Artigo: Estudante explana razões por se manifestar contra ocupação da Ilha do Fogo

por Carlos Britto // 15 de outubro de 2012 às 15:33

Neste artigo enviado ao Blog, o estudante e integrante do Coletivo “Amigos da Ilha”, Rodrigo Wanderley, dá suas razões por se posicionar contra a ocupação da Ilha do Fogo por parte do Exército Brasileiro.

Confiram:

Onde Queres Revólver sou amigo ou “A Esperança vai vencer o medo”

Por que lutar pela Ilha do Fogo? Por que debater a política de restrição de uso do espaço público? Por que fazer parte de um movimento político apartidário, pacífico, sem lideranças, que costuma se reunir em praças públicas, e que está aberto à participação de todos? Nem toda movimentação política é maléfica como vem sendo generalizada por alguns interesses. Como já dizia Platão, há muito tempo: “Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam”. Mas a questão central que perpassa nosso movimento está em não aceitar a restrição daquilo que se convencionou chamar de público, da coisa pública, res publica. Como você se sentiria vendo a Praça da Bandeira (em Juazeiro) ou a Praça da Catedral (em Petrolina) cercadas por arames farpados e homens fortemente armados, ”amados ou não”? O que acontece na Ilha é análogo a esse absurdo.

O que está em jogo é o fim do uso bem público. Digo isso pois não haverá mais a função social que esses espaços possuíam. Mesmo o Exército sendo uma parte do estado brasileiro, uma instituição pública. O que está em jogo é o fim, a privatização, a destruição do patrimônio artístico cultural ali existente. Não é válido o argumento do fim dos problemas sociais, como: o uso e o abuso de substâncias psicoativas, através do fim do acesso. Negar utilização do espaço, no máximo, desloca o problema para outro locus. Estamos deslocando os problemas ao invés de solucioná-los, e, além disso, criando outros, como o fim de áreas de lazer, fim de áreas de trabalho tradicional digno e destruição de patrimônio artístico cultural.

É fato que Juazeiro e Petrolina não possuem muitos equipamentos públicos voltados para o lazer e o entretenimento das camadas menos abastadas. Estamos destruindo condições de vida. Todo homem tem direito ao lazer, a constituição já declara isso, art. 6º, em consonância com a declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada na Assembleia Geral da ONU em 1948, sendo o Estado brasileiro seu signatário.

A ocupação do Exército saturará as outras áreas de lazer da população ribeirinha. Espaços de turismo como a ilha do Rodeadouro passarão a ver mais casos de afogamento. E aumentará o processo de assoreamento provocado pelo pisoteio dos terrenos. Crescerá com o aumento de usuários daquele espaço.

Mas não se trata apenas do lazer que o Exército Brasileiro ataca. Ataca também o trabalho tradicional digno, em regime de economia familiar, indo de encontro à Convenção nº 117 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Art. I — “1. Qualquer política deve visar principalmente ao bem-estar e ao desenvolvimento da população, bem como à promoção de suas aspirações de progresso social”.

Quando nega o acesso de pescadores a um território de pesca tradicional, o Estado brasileiro representado pelo Exército rasga uma convenção que é signatário. Existe na Ilha do Fogo uma colônia de pescadores instalada há mais de 33 anos. O que acontecerá com essas famílias que vivem baseadas nos dividendos provenientes da Ilha do Fogo? Como belamente afirma Gonzaguinha em sua canção: “Um homem se humilha/ Se castram seu sonho/ Seu sonho é sua vida/ E vida é trabalho…/ E sem o seu trabalho/ O homem não tem honra/ E sem a sua honra/ Se morre, se mata…/ Não dá pra ser feliz”. Eles serão desapropriados, não gostaria de dizer esse termo, pois o território tradicional de pesca não pode ser analisado a partir da noção de propriedade, sendo mais bem compreendido como bem coletivo, não levando em consideração os investimentos já realizados para conseguirem produzir.

Até o reino mineral sabe que a invasão da Ilha do Fogo representa uma violência simbólica imensurável à cultura ribeirinha, às lendas e às crenças do seu povo. O nego d’água, a mãe d’água, a serpente encantada e Nossa Senhora das Grotas certamente encontram-se em risco. A ocupação/invasão opressiva retira os indivíduos que constroem a cultura do ambiente onde a cultura é criada e dinamicamente transformada. A invasão do Exército transforma em cinza as águas esverdeadas do nosso rio. Cortando o que de mais belo pode existir em nosso povo: a memória, as lembranças e os laços de fraternidade constituídos a partir daquela pequena porção de terra.

Será que a ilha é tão importante para a soberania nacional? Ou será apenas mais um hotel de trânsito para oficiais, com vistas para o por do sol, que se anuncia em um futuro próximo? Será que permitiremos a perda de mais este espaço de uso coletivo, público? Depois será outro espaço público e outro, e outro. Até não termos mais onde conversar com amigos aos finais de semana. Onde passearemos com nossos filhos? Ficaremos cercados por muros, grades, fuzis e arames farpados?

