O “futebol de resultado” que não deu resultado

por Carlos Britto // 02 de julho de 2010 às 23:03

seleção derrotada

Caro amigo torcedor. Em 1982, na Copa da Espanha, a bela seleção brasileira comandada pelo saudoso Telê Santana encantava o mundo com seu futebol-arte. Toques refinados, jogadas geniais e gols espetaculares eram a marca do escrete canarinho, que infelizmente foi eliminado pela seleção italiana por 3×2 no estádio Sarriá. Os três gols marcados por Paolo Rossi – que, aliás, só jogou bola mesmo contra os brasileiros e em seguida na final, contra os alemães, derrotados por 3×1. Depois sumiu do mapa.

Mas o que interessa é que o triunfo dos italianos sobre os brasileiros modificou, a partir de então, a concepção de ver o futebol. De que adiantou jogar com arte, se o título não veio? Telê e seus comandados carregaram, para sempre, o estigma de fracassados por não terem conquistado o tetra em 82. Pura injustiça.

Tanto Telê quanto os jogadores daquela seleção viriam a ser, posteriormente, grandes vencedores pelos clubes onde passaram. O “futebol de resultado”, por sua vez, espalhou-se pelo mundo como rastilho de pólvora. Na Europa, tudo bem. Os times de lá sempre valorizaram a defesa mesmo, pois não tinham a vocação ofensiva que nós tínhamos.

Mas o pior é que essa concepção chegou até nós. Em 1994, a seleção conquistou o tetra respaldada pelas mentes apequenadas de Carlos Alberto Parreira e Zagallo, que consideravam vitória de 1×0 como goleada. Creio, no entanto, que o fiasco da seleção de Dunga, na África, põe de novo as coisas em seu devido lugar. E mais: corrige uma tremenda injustiça.

Se aquela brilhante seleção comandada por Telê jogou bonito e não levou, o quer dizer então da de Dunga? Não era futebol para dar resultado? Para trazer o hexa? E por que não trouxe? Vale só ressaltar que em 2006, o tetracampeão Parreira, com a mesma mentalidade de 94, também fracassou.

Caro torcedor, se você acompanhou os artigos deste jornalista no Blog, sabe perfeitamente que nunca me iludi com essa seleção. Sempre achei que o elenco de Dunga, aliado à sua concepção covarde e defensivista, poderia dar no que deu. Ele até teve a chance, por 45 minutos, de calar a boca de Cruyff, ídolo holandês de 74, que disse que Dunga “criou a cultura de tratar a bola como inimiga”.

O primeiro tempo da nossa seleção contra os holandeses foi primoroso. Tivemos chances até de ampliar o placar. Mas no segundo tempo, com uma postura retraída, o Brasil permitiu a reação da seleção holandesa, que dominou o jogo, virou o placar por 2×1 – e acabou dando motivos para as críticas de Cruyff.

Esse futebol que vimos hoje (2), definitivamente, não é o da seleção brasileira. Ainda podemos jogar por música, pois temos talentos para isso, sem deixar de sermos eficazes. Com a seleção de Felipão, que nos deu o penta em 2002, foi assim. Fica aqui a lição: não podemos ir contra nossa natureza. Nossa vocação é o futebol ofensivo. Será assim sempre. Essa história de “futebol de resultado” é pura balela. Talvez a partir de hoje Dunga (e qualquer outro técnico brasileiro) nunca mais esqueça.

Por Antonio Carlos Miranda (foto: Reuters/globo.com)

O “futebol de resultado” que não deu resultado

  1. Debora disse:

    A culpa, é claro, foi do Mick Jagger!

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