeiros cupins, parasitas com leis severas e que sejam cumpridas.

  4. Jose Neto de Amorim disse:

    Josival,

    Parabéns pelo excelente artigo!

  5. Sheila Flores disse:

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