Artigo do leitor: “Racismo no Brasil contemporâneo – o preço de nascer com a pele escura”

por Carlos Britto // 21 de novembro de 2025 às 09:46

Foto: ilustração/internet

No mês dedicado à Consciência Negra, o leitor Pedro Teobaldo traça uma conjuntura que pouco ou nada mudou do Brasil pós-escravatura aos dias atuais, em relação ao racismo.

Confiram:

O racismo no Brasil é uma realidade histórica e estrutural que atravessa séculos, moldando oportunidades, trajetórias e destinos. Apesar do país se orgulhar de sua miscigenação e diversidade cultural, composta por negros, brancos, indígenas e mestiços, a cor da pele ainda define o valor de muitas vidas e o acesso a direitos básicos de grande parte da população. Ser negro no Brasil em 2025 continua sendo uma experiência complexa, marcada por exclusão, violência e desigualdade, cuja compreensão exige fatos, análise histórica e reflexão ética.

A escravidão deixou marcas profundas que persistem até hoje. Após a abolição, milhões de negros foram expulsos das fazendas e lares, sem reparação ou acolhimento, obrigando muitos a formar quilombos ou ocupar regiões periféricas, morros e encostas nas cidades. A ausência do Estado e a falta de acesso a serviços básicos como saúde e educação consolidaram desigualdades históricas. Altos índices de mortalidade infantil, subnutrição e analfabetismo, tanto absoluto quanto funcional, foram consequências dessa exclusão sistemática. Essa desigualdade histórica ainda se reflete em mapas sociais contemporâneos, mostrando que territórios periféricos e comunidades negras permanecem desiguais em infraestrutura, oportunidades e serviços.

Segundo o Censo Demográfico de 2022 do IBGE, 55,5% da população brasileira é negra, somando pretos e pardos, enquanto brancos representam 43,5%. Apesar dessa maioria, negros continuam concentrados nas posições mais vulneráveis da sociedade. Em 2023, mais de 87% das pessoas mortas pela polícia eram negras, e nos homicídios em geral, 76,5% das vítimas eram negras. Esses números revelam que o racismo não precisa se anunciar: ele se manifesta nas estatísticas, nas abordagens, nas suspeitas e na forma como cada corpo é percebido no espaço público. Mapas regionais da violência confirmam que periferias e áreas de alta densidade negra concentram o maior número de mortes e intervenções policiais, evidenciando a seletividade da violência e o racismo estrutural.

A desigualdade também se reflete na fome e na pobreza. Em 2024, cerca de 24,2% dos domicílios brasileiros viviam com algum grau de insegurança alimentar, sendo 7,7% em situação moderada ou grave. Entre esses lares, 60% são chefiados por pretos ou pardos. Mapas da fome mostram que essas famílias estão concentradas em regiões historicamente marginalizadas, reforçando o padrão de exclusão intergeracional. A insegurança alimentar, a ausência de políticas públicas eficazes e a persistente desigualdade social continuam atravessando as mesmas comunidades, perpetuando ciclos de vulnerabilidade.

Na educação, o quadro também evidencia desigualdade estrutural. Apesar do avanço das políticas de cotas, a presença negra nos cursos mais prestigiados das universidades públicas permanece baixa. Em Medicina, apenas 2,8% dos formandos são pretos e 19% pardos, contra 75% de brancos. Em cursos como Direito, Odontologia e Engenharia, os números melhoram, mas ainda refletem barreiras históricas. Mapas de acesso à educação superior de qualidade mostram que regiões com maior presença de jovens negros continuam desfavorecidas, tornando o privilégio de oportunidades um reflexo de desigualdade estrutural e histórica.

O futebol, frequentemente exaltado como expressão da miscigenação brasileira, também revela paradoxos do racismo. Embora negros tenham protagonizado a história do esporte, episódios de discriminação persistem, tanto em confrontos internacionais quanto na memória do público. Por exemplo, em março de 2025, o jogador sub-20 Luighi, do Palmeiras, foi alvo de gestos racistas imitando macaco por torcedores durante partida da Libertadores, o que gerou indignação e repercussão institucional. Historicamente, o futebol brasileiro já teve grandes ídolos negros, como Pelé e Leônidas da Silva, assim como em outros países da América Latina, reforçando que o racismo é fruto da ignorância e não da realidade do talento ou do mérito.

O combate ao racismo no Brasil tem uma trajetória de resistência. Quilombos, movimentos culturais, esportivos e a criação de políticas de ação afirmativa são exemplos de luta contra a exclusão histórica. Mapas e dados recentes mostram que políticas de cotas e ações de inclusão têm efeito positivo, mas ainda insuficiente para superar desigualdades centenárias. A conscientização social, a educação e a documentação das desigualdades são ferramentas essenciais para a transformação estrutural.

Celebrar o Dia da Consciência Negra em 2025 é reconhecer que a luta contra o racismo não se limita a datas simbólicas, mas exige ação contínua, conhecimento e empatia. Significa reafirmar que a única raça existente é a humana e que cada vida tem valor inalienável. Mapas de violência, fome e educação, aliados à análise histórica, mostram que é possível compreender padrões estruturais e agir para reduzi-los. Reconhecer essas desigualdades, enfrentar o racismo em todas as suas formas e promover igualdade de oportunidades é, acima de tudo, um ato de humanidade, justiça e compromisso com o futuro do país.

O Brasil, miscigenado e culturalmente rico, precisa assumir sua dívida histórica com a população negra, fortalecer políticas públicas, garantir acesso a direitos básicos e oportunidades equitativas. Só assim poderá construir uma sociedade justa, onde a cor da pele não determine destino, dignidade ou valor. Este é o chamado de referência para o Brasil contemporâneo: ver, agir e transformar, para que a história de exclusão dê lugar à história de igualdade e cidadania plena.

Teobaldo Pedro/Leitor-Juazeiro (BA)

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