Artigo do leitor: “O País refém entre a covardia e a conivência”

por Carlos Britto // 30 de outubro de 2025 às 19:31

Foto: reprodução

A megaoperação policial no Rio de Janeiro rendeu uma reflexão do leitor Luiz Gonzaga Granja Filho (Dr.Lulinha) em relação ao combate à criminalidade. Confiram:

O Rio de Janeiro amanheceu em guerra no dia 28 de outubro. Mais de dois mil agentes foram às ruas em uma das maiores operações da história do Estado, com blindados, helicópteros e a missão de libertar territórios há muito tempo dominados por facções. O saldo foi duro: mais de 130 criminosos mortos, quatro policiais tombados em combate e um país novamente dividido entre quem aplaude a coragem e quem acusa o Estado de opressor.

As manchetes, previsivelmente, choraram pelo lado errado. Chamaram de “massacre” o que foi, na verdade, o esforço de devolver à população o direito elementar de existir sem pedir licença ao crime. Esqueceram das mães que rezam no portão, dos trabalhadores que saem antes do sol nascer sem saber se voltam e dos comerciantes que pagam pedágio duplo: um ao Estado ausente e outro ao poder paralelo que governa de fuzil na mão.

O Brasil vive sob o domínio de corporações criminosas que deixaram de ser meras quadrilhas. Tornaram-se verdadeiros conglomerados econômicos e políticos, com faturamento bilionário, influência internacional e conexões institucionais. Controlam o gás, o transporte, a internet, a energia e o território. Onde o Estado se cala, o crime fala. Onde a lei recua, o crime legisla.

Esse modelo de dominação não nasceu aqui. É o mesmo que transformou partes do México em zonas de guerra, que arruinou a Venezuela sob Chávez e Maduro, que subjugou a Nicarágua e que quase destruiu El Salvador antes da virada histórica promovida por Nayib Bukele. Em menos de uma geração, esses países provaram o preço do silêncio dos bons e da conivência das autoridades. O Brasil, se continuar nesse caminho, será apenas mais uma peça no dominó latino-americano da decadência.

A questão não é apenas policial, mas civilizatória: até onde iremos tolerar que o crime seja tratado como oprimido e o herói como vilão? Rodrigo Pimentel, ex-oficial do BOPE, já alertava que as facções não vivem mais do tráfico, mas da exploração territorial. Cobram “caixinhas” de padarias, açougues, feirantes e motoristas. Vendem gás, internet, segurança e até alugam casas de vítimas expulsas. Quem nega isso ou é cúmplice, ou vive do conforto da mentira.

A operação do Rio foi necessária, mas insuficiente. Necessária porque provou que o Estado ainda tem homens dispostos a lutar. Insuficiente porque a guerra não é apenas nos morros; é política, econômica e internacional. O narcotráfico já não é um problema de polícia: é uma engrenagem de poder que atravessa fronteiras e financia ideologias. Não por acaso, o ex-chefe de inteligência da Venezuela, Hugo Carvajal, revelou que governos de esquerda na América Latina foram financiados com dinheiro sujo do tráfico e da corrupção. O crime aprendeu a vestir terno, a discursar sobre “direitos humanos” e a posar de vítima enquanto aparelha instituições e tribunais.

Nesse contexto, o esforço de Donald Trump em classificar os cartéis como organizações narco-terroristas ganha relevância mundial. Ele tenta abrir caminho para que o maior poder bélico e de inteligência do planeta possa agir contra redes criminosas que nenhum país, sozinho, consegue enfrentar. Essa definição permitiria bloqueios financeiros, ações conjuntas e o uso legítimo da força contra estruturas que já desafiam a soberania de diversas nações.

