Artigo do leitor: “Uma última nota para Bosquinho”

por Carlos Britto // 14 de dezembro de 2015 às 21:00

Bosquinho

Neste artigo enviado ao Blog, o jornalista juazeirense Raphael Leal faz questão de enaltecer a história de um grande petrolinense – o músico João Bosco Nascimento, ou simplesmente ‘Bosquinho’ para os mais chegados, que faleceu no último sábado (12) deixando um grande legado.

Confiram:

Uma última nota para Bosquinho

Ainda era criança, quando o meu pai, Toinho de Zé Maguim, e os seus companheiros músicos chegaram num boteco que havia em meu bairro, Castelo Branco, em Juazeiro. Eu já os conhecia, mas os amigos da vizinhança ainda não. Um dos meus amigos era músico e, ao ouvir o acorde da guitarra baiana, disse, surpreso: “eita, o coroa é bom de acorde”. Era João Bosco Nascimento, Bosquinho, petrolinense, agrônomo formado na antiga Famesf, um dos maiores músicos que o Vale do São Francisco já teve.

E eu fui crescendo e ouvindo Bosquinho, ora com o cavaquinho, ora com a guitarra baiana, ora com o violão – ele também era um fã de João Gilberto e exímio executor de bossa nova. Era fantástico quando meu pai nos chamava para ouvir o grupo de Chorinho que eles tinham. Antes, formado por Bosquinho, Toinho e Fuminho (Benedito). Em seguida, formou-se a parceria definitiva: o remansense e funcionário público Menandro Régis, Claudinho, no tantan, Toinho de Zé Maguim, no pandeiro e voz, e Bosquinho. Dessa formação, tive a ousadia de dar nome ao grupo: “Chorinho do meu Pai”.

Neste sábado, 12 de dezembro de 2015, Bosquinho nos deixou. Petrolina talvez nem tenha se dado conta de que perdeu um dos seus maiores músicos. Fez história com o Sambossa, grupo que fizeram parte meu pai, Toinho, Raimundo Felipão, Fernando Rêgo e o auxílio luxuoso de Edésio Santos, e vários outros. Na engenharia agronômica, participou de projetos importantes como o do Capim, e em projetos irrigados. No futebol, todos diziam que ele era o craque. Como meu pai falava da tática que o técnico do Palmeiras de Petrolina colocava: todo mundo defende e lança a bola pro Bosco. Eu me divertia com estas histórias.

Após a morte de meu pai, tive poucos momentos com Bosquinho. Num dia, num fim de tarde, eu e um dos meus irmãos fomos ao seu encontro e tocamos e cantamos até a madrugada. Que dia, que noite!

Hoje Petrolina tem grandes músicos, alguns com destaque nacional. Parabéns! Mas aqueles que passaram, certamente, têm a sua contribuição para isso. Em todos eles tem um pouco de Geraldo Azevedo, Odésio Jericó. Mas também tem Toinho de Zé Maguim e Bosquinho.

E lá se foi Bosquinho.

Aquela criança que passou a admirar o músico que hipnotizava todos com a sua guitarrinha e as suas caretas que mais representavam o sentimento naquele momento da execução musical, passou a adolescência e a fase adulta admirando o mesmo músico.

Ainda mais porque ele torcia para o Vasco. Às suas mulheres, filhos, netos, parentes e amigos deixam um recado: tenho orgulho de ter tido Bosquinho em minha vida, apesar de sentir um tantinho de medo quando ele pedia para me acompanhar. Espero que vocês também se orgulhem. Defeitos, todos têm. Mas quando pouca gente repara neles, é porque as virtudes se sobrepõem. Orgulhe-se, Petrolina, deste filho ilustre. 

Este era o Bosquinho, que deixa um legado absurdo de musicalidade e gentileza.

