Devoção dos pernambucanos aos santos juninos é herança do colonizador português

por Carlos Britto // 24 de junho de 2016 às 21:33

sao joaoHoje, 24 de junho, é dia de São João. A mais importante festa do calendário nordestino. A festa, no Brasil, foi nascendo aos poucos. Da mistura generosa de costumes, sabores e temperos das três culturas que nos formaram. Do colonizador português, herdamos a devoção pelos três santos do mês de junho – São João, São Pedro e, mais popular deles em Portugal, Santo Antônio.

Tanto era seu prestígio que aquela vila, mais tarde capital da capitania de Pernambuco, nasceu como “Santo Antônio do Recife”. Acabou sendo nosso padroeiro oficial. Junto com Nossa Senhora do Carmo – co-padroeira, por decreto de Papa Bento XV, em 12 de novembro de 1918. Do colonizador português herdamos também os jeitos de fazer a festa. Com música, dança e fogos de artifício.

Sem contar adivinhações e superstições – para saber se é correspondido no amor, se vai casar, se é traído. Uma das mais conhecidas recomenda introduzir faca virgem no tronco de uma bananeira; se aparecer nessa faca uma letra, será a inicial do novo amor. Aprendemos a enfeitar as ruas com bandeirolas e balões coloridos, que levam pedidos dos fiéis a São João – atendidos só quando não queimem, antes de subir aos céus.

Além de capelas – arcos feitos com folha de bananeira ou de coqueiro, substituindo aquelas de além-mar, feitas de folhas de louro e flores. E tudo, sempre, em volta de fogueiras – menos o costume europeu de queimar, junto com a madeira, ervas aromáticas (alecrim, murta) e sal. Sem contar que a principal dança do São João veio também da Europa, trazida pela aristocracia portuguesa no início do séc. XIX. Quadrilha tem origem na “quadrille”, com que declaravam abertos os bailes da corte francesa.

E conservou, na própria marcação, o francês estilizado de anavantus (“em avant tous”, para frente) e anarriês (“em arrier”, para trás). Embora em nossa civilização tropical e quente, a dança palaciana tenha escapado para as ruas. Dos escravos nos vieram as roupas de chita (a palavra vem do sânscrito “c’hit”), usadas em festas – com saias rodadas, aqui armadas com anáguas endurecidas por goma de mandioca e enfeitadas com babados, sianinha, fita, renda.

Era com esse tecido barato, trazido pelos portugueses da Índia, que se vestiam seus escravos. Com eles aprendemos também o gosto pelo batuque e por umas flautas feitas de “taquara”, madeira muito encontrada nas matas de Pernambuco – pelo colonizador, chamadas de “pífanos”, por serem semelhantes às tocadas pelos “pifferaro” dos folclores italiano, bretão e catalão. E dos índios herdamos (quase) todos os utensílios usados nas mesas juninas – panela de barro, urupema, pilão, cuia, cabaça.

Culinária

Mas o que faz essa festa única, diferente de todas as outras, é sobretudo nossa culinária. Uma culinária que, como também ocorreu nos costumes, usa ingredientes dessas três culturas. Dos índios amendoim, banana comprida, batata doce, castanha, mandioca e, sobretudo, milho. Dos escravos africanos coco, leite de coco, inhame. Dos portugueses, sal, açúcar, cravo, canela, erva-doce, noz-moscada, trigo, arroz, aveia, passas. E assim, da mistura desses ingredientes, mais técnicas e receitas próprias, foi nascendo a nossa culinária de São João.

Com pratos muito especiais – canjica, pamonha, bolo de milho, pé de moleque. Sem esquecer milho assado na fogueira. Agora só resta dançar e aproveitar a festa cantando (São João na Roça, de Zé Dantas e Luiz Gonzaga): A fogueira tá queimando/Em homenagem a São João/ O forró já começou/Vamos gente, rapa-pé nesse salão. (fonte: Folha de PE/foto reprodução)

Devoção dos pernambucanos aos santos juninos é herança do colonizador português

  1. Yasmin disse:

    Cobertura do São João do Vale que é bom, nada!

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