Na segunda e última parte da entrevista, o candidato a prefeito da coligação “Unidade Por Petrolina”, Fernando Filho (PSB), destaca suas perspectivas em torno de um perfeito alinhamento com a presidente Dilma Rousseff (PT) e o governador Eduardo Campos (PSB), caso vença as eleições de outubro. “Estou muito animado com as perspectivas que se avizinham a partir do ano que vem”, afirmou.

O candidato socialista aproveitou para questionar grandes obras prometidas pelo atual, prefeito, Júlio Lóssio (PMDB), que ainda não saíram do papel, como o Veículo Leve sobre Trilho (VLT). “Acho louvável a iniciativa, mas tem de ver o que é exequível e o que não é exequível. Quero entender o que tem por trás disso”, declarou.

Fernando Filho também foi direto ao comentar sobre o rompimento de contrato da atual gestão com a Compesa, em relação aos serviços de água e esgotamento na cidade. “Me espanta essa decisão ter sido tomada no início do período eleitoral”, alfinetou. Ao ser perguntado se teme comparações com o primeiro governo do seu pai, Fernando Bezerra Coelho (em 1993), quando as grandes obras de pedra e cal chegaram à cidade, ele nem pensou para responder: “Estou ansioso por essa comparação. Temos instrumentos para fazer uma administração ainda melhor”.

Confiram:

Blog Carlos Britto – o atual prefeito prometeu um VLT (Veículo Leve Sobre Trilhos) como grande obra de sua gestão, já que a cidade se ressente dessas grandes obras. E o VLT não veio. Ele voltou a prometer. O senhor começou sua caminhada com a promessa de uma nova ponte. Dá para cumprir ou é promessa de campanha?

Fernando Filho – Já foi prometido na eleição de 2008 um VLT em Petrolina. E uma gestão que não duplicou uma avenida, não abriu uma grande avenida nossa nossa cidade, agora está propondo como grande obra da nova gestão um Veículo Leve sobre Trilho. É importante a gente conhecer os dados desse tipo de transporte. Nós temos algumas cidades no Brasil que implantaram ou estão querendo implantar o VLT, e outras que optaram por outro tipo de modal, como o BRT, que são os ônibus, ou até cidades maiores do que nós, que vão direto para a alternativa do metrô, para um maior número de passageiros, e é um investimento muito mais caro. Seria bom que o Poder Público Municipal exigisse das empresas de ônibus que colocassem os ônibus na rua pra rodar, e exigisse uma frota mais nova(…)Petrolina tem uma média nos últimos anos de 750 mil, 800 mil passageiros/mês no seu sistema de transporte coletivo, nas empresas de transporte urbano. Nesse eixo do qual o prefeito se propõe a fazer o VLT, do Centro ao Pedra Linda, segundo informações de profissionais da área, é um movimento de 50 mil passageiros/mês. No caso do VLT, você tem que ter algo em torno de dez mil, 15 mil passageiros/hora para você justificar esse investimento. Acho que a iniciativa é louvável, da gente pensar em algo grande pra cidade. Agora, tem que saber o que é exequível e o que não é exequível. Quem vai subsidiar essa passagem? Porque ela é em torno de 30% a 40% mais cara que a passagem de ônibus. E hoje Petrolina já tem uma das passagens de ônibus mais caras do estado. Então, a gente tem de fazer essas perguntas antes de ver uma bonita animação. O papel aceita tudo. O vídeo, a computação gráfica aceitam tudo. A gente tem que entender o que está por trás de tudo isso. É lógico que eu quero, o prefeito quer, e todos que amam essa cidade querem, ver um sistema de transporte e de trânsito modelo, como já tivemos no passado. Mas hoje o que a gente vê são intervenções de ruas, onde acham que para resolver os problemas de trânsito na cidade você simplesmente vai intervir umas vias, colocar uns cavaletes para fechar outras, impedir o acesso, impedir alguns contornos. Isso não vai ser solução. Você só melhora o sistema de transporte e só faz o Centro da cidade fluir com investimentos em infraestrutura. É isso que estamos nos propondo.

Blog – e a ponte?

FF – A questão da segunda ponte, o que a gente fala, e está no nosso programa de governo, na primeira gestão do governador Eduardo Campos, foi feita pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico a contratação dos estudos, que é uma necessidade. Quem conhece Petrolina e Juazeiro sabe do que estou falando. Aquela segunda ponte seria para você colocar por ela todo o transporte pesado de cargas de caminhões. Acho que é importante que a gente volte a discutir. Tem mais de quatro, cinco anos, que não se fala em uma nova ponte. Não estou dizendo que será feita ao longo de uma gestão. Até porque a prefeitura não tem recursos para fazer uma ponte dessas. É preciso de dinheiro do governo federal, do estado, de ambos os estados – Bahia e Pernambuco – para se fazer esse esforço. Então, é a Prefeitura de Petrolina, a Prefeitura de Juazeiro, com suas lideranças, que têm que encampar essa luta. E é isso que a gente está se propondo.

