Pesquisas acadêmicas resultam em livros que pautam o Semiárido

por Carlos Britto // 16 de outubro de 2018 às 18:21

O semiárido brasileiro tem sido objeto de estudo para várias pesquisas acadêmicas. Recentemente foi realizado o 8º Workshop Nacional de Educação Contextualizada para a Convivência com o Semiárido, realizado entre 3 e 5 deste mês, no Departamento de Ciências Humanas (DCH) III da Universidade do Estado da Bahia. O evento, que teve como tema as “dimensões políticas e pedagógicas da contextualização”, serviu de palco para o lançamento de diversas obras, sendo que, pelo menos três, aprofundam temas fundamentais para a região.

A obra, ‘Território Tradicional de Fundo de Pasto de Bruteiro e Traíra, da pedagoga jaguarariense Adriana Olívia, foi um dos livros apresentados durante o workshop. A obra teve como foco de pesquisa comunidades que hoje têm seu modo de vida ameaçado pela ação de uma mineradora. Segundo a autora, seu interesse pelo tema envolve vários fatores, desde sua origem em uma família que viveu em comunidade de Fundo de Pasto, passando por sua atuação nos movimentos sociais, até sua formação acadêmica e religiosa (baseada na Teologia da Libertação).

De acordo com Adriana, as comunidades que foram foco da pesquisa “estão vivenciando o impacto do capital, que se concretiza em forma de lei, que se concretiza na possibilidade de a mineração extrair o minério daquela comunidade”, denuncia. A autora conta que a pesquisa já foi realizada e foi encontrado minério. “A comunidade se coloca em clima de temor diante disso”, revela.

O livro apresenta estudo realizado em seis comunidades (Ipueira dos Brandões, Ipueira Grande, Mocó, Riacho do Mocó, Traíra e Bruteiro), que têm cerca de 50 famílias e ficam próximas a Sussuarana. De acordo com Adriana, a região foi impactada pela extração do minério e hoje apresenta casas rachadas, o criatório afugentado e a impossibilidade de manutenção do modo de vida das famílias.

A autora diz que o livro é muito importante para compreender um pouco da vida do povo tradicional de Fundo de Pasto, “uma singularidade muito presente aqui no semiárido, um povo numeroso, mas que está ainda na invisibilidade, principalmente quando se trata de políticas públicas voltadas para essa população”, expõe a pesquisadora.

A visão estereotipada do semiárido disseminada pela grande mídia deixa invisibilizada uma região rica, cheia de vida e de viabilidades. A contraposição a essa forma equivocada de expor o semiárido marca a obra “O Sertão que a TV não vê”. Assim como a obra escrita por Adriana Olívia, esta também foi produzido no Programa de Pós-Graduação Mestrado em Educação, Cultura e Territórios Semiáridos (PPGESA). “O livro é resultado não apenas de uma pesquisa de mestrado. Vem sendo construído ao longo dos anos, a partir do exercício no curso de jornalismo da Uneb e da prática de um outro olhar sobre esses territórios”, explica a jornalista e professora Fabíola Moura, autora da obra.

Dimensões

Segundo a jornalista, o livro aponta para um tratamento amplo, que fuja da conveniência de apresentar o semiárido a partir de uma “abordagem que justifica todos os problemas sociais e injustiças no clima”. Fabíola afirma que a obra é baseada nas variadas dimensões do semiárido “e mais próxima da apuração, da verdade, da realidade e como o jornalismo deveria ser, e não baseado no estereótipo, na desinformação e na distorção”, pontua a autora. Outra obra lançada foi o livro “Convivência e Cidade: questões do verde urbano no Semiárido Brasileiro”, que também é fruto de uma pesquisa do DCH III. Organizado pela professora Luzineide Dourado Carvalho, a publicação traz nove artigos que retratam o ambiente urbano da região.

Segundo Luzineide, o livro é resultado de uma pesquisa desenvolvida em três grandes áreas: a geografia – na perspectiva cultural humanística; a arquitetura sustentável e urbanização; e a educação contextualizada para a convivência com o semiárido. Dentro das três grandes áreas foram observados elementos como sistema hidrográfico urbano (riachos urbanos), mobilidade sustentável (que envolve calçadas, ciclovias etc.), microclima urbano, memória do verde, arborização e diversificação da flora, entre outros. O grupo de pesquisadoras/es estudou “como o crescimento urbano no semiárido baiano vem se constituindo nas últimas décadas”, afirma Luzineide.

A organizadora da obra destaca algumas percepções e resultados a partir da pesquisa. “As áreas que têm proteção ambiental se constituem como espaços com maior umidade e temperaturas mais amenas”, revela. A pesquisadora ainda conta que “as pessoas com mais de 50 anos carregam na memória as lembranças de uma cidade marcada por uma diversidade de árvores”, diferente do que temos hoje, com poucas árvores e presença predominantes de plantas exóticas, não adaptadas à caatinga.

O trabalho de pesquisa realizou atividades em escolas, com crianças (do 2º ao 5º ano). Um dos objetivos foi entender como as crianças pensam sua cidade, o que identificam de semiárido, de caatinga no meio urbano. Essa parte da pesquisa gerará uma maquete virtual e um livro para ser utilizado nas escolas. Iniciada em 2012, a pesquisa contou com a participação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do Rio de Janeiro, Laboratório do Conforto Ambiental da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Instituto de Geociências da UFBA, Universidade do Vale do São Francisco (Univasf) e colaboradoras/es de diversos departamentos da Uneb.

Para obter mais informações acerca das obras, basta entrar em contato com as autoras através da Secretaria do PPGESA, que fica nas dependências do DCH III, em Juazeiro. As informações são do IRPAA.

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