Mas fica a pergunta: sem a ajuda dos Estados Unidos, quem, de fato, enfrentará essa guerra? Quantos governadores brasileiros, sobretudo os alinhados ao governo federal, terão coragem de seguir o exemplo do Rio? Quantos preferirão o silêncio, a covardia e o cálculo eleitoral? É legítimo duvidar que outro Estado repita o gesto, e quase certo que o poder central do narcoterrorismo tentará retaliar, voltando a ocupar os espaços reconquistados.

O Brasil não pode continuar fingindo que a criminalidade é apenas um desvio social. O que se consolida é um projeto de poder paralelo, articulado e transnacional. E diante disso, ecoa a velha pergunta: uma andorinha só faz verão?

Se o país quiser sobreviver, precisará escolher entre o discurso e a ação, entre o conforto da omissão e o risco da coragem, entre a covardia e a responsabilidade.

Bandido é bandido.

O crime que desafia o Estado é terrorismo.

E a omissão, seja por medo ou conveniência, é a pior forma de traição nacional.

Luiz Gonzaga Granja Filho (Dr. Lulinha)

Artigo do leitor: “O País refém entre a covardia e a conivência”

  1. Sempre Atento disse:

    Só quem não vai concordar com seu artigo, é o pessoal do PT,PSOL ,Direito dos Manos e os defensores de traficantes.

  2. MARIA APARECIDA DOS SANTOS disse:

    Como faço pra mandar um artigo pro blog??

  3. Guto Freitas disse:

    Uma lúcida crônica sobre um Estado omisso e “conivente”. entre as ondas e as pedras, onde ficam nós os mexilhões ?

  4. Epitácio Villar disse:

    Concordo totalmente. Texto brilhante e esclarecedor.

  5. Mariana Duarte disse:

    A Polícia é a última reserva do cidadão. Ela jamais pode ser subjugada.
    Um país democrático não pode ter “zona dominada” por nada, além do Estado e do povo.
    Uma pena eventual morte de inocente na operação, mas inocentes morrem todos os dias pelas mãos criminosas da bandidagem.
    Quem “fuma um baseado ou cheira uma coisinha” sinta-se culpado.

  6. Ghassan Ghais disse:

    O melhor que já li em todos os tempos , uma explanação cirúrgica da situação, parabéns deste grande escritor brasileiro decente.

  7. Braga Sá disse:

    De fato, um texto completo de argumento racional. Parte de um renomado médico brasileiro, um dos melhores em sua especialidade e como bom brasileiro resolveu dar sua contribuição, não no bloco cirúrgico, mas na área jornalística e o fez de maneira correta, simples, mas responsável e objetiva. Parabéns, eminente medico pernambucano!

  8. FLAVIO LUIZ PICCOLI disse:

    Assino embaixo meu Amigo Irmão. Com a COVID, tive uma recaída de minha Miastenia mas acho que vou com a ajuda da tua TIMECTOMIA, voltar a vencer minha Miastenia. Só mesmo um coração maior que o peito como o teu e tua incomensurável inteligência Amigopodia fazer a belíssima gravação que enviaste neste aniversário de nossa querida Manu.

  9. Juvanildo Miguel dos Santos disse:

    Parabéns pelo verdadeiro texto! Pior que temos uma grande mídia comprada, só para postas e mostra as coisa contrárias a esse testo, que muito pouca gente tem a coriosidade de ler. A Globo lixo por ex. o faz com muita propriedade, se pondo de vítima e macificando todos os dias na cabeça dos leigos.

  10. Walder Ary Júnior disse:

    Concordo Dr. Luiz Gonzaga! Texto bem preciso e contundente.

    Se não houver ajuda de fora não teremos êxito.

    Não temos recursos suficientes para uma ação desta monta.

  11. disse:

    E estamos esperando o quê? Vamos bombardear todas as favelas e presídios do Brasil e o problema estará solucionado, com um simples apertar de botão. (Contém ironia).

  12. Jorge Monteiro disse:

    Brilhante Doutor Lulinha! Será que o sapo barbudo vai ter coragem de comprar essa briga?

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