Blog – Candidato, o sertão vive uma da secas mais difíceis dos últimos 30,40 anos. O senhor, como parlamentar, envidou esforços para viabilizar adutoras, que é isso que o homem do campo quer. Como prefeito, o que daria para o senhor fazer nesse sentido?

FF – Está também no nosso programa de governo essa questão de incentivar e fazer mais adutoras, novos ramais. Outra coisa que a prefeitura poderia fazer, seja, em parceria com a Codevasf ou com o governo do estado, é assumir a gestão dessas adutoras, porque a Codevasf, Compesa, governo do estado, Secretaria de Agricultura fazem esses investimentos e entregam para alguém operar. A Compesa, por lei, só pode operar, se não me engano, sistemas com 200 ou 250 ligações. Menos do que isso, que é a grande maioria das adutoras do interior, fica a cargo ou da Codevasf ou da prefeitura. Então, essa parceria entre governo do estado, governo federal e poder municipal vai garantir estabelecer a questão do funcionamento das adutoras. A gente sabe também que nós não vamos conseguir colocar, num primeiro momento, de forma mais rápida, a água na torneira de toda casa. Mas com essas adutoras a gente espera diminuir, e muito, a distância da água. Só para se ter uma ideia, com essa adutora de Caititu e Uruás, a água que hoje você pega no Canal do Pontal, perto de Uruás, vai estar em Cruz de Salinas, no Caititu, e de lá ela pode atender toda a região. O caminhão-pipa não precisa voltar mais 30,40 km para abastecer no canal do Pontal. Da mesma forma é outra adutora que vai pra Cristália, Almas, Baixa Alegre, Simpatia, toda aquela região. Com essas adutoras você vai economizar mais recursos na operação pipa e pode investir em soluções que sejam, de fato, definitivas.

Blog – Falando em águas, a prefeitura está anunciando o rompimento do contrato com a Compesa. Como o senhor vê isso?

FF – Interessante que esse rompimento se dá a três meses da eleição. Depois, é importante que a cidade saiba, e possa fazer essa avaliação, que agora que Petrolina consegue, seja através do governo federal (da Codevasf), seja do governo estadual, investimento superiores a R$ 120 milhões, a prefeitura resolver rescindir um contrato às vésperas de uma eleição. Esses investimentos são importantes pra Petrolina. Petrolina precisa desses R$ 65 milhões na questão do saneamento, e dos R$ 55 milhões para melhorar o abastecimento d’água da nossa cidade. Digo isso com muita tranquilidade porque isso foi pensado lá atrás, na época do governo do então prefeito Fernando Bezerra Coelho. Só que naquela época, os investimentos da Compesa em Petrolina eram inferiores a R$ 4 milhões por ano.

Blog – O prefeito, então, jogou pra plateia?

FF – Eu não tenho a menor dúvida, até porque ele não tem hoje onde captar os R$ 120 milhões, ou mais, que Petrolina precisa, para poder fazer esses investimentos. Depois ele fala em um programa de saneamento de R$ 400 milhões. Ele só não diz que são R$ 400 milhões em 30 anos. Nós estamos falando em R$ 120 milhões em cinco anos. Então eu estou muito animado, primeiro porque essa é uma briga que ainda vai pra justiça. Quem conhece todos os trâmites legais que isso percorre, isso não é algo para poder ser decidido em pouco tempo. Só me espanta que essa decisão tenha sido tomada no início do processo eleitoral. Ele podia ter feito isso no começo do ano, no ano passado, ou antes. Mas assim que a gente consegue confirmar os investimentos, como falei, e que a gente tem a capacidade de começar, de fato, a prestar um melhor serviço à população…a Compesa ainda precisa melhorar muito, e digo isso na qualidade de aliado do governador, que sempre defendi e sempre critiquei a Compesa. Só para dar um exemplo, no bairro Terras do Sul, até a Rua 11, que não tinha água, hoje tem água. Não tem da Rua 11 à Rua 17, porque não tem nem tubulação. Hoje é feito com umas mangueiras pretas, que levam água a esses bairros. Nesses R$ 55 milhões, está previsto a ampliação da rede, da oferta também desses bairros periféricos(…)Comparado com o que tinha lá atrás, melhorou e muito. Está do jeito que Petrolina merece? Não está, mas já teve um avanço grande, e a gente tem a expectativa de que, ao final desses investimentos, o serviço possa estar de melhor qualidade.

