Governo e oposição convocam deputados licenciados para voto do impeachment

por Carlos Britto // 11 de abril de 2016 às 13:30

20160411074827674565iNa semana em que o impeachment da presidente Dilma Rousseff deve ser votado, tanto governo quanto oposição se articulam para que os deputados licenciados voltem ao Congresso e garantam mais votos para pró e contra o Palácio do Planalto. No lado governista, devem voltar à Câmara ao menos dois ministros, enquanto a oposição já fechou acordo para que secretários estaduais tucanos se licenciem dos cargos.

Um mapeamento da secretaria do governo, produzido na semana passada, mostra que ao menos dois ministros — possivelmente Patrus Ananias (Desenvolvimento Agrário) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) — devem retomar aos postos no Congresso. Pansera é do PMDB do Rio, que está dividido quanto ao apoio ao governo. Seu voto, no entanto, é considerado pró-Dilma. Além dele, Sergio Zveiter, que é secretário municipal e habitação do Rio, deve retomar o posto contra o impedimento.

É o que conta o deputado federal Celso Jacob (PMDB-RJ). Segundo ele, o deputado licenciado Arolde de Oliveira (PSC-RJ), atual secretário de trabalho do Rio, também deve retomar seu mandato. Seu voto, no entanto, ainda não teria sido divulgado. “Se sou deputado, quero participar desse momento histórico do país, quem não iria querer voltar?”, avaliou Jacob. Também para participar do “momento histórico”, os deputados petistas Miguel Correa e Odair Cunha, ambos secretários estaduais em Minas Gerais, querem voltar à Câmara.

Os ministros do PMDB da Câmara, inclusive, devem ter uma reunião esta semana para definir quais retomarão o cargo. Mauro Lopes (Aviação Civil), segundo fontes próximas, estaria sendo alvo de pressão do governo para não sair da Esplanada, já que seu suplente seria pró-governo e o voto do ministro é considerado incerto. O outro ministro do partido é Marcelo Castro, da Saúde, ligado ao líder do PMDB, Leonardo Picciani, aliado do governo.

Do lado oposicionista, a questão foi fechada em reunião de cúpula dos tucanos no Palácio do Bandeirantes na última sexta-feira. Segundo participantes, ficou combinado que todos os governos estaduais do partido deveriam liberar seus secretários que também sejam deputados para dar uma demonstração de força a favor do impeachment.

No caso do governo de São Paulo, retomarão os cargos Floriano Pesaro (PSDB), Samuel Pereira (PSDB), Arnaldo Jardim (PPS) e Rodrigo Garcia (DEM). Duarte Nogueira, que está licenciado para organizar campanha pela prefeitura de Ribeirão Preto, também retorna. Segundo aliados do governador paulista, a ideia é que Alckmin, que ficou com poucos interlocutores no Congresso, monte uma espécie de gabinete informal no Bandeirantes para acompanhar a evolução das articulações. Outros estados também seguirão os mesmos passos. No Paraná, por exemplo, Valdir Rossoni, atual secretário-chefe da Casa Civil, já declarou que voltará para votar pelo afastamento presidencial.

Acordo

Após o presidente do Partido Progressista (PP), Ciro Nogueira, ter discordado em remarcar reunião com as bancadas da Câmara e Senado na última quarta-feira e decidir que seu partido se manteria aliado à presidente Dilma Rousseff, os diretórios estaduais de oito estados divulgaram nota fechando apoio ao impeachment. Segundo a nota, a decisão se estende às bancadas federais da sigla. Esses estados — Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Distrito Federal, Goiás, Espírito Santo e Acre — totalizam 19 deputados de um total de 47 do partido.

O vice-líder do PSol na Câmara Chico Alencar (RJ) afirmou ontem ao Correio, em referência à reportagem publicada sobre a liberação de restos a pagar retidos desde 2012 que “o PSOL não se pauta por emendas, não as negocia com o governo, nem fica correndo atrás de sua liberação. E, por óbvio, jamais condiciona posições e votos a isso”. A reportagem mostrou que, até o início de abril, o Planalto liberou mais de R$ 110 milhões de restos a pagar. As três legendas assediadas pelo governo — PP, PR e PSD — receberam, juntas, mais recursos que o PMDB.

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