Raphael Leal/Jornalista e legítimo PEBA

Artigo do leitor: “Uma última nota para Bosquinho”

  1. Maria Esse disse:

    Excelente texto, retrata muito bem Bosquinho, eu como petrolinense por adoção há mais de 50 anos, viví toda essa época , conhecí todos os músicos citados, e participei de muitas festas tocadas por ELES. Saudade desses músicos… Saudade dessas festas… Saudade de minha juventude. Praça Dom Malam, Sorveteria Iglú, Petrolina Clube, 21 de Setembro, Assustados nas casas de amigos, Conjunto da Agronomia (era assim que chamávamos), Com tantas recordações o que nos resta é pedir a Deus por todos os falecidos. Que Deus o tenha Bosquinho descanse em paz…

  2. Humberto Barbosa disse:

    Sem dúvida nenhuma, uma grande perda, não só para a música, mas para a cultura em geral.

  3. Marcos Antônio Borborema disse:

    Grande músico e nosso parceiro no conjunto da Agronomia. Descanse em paz meu amigo!

  4. Aroldo disse:

    Bélissimo artigo,emocinante como voce retratou bem o que significou essa turma para a cultura sanfranciscana.Parabens Raphael Leal pela homenagem.Bosquinho e seu Pai foram tudo isso e mais um pouco.Descance em paz Bosquinho!!!!

  5. Felipe Silva disse:

    Um coração muito bom, um cara 100% do bem! Tive a honra de conviver com Bosco na AMMA durante o meu estágio que durou 2 anos. Foi pouco mais de 1 ano de convivência com o “Boscada” (assim eu o chamava), ele sempre lembrava de hma partida que fez hm gol no finalzinho do jogo contra um time do RJ a seleção de Petrolina acabou vencendo. Além de muitos ensinamentos na parte de agronomia, no tratamento de plantas e do meio ambiente…sou da área de Engenharia Civil e pude ver sua dedicação para com o meio ambiente, achei tudo muito bom e sei o quanto devemos buscar construções que sejam menos agressivas à natureza. Boscada sempre foi sinônimo de alegria, tive o prazer de trabalhar em sua sala e muitas vezes saí com o maxilar doendo de tanta risada que ele conseguia arrancar, difícil lembrar um dia que ele não estava feliz… vai deixar muita saudade Seu Bosco! Descanse em paz amigo!

  6. Cristiane Nascimento disse:

    Em nome da família, gostaria de agradecer a todos pela demonstração de carinho, em especial a Rafael Leal, que retratou bem essa linda pessoa que foi meu pai João Bosco, “Bosquinho” para alguns. Ele que amava a música e a sua profissão de agrônomo (ele foi um músico que se tornou agrônomo. Um agrônomo que amava a música). Assim era feliz e sabia fazer muito bem as duas coisas. Papai foi ser humano único, iluminado, de coração puro. Obrigada papai por ter sido esse grande homem e um pai do qual nos orgulhamos. O nosso amor por você é infinitamente maior que a dor, que a saudade e é isso que vai ficar dentro de nossos corações. Obrigada por tudo. Descanse em paz!

  7. ALCIDES NUNES BARROS disse:

    Quero complementar, os vários comentários retro mencionados, que Bosquinho ganhou de presente do VIRA COPOS, uma guitarrinha bahiana, que no auge de DODO E OSMAR, era o sucesso do momento e aprendeu rapidinho a solar a bichinha e juntos eu, Aluisio, Jailson, Galvão, Fia e todo um fã clube de associados, como Paulo Andrade, Louvercy, Buru, Mistura, etc, faziamos a alegria do Carnaval de Petrolina no Bambuzinho Bar(administração na época de meu amigo Paulão) e no Panoramico (administrado por seu Zé). Que saudade ver Bosquinho solar aquela guitarrinha bahiana com tanta eficiencia, até seus ultimos dias de vida. Nunca separou-se, dela, tenho certeza que Laercio(seu filho) que aprendeu com ele a executa-la saberá honra-la. Saudades Bosquinho.

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Últimos Comentários

  1. Era tão articulado que foi eleito sem voto pelos militares. Não ganhou por mérito próprio, foi imposto.