Depois da lenda Zagallo, futebol mundial perde Beckenbauer

por Carlos Britto // 08 de janeiro de 2024 às 15:47

Foto: Michael Steele/Getty Images

Dois dias após a morte de Mário Jorge Lobo Zagallo, o futebol se despede de outra lenda: Franz Beckenbauer, considerado o maior nome da história do futebol alemão, morreu na noite de domingo (7), aos 78 anos. Um comunicado da família foi divulgado pela imprensa alemã, sem detalhes sobre a causa da morte, apenas indicando que o ex-atleta morreu dormindo.

É com profunda tristeza que anunciamos que meu marido e nosso pai, Franz Beckenbauer, faleceu pacificamente enquanto dormia ontem, domingo, cercado por sua família. Pedimos que possamos lamentar em silêncio e nos abster de qualquer pergunta”, diz a nota.

Segundo o jornal Bild, Beckenbauer enfrentava muitos problemas de saúde nos últimos anos. Ele sofreu muito com a morte de seu filho Stephan (46), em 2015, e as acusações de corrupção no processo de escolha da Copa do Mundo de 2006. O veículo indica que o Kaiser teve um infarto ocular, passou por operações cardíacas e tinha demência associada à doença de Parkinson.

Beckenbauer é um dos grandes ídolos da história do futebol alemão, campeão mundial com a seleção do país em 1974, dois anos depois de conquistar a Eurocopa. Como jogador, era referência histórica do Bayern de Munique, onde atuou por 13 anos e conquistou uma série de títulos.

O ex-zagueiro também entrou para a história das Copas do Mundo ao conquistar o Mundial de 1990 como treinador. Desta forma, está em um seleto grupo que conta apenas com Zagallo, morto na sexta-feira, aos 92 anos, e Didier Deschamps, atual comandante da seleção francesa.

Trajetória

Franz Beckenbauer nasceu no dia 11 de setembro de 1945, em Munique, dias após o fim da 2ª Guerra Mundial. Sua família trabalhou na reconstrução da cidade, arrasada pela guerra, mas ele logo mostrou sua paixão pelo futebol.

Beckenbauer começou como atacante na base, no SC Munique 06. Mas no Bayern de Munique, o clube de sua vida, se descobriu como líbero e revolucionou a posição e a história do clube. Antes dele, o time bávaro havia conquistado o Campeonato Alemão apenas uma vez.

Ele conquistou o torneio quatro vezes com a camisa da equipe, além de quatro títulos da Copa da Alemanha e o tricampeonato seguido da Copa dos Campeões Europeus (atual Champions League), entre 1973 e 1976. Com 76 gols marcados, o ex-líbero é o quinto jogador com mais jogos pelo Bayern, 584.

A estreia na seleção alemã foi em 1965 e, no ano seguinte, veio a primeira Copa do Mundo. No Mundial da Inglaterra, Beckenbauer fez quatro de seus cinco gols em Copas. A Alemanha seria vice-campeã para a Inglaterra. No México, em 1970, o ex-zagueiro viveu um dos episódios que marcaram sua carreira: jogou com a clavícula quebrada na semifinal contra a Itália e não evitou a derrota por 4 a 3. No entanto, quatro anos mais tarde, veio a redenção. Beckenbauer viveria, nos anos seguintes, o seu auge como jogador.

Em 1974, após a conquista da Eurocopa de 1972, a Alemanha conquistou seu segundo título da Copa do Mundo com o Kaiser de protagonista e vitória por 2 a 1 sobre a Holanda de Johan Cruyff na final. Franz Beckenbauer foi Bola de Ouro em 1972 e 1976. Ele e Rummenigge são os dois únicos alemães a conquistarem o prêmio mais de uma vez.

Parceria com Pelé

Beckenbauer teria mais dois clubes em sua carreira além do Bayern. Campeão de tudo com o time bávaro e da Euro e da Copa do Mundo com a Alemanha, ele optou por um final de carreira nos Estados Unidos. No New York Cosmos, se juntou a Pelé para e outros grandes nomes do futebol da época.

Na equipe, eles conquistaram três títulos da NASL, a liga disputada pelo Cosmos. O líbero alemão ainda voltou a jogar no seu país natal, em duas temporadas pelo Hamburgo, mas voltou aos Estados Unidos em 1983, no seu último ano como jogador, novamente na equipe de Nova York.

Carreira de técnico

Em 1984, Beckenbauer assumiu a seleção da Alemanha e iniciou sua carreira como técnico. Na sua primeira Copa do Mundo como comandante, chegou à final e perdeu para a Argentina de Maradona, em 1986. Em 1990, a história foi diferente.

Em uma grande campanha, Beckenbauer levou a Alemanha ao seu terceiro título mundial ao superar, nos pênaltis, o rival de quatro anos antes: a Argentina. Depois de Zagallo, ele se tornava ali o segundo da história do futebol a erguer a Copa do Mundo como jogador e técnico.

A carreira de treinador durou apenas mais alguns anos. Ele comandou o Olympique de Marselha e treinou o Bayern de Munique por duas temporadas, onde conquistou os títulos da Bundesliga e da Copa da Uefa – atual Liga Europa.

Copa da polêmica

Beckenbauer foi chefe do comitê organizador local da Copa do Mundo de 2006, sediada na Alemanha. Em 2016, uma investigação da Procuradoria-Geral da Suíça (OAG) acusou o ídolo alemão e outros três dirigentes de quatro crimes, dos quais incluíam fraude e lavagem de dinheiro.

A investigação apurava também se a Alemanha havia comprado o direito de ser sede daquele Mundial. O processo foi encerrado em 2020, após prescrever. As acusações levaram o dirigente a abandonar o cargo que mantinha no Comitê Executivo da Fifa.

Ele chegou a admitir “erros” na organização daquela Copa do Mundo, mas negou que o país tenha comprado votos para ser sede. (Fonte: ge)

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