Artigo do leitor: “Uma contagem oculta da violência”

por Carlos Britto // 15 de maio de 2025 às 14:20

Foto: divulgação

Neste artigo enviado ao Blog, o mestre em Ciências Policiais, Nelmo Passos, alerta sobre a contagem oculta da violência e propõe um novo olhar sobre os indicadores criminais.

Confiram:

O Brasil vem passando por um processo de enfrentamento aos altos índices de violência. As cidades suportam um ambiente de extrema violência que resulta em sofrimento e na ausência de liberdade para os cidadãos. Números oficiais indicam um crescimento constante de todas as modalidades criminosas, com destaque para os homicídios. Reputado como um grande problema social e classificado entre os crimes graves no Brasil, o homicídio tem uma publicidade negativa, afetando desfavoravelmente a reputação e a rotina do país. Para termos uma ideia, basta fazer uma pesquisa com a seguinte citação: “Estados mais violentos do Brasil”, e serão listados aqueles com as maiores taxas de homicídio, evidenciando qual o critério de mensuração da violência em uma sociedade e colocando outros crimes graves em segundo plano. Dentre esses, a Tentativa de Homicídio (TH) é muitas vezes desconsiderada nessa medição para qualificar localidades violentas.

Vejamos o último infográfico do Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2024), que coloca Juazeiro-BA em 7º lugar no ranking das 10 cidades mais violentas do Brasil. Esta publicação contabiliza apenas as Mortes Violentas Intencionais, não evidenciando dados de Tentativas de Homicídio. Vale observar que a cidade de Juazeiro-BA acumula, até o quadrimestre de 2025, um total de 43 registros de Tentativas de Homicídio, frente a 38 Homicídios Consumados.

Pensemos a respeito: se esses atos tentados tivessem se concretizado, teríamos uma cidade mais violenta? Não, ela estaria no mesmo patamar de brutalidade social, pois o cenário de insegurança não muda em nada. Ou uma pessoa que dá um tiro em outra teria uma intenção diferente daquela de matar? A vítima teve a glória da vida ao escapar do intento. Isso não muda o nível de violência da cidade, nem a maldade do indivíduo. Então, por que relativizar os crimes? São tantas perguntas a serem respondidas que poucas linhas não seriam suficientes para entendermos o infortúnio de uma contagem oculta.

É verdade que Juazeiro divide seu destaque nacional entre a fruticultura irrigada e a violência comprovada. Recentemente, um artigo intitulado “Homicides: the Condemnable Social Annihilation” (Homicídios: o Condenável Aniquilamento Social), publicado na Forensic Research & Criminology International Journal, analisou os fatores que influenciam os índices de homicídios na cidade de Juazeiro-BA, como a guerra de facções e o papel do Estado, colocando a cidade nos holofotes internacionais.

Dadas as responsabilidades do Poder Público e sua atuação ao longo dos anos de evolução das sociedades, e perante a definição de violência, podemos acreditar que uma população com seus direitos fundamentais desrespeitados precisa reconhecer a verdadeira dinâmica do crime.

Nelmo Passos/Mestre em Ciências Policiais, na especialidade Gestão da Segurança

Artigo do leitor: “Uma contagem oculta da violência”

  1. Ana Cristina Araújo disse:

    Achei excelente esse artigo, me fez refletir sobre esse a questão da violência em nosso Estado e o que, de fato, chega de informação para o conhecimento da população? 🤔 Parabéns ao autor! 👏🏼👏🏼👏🏼

  2. Sergio Luiz costa de santana disse:

    Artigo muito bem redigindo, onde infatiza de uma forma bem atual a violência e o tráfico de droga em nossas cidades , a falta da presença do estado ao longo dos anos deixei essa grande lacuna.

  3. Jose Luiz disse:

    Excelente ponto de vista!
    Muito bem estruturado e explicado!
    Parabéns para o autor!

  4. Ibira jose batista dos santos disse:

    Artigo muito bom. Retrata o que de fato está acontecendo com as cidades da Bahia. A briga das facções por domínio territorial .

  5. Aroldo Scavello disse:

    Parabéns irmão, verdades muito bem colocadas e explanação perfeita do aumento da criminalidade.👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👊🏾👊🏾

  6. Márcio Teixeira disse:

    Grande irmão Nelmo, um intelectual um grande estudioso das Ciencias Policiais, vc merece tudo em tua vida grande mestre.

  7. Carlos Lima disse:

    Esse meu nobre companheiro deveria estar na ACADEPOL desenvolvendo os seus conhecimentos pra quem tá chegando e outros interessados a assistir um grande colega fazendo a sua parte. Obg mestre.

  8. Fernando Campelo disse:

    Muito boa explanação

  9. Alex Barros Costa disse:

    Infelizmente um problema crônico no Brasil, parabéns amigo Nelmo.

  10. SIDNEY AMORIM PIRES disse:

    Muito bom, infelizmente a tendência é piorar, já que o poder público não faz sua parte. As leis, a cada dia que passa, favorecem mais aos autores do crime do que as vítimas. Sem contar que policiais continuam a enxugar gelo. Meses, até anos de investigações, se expondo até conseguir um mandado, e depois de tudo cumprido, em pouco tempo você ver o cara na rua novamente. A violência assim nunca diminuirá. Esse é meu ponto de vista. Parabéns Nelmo.

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