Blog – Por falar em alinhamento, se o senhor foi eleito, Petrolina vai experimentar uma sintonia que há muito tempo não via: município, governo do estado, governo federal…

FF – Acho que Petrolina nunca viu esse alinhamento.

Blog – Por outro lado a responsabilidade é muito grande. Passa pela cabeça do senhor algo do tipo ‘não tenho direito a errar’?

FF – Acho que, primeiro, a população de Petrolina gosta de cobrar. A população de Petrolina é muito vaidosa, orgulhosa do que a cidade é e do que ela representa. Não só para o interior de Pernambuco, mas de toda essa região. A gente ouve hoje, conversando com as pessoas, elas nos falando do que Petrolina já foi e do que Petrolina é. E a nossa candidatura é justamente para se propor a falar e ajudar a construir a Petrolina que nós queremos ser no futuro. E aproveitar esse alinhamento. Como você falou, eu não lembro, pelo menos na história recente da qual eu acompanho política em Petrolina, um alinhamento nas esferas federal, estadual e municipal, numa mesma direção(…)Estou muito animado com a possibilidade de poder ter, ainda, durante dois anos, um governador que ajudamos a eleger. Uma presidenta que nós ajudamos a eleger, ter um filho da terra, pela primeira vez, como ministro de estado, que é meu pai Fernando Bezerra Coelho, que também é uma voz de Petrolina lá no governo federal. E da gente poder ter tudo isso aqui, alinhado no mesmo lado. A população de Petrolina não quer ver mais brigas políticas com autoridades constituídas pelo povo. As disputas ficam para o processo eleitoral. Passado isso, todos têm que procurar como é que se trabalha e se honra o mandato que o povo lhes deu. Esse é o nosso propósito, e estou extremamente animado com a perspectiva que se avizinha a partir do ano que vem.

Blog – Seu pai, o ministro Fernando Bezerra Coelho, foi o prefeito que nos últimos 20 anos trouxe as obras estruturadoras para a cidade, que hoje se ressente. O senhor acha que com esse alinhamento Petrolina pode voltar a viver um período de grandes obras, grandes investimentos?

FF – Eu não tenho a menor dúvida. Estamos nos propondo, em nosso programa de governo, a pensar na abertura de novas avenidas, na construção de novos viadutos urbanos, num novo modelo para o transporte coletivo, e aí não cabe agora, sem um estudo mais detalhado, dizer se é BRT,VLT, se é metrô ou se é para colocar o sistema atual de transporte público(…)quem conhece o trabalho do nosso grupo, as pessoas que compõem o nosso palanque, os serviços que foram prestados quando tivemos a oportunidade de poder trabalhar por Petrolina, o trabalho que estamos desenvolvendo agora no Ministério (da Integração), através do ministro Fernando Bezerra, o nosso mandato como deputado federal, da própria passagem do ministro pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico e pelos dois mandatos do governador Eduardo Campos…a população sabe que quando a gente fala que essa parceria pode voltar a trazer as grandes obras, é porque ela já viu, na época em que Fernando era prefeito. Ele não tinha governo federal, mas teve governo do estado e foi possível, naquela época, fazer grandes parcerias. Se naquela época, com governo do estado, foi possível fazer tanto, é por isso que estou animado. Com governo federal e estadual, a gente possa fazer muito mais.

Blog – Se o senhor for eleito, será a primeira vez como prefeito. O senhor teme comparações com a primeira vez em que seu pai foi prefeito (1993), quando ele fez uma administração irretocável?

FF – Estou ansioso por essa comparação. Acho que, o que fez Petrolina, foi todo mundo que teve a oportunidade de ter um mandato sempre se esforçou para poder fazer mais. Acho que esse é o nosso desafio, não só pela gestão de Fernando, mas de todos que passaram aqui. Temos todos os instrumentos para fazer uma administração muito melhor.

Blog – Candidato, suas considerações finais.

FF – Quero ser prefeito de Petrolina porque venho servindo a Petrolina e Pernambuco há seis anos, como deputado federal. Quero pegar essa experiência que construí em Brasília, ao longo desses dois mandatos, e me dedicar a minha cidade, que precisa voltar, como você falou, a pensar nas grandes obras, nas intervenções, mas sem esquecer da atenção às pessoas, seja saúde, na educação.