Logística precária e falta de recursos põem em risco pacientes cardíacos no polo Petrolina/Juazeiro

por Antonio Carlos Miranda // 22 de janeiro de 2025 às 11:59

Foto: divulgação/arquivo

O cenário crítico da saúde pública no polo Petrolina (PE)/Juazeiro (BA) contabiliza mais um triste capítulo. Segundo informações obtidas pelo Blog, pacientes cardíacos da região, em quase sua totalidade, estão sendo transferidos para outros centros urbanos como Recife, Caruaru e Serra Talhada (em Pernambuco), e Jequié e Salvador (na Bahia). O motivo é assustador: as duas mais importantes cidades do Vale do São Francisco estão sem uma logística adequada para o tratamento desses pacientes.

Entre Petrolina e Juazeiro existem três hospitais que prestam serviço de cardiologia. Um deles é a Pro Matre, que está a emergência e o setor de hemodinâmica fechados; o segundo é Hospital Universitário (HU) da Univasf, está superlotado em outras especialidades, possui uma hemodinâmica montada, médicos especialistas, mas não realiza o procedimento de cateterismo; e o terceiro o Memorial, que possui poucos leitos e disponibiliza cateterismo, cirurgias cardíacas e marca-passo. No entanto, a demanda é muito maior do que a oferta.

Em contrapartida, essa realidade poderia estar sendo minimizada, mas algumas arestas burocráticas acabam atrapalhando. É o caso dos leitos fechados na Pro Matre. “São 80 leitos SUS (Sistema Único de Saúde) vazios, enquanto a saúde pública na região vive um caos. O HRJ com 80 pacientes no corredor. HU com outros 100 nos corredores, e o poder público se dá ao luxo de ter 80 leitos abandonados na Pro Matre. São 25 pacientes cardiológicos na fila da regulação aguardando vaga, nesse exato momento”, alertou uma fonte.

Ainda segundo essa fonte, seria possível um número muito maior de pacientes atendidos se houvesse uma organização de transporte capaz de trazê-los e levá-los no mesmo dia para suas localidades, após o exame – como ocorre no Recife. “Apenas em caso de complicações ou de alta complexidade, estes sim, iriam para a UTI”, completou.

Justificativa

Procurada pela reportagem, a direção da Pro Matre esclareceu que vem recebendo do município de Juazeiro os mesmos valores que recebia em 2013. Em 2022, a gestão cortou mais 20%. A Pro Matre foi se arrastando e acumulando dívidas até fechar o setor de emergência e de hemodinâmica, no último dia 20 de dezembro.

O hospital possui capacidade para 90 pacientes, mas hoje tem apenas 8. “O novo secretário de saúde tem boa vontade, mas alega que não tem recurso e que precisará reduzir ainda mais o valor gasto pelo município. Dessa forma, é possível que não haja mais viabilidade pra funcionar. O hospital, que já teve 30 leitos de UTI, recebia 150 infartados por mês, nessa condição, por subfinanciamento. Entra gestão e sai gestão, o discurso sempre converge para a falta de dinheiro. E sem dinheiro, não se faz acontecer um serviço de alta complexidade”, justifica a direção.

A unidade revelou que há um ano essa situação foi repassada para a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), que somente agora passou a se mobilizar. “Espero que façam isso rápido ou não haverá mais volta. O pior de tudo é que estamos falando de algo em torno de R$ 300 mil mensais. Algo que, a meu ver, irrisório para a gestão pública, sobretudo considerando o retorno que traz”, frisou.

Nesta quarta (22) a diretoria da Pro Matre tem reunião em Salvador com a Sesab e também com representantes do município para a busca de um caminho. “A saída é fácil, a meu ver, mas depende de vontade política. O triste disso tudo é que muitas pessoas morreram, posso afirmar isso porque acompanho a lista de regulação”, contou um representante da Pro Matre. As vidas perdidas não poderão ser salvas, mas a resolução desse impasse certamente poderá salvar muitas outras.  O Blog entrou em contato com o núcleo de comunicação do HU-Univasfe aguarda um posicionamento.

Logística precária e falta de recursos põem em risco pacientes cardíacos no polo Petrolina/Juazeiro

  1. Tainã disse:

    Olá. Após ler a notícia fiquei com uma dúvida: a Pro Matre fechou ou não fechou? A notícia diz que fechou no último dia 20/dez, mas hoje tem 8 pacientes. Como é possível ter pacientes e estar fechada?

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