É preciso se mover. Como afirma Rosa Luxemburgo: “Quem não se move não sente as correntes que os prende”. São por essas questões que lutamos por uma ilha livre das armas e canhões. Por isso estamos em movimento. Não queremos os estigmas que querem criar contra o nosso povo. Queremos uma ilha pública de fato. Livre para o trabalho digno, para o lazer, para as artes e para a cultura.

A ilha não se curva. E espera por você.

É preciso ultrapassar!

Rodrigo Wanderley/Estudante de Ciências Sociais e de Direito e Integrante do Movimento Amigos da Ilha

Artigo: Estudante explana razões por se manifestar contra ocupação da Ilha do Fogo

  1. rararar disse:

    Não tem importancia . cada lorota que vejo lei OIT rararara ONU rararar grande coisa até parece que todos paises que signatário dessa merda respeita . pergunta quantas dinamites eles ja prendero nessa ponte só otario pensa que justiça deu por causa de meia duzia e fumador.

  2. Flavio Murilo disse:

    Parabéns ao estudante Rodrigo Wanderley pelo brilhantismo das idéias expostas no texto. Consegue realmente passar de uma forma clara e esclarecedora, os motivos da luta pelo livre acesso à ilha do Fogo, patrimônio sócio-ambiental da mais alta excelência que sempre pertenceu ao povo e assim deve continuar.
    A ilha do Fogo, mesmo com todo abandono sofrido, proporcionava um gigantesco beneficio social, principalmente as classes menos favorecidas, pois era lazer e entretenimento barato. Já que localizada nos centros dos municípios, era facilmente acessível a todos.
    A ilha ainda inseria-se com muita importância em nosso contexto esportivo, histórico, cultural e com um fenomenal potencial turístico que se minimamente aproveitado, beneficiaria toda a sociedade de Petrolina e Juazeiro.
    Infelizmente ainda existem pessoas que conseguem enxergar alguma vantagem em nossa querida ilha continuar com acesso restrito a militares. Não me parece nada razoável que tantos direitos sejam sacrificados em prol de interesses que permanecem ate o momento desconhecidos.

  3. Josy disse:

    Nunca vi um comentário de estudante tão coerente.Parabéns,amigo!
    A expressão do seu pensamento pode inspirar muitas pessoas a abrirem os paraquedas de suas mentes.

  4. Desacreditado disse:

    Parabéns Rodrigo pelo texo. Se formos cercar todas as áreas que são utilizadas para uso de drogas, teriamos quer cercar várias partes de Petrolina e Juazeiro. Porque não tratar o assunto de forma coerente e dar a bela paisagem do rio São Francisco uma área de contemplação de lazer ao invés de agredirmos aos olhos com grades e cercas. parece-me que o Rio cometeu um crime e está preso.

  5. heitor disse:

    parabens Pezão, ótimo e esclarecedor o seu texto, a ilha pertence a todos!

  6. José Victor disse:

    Muita bobagem, o que tem a ver os pescadores ficarem sem o seu sustento, pelo que sei os peixes vem do rio e o rio não foi interditado, tão falando bobagem demais e fazendo muita bagunça, as autoridades já deviam ter prendido esses manifestantes fazendo churrasco na ponte, quem já se viu, aquilo não é manifestação, é uma bagunça de um bando de bagunceiros que não tem o que fazer e vi que estão desafiando o exército pulando e ficando quase na ilha, até o momento em que um for preso aí vão dizer que voltou a ditadura, vão caçar o que fazer, bagunceiros.

  7. Othon disse:

    O autor do texto usou de belas palavras e citações, exaltou a liberdade de acesso ao local, enfim fez uma bela exposição de idéias.
    Porém, no meu entender, atacou uma instituição séria, com informações sem comprovação, como por exemplo que o Exército vai construir hotel com vista para o por-do-sol para seus oficiais.
    Queria lembrar ao amigo que o Exército em momento algum “INVADIU” a ilha. O Exército, no uso das atribuições legais que a Constituição Federal lhe impõe, está tão somente cumprindo uma “ORDEM JUDICIAL” que lhe foi imposta.
    Se alguém tem que ser interpelado com argumentações plausíveis é a Justiça Federal, que deu tal determinação.
    Quanto à restrição do acesso à Ilha, isso sim é vontade do Exército, tal qual pode ser restrito o nosso acesso a qualquer área militar (embora pública, mas não de uso comum) em qualquer local não só no Brasil, mas no mundo, por óbvios motivos de segurança de instalações e materiais sensíveis.
    Para finalizar, queria frisar mais uma vez que o alvo dessas manifestações deveria ser a Justiça, de preferência por meio de uma ação judicial, e não por meio de churrasco na ponte!

  8. engineerpnz@hotmail.com disse:

    Tá sentindo falta de um baseadinho na ilha né estudante?? Cara de pau..preocupado com pescadores..kkkkkk..já viu pescador pescar em ilha?? pesca é no rio..

    1. Dra. Maria disse:

      Mas vejam só quem escreve!!!!!….kkkkkkkk Quem não te conhece que te empreste o fósforo..kkkkk

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