Artigo do Leitor: “O dia em que o Brasil celebrou um espetáculo e não viu o roubo a céu aberto”

por Carlos Britto // 30 de novembro de 2025 às 12:02

Foto: reprodução

Neste artigo, a opinião do advogado Rivelino Liberalino afirma que, enquanto o país se concentrava nas prisões de figuras políticas, ocorreu a maior falência bancária recente com o colapso do Banco Master, que consumiu grande parte do Fundo Garantidor e expôs riscos para recursos da RioPrevidência. Também menciona uma rede de influência ligada ao banco e sugere que decisões importantes no sistema financeiro e jurídico ocorreram sem grande atenção pública, deixando os prejuízos para os correntistas dentro das regras do FGC. Veja:

Bolsonaro foi preso. Generais foram presos. As manchetes explodiram como fogos de artifício no fim de tarde: barulho, luz, fumaça, cliques, debates, hashtags. De um lado, quem vibra. Do outro, quem se desespera. Mais uma vez, o país inteiro se organiza em torcidas.

Parecia que o palco principal era aquele. Mas não era.
Enquanto as câmeras miravam a cela, o verdadeiro ato acontecia nos bastidores — e quase ninguém se deu ao trabalho de olhar para lá.

Enquanto o Brasil discutia política em formato de curtida, acontecia, silenciosamente, a maior falência bancária da nossa história recente. O Banco Master colapsou devendo mais do que tinha. Para socorrer o estrago, foi preciso abrir o cofre do Fundo Garantidor — aquele colchão que levou três décadas para ser montado, centavo a centavo, com o dinheiro de milhões de brasileiros.

Pense um segundo nisso:
Um banco que respondia por cerca de 0,5% dos depósitos conseguiu engolir algo em torno de 40% de todo o colchão de segurança do sistema. Metade por cento consumiu quase metade do que protegemos em trinta anos. Enquanto o povo brigava por narrativa, o cofre era arrombado a céu aberto, em silêncio administrativo.

No meio disso tudo, estava a RioPrevidência, que administra o futuro de aposentados e pensionistas do Estado do Rio. Dinheiro de gente que já trabalhou uma vida inteira, dinheiro que tem rosto, nome e CPF. Entre um e três bilhões aplicados em produtos sem a devida garantia. Não é cifra abstrata: é a velhice de alguém colocada em risco. A dignidade de alguém tratada como ficha de cassino.

E quase ninguém pergunta como um banco desse porte conseguiu operar blindado por tanto tempo.

A resposta não estava nas manchetes. Estava nas mesas de jantar em Londres, nos eventos luxuosos, nas consultorias de duzentos e cinquenta milhões, nos encontros sem ata, de porta fechada.
Michel Temer contratado para abrir portas. Guido Mantega conduzindo o banqueiro até o Palácio. Escritórios de parentes de autoridades de Brasília com contratos milionários. Um ex-ministro do STF atuando como conselheiro do próprio banco.

A rede de proteção de Vorcaro era extensa, elegante, silenciosa. Atravessava o Judiciário, o Executivo e o Congresso, costurada discretamente há anos.

O Banco Central viu. Não se trata de desconhecimento — seria ingênuo acreditar nisso. Viu os números, viu a exposição, viu o risco. E, ainda assim, não agiu na velocidade e na firmeza que a situação exigia. Essa inércia não parece um simples erro técnico: é sintoma de que havia outros interesses em jogo além da matemática financeira.

Quando não dava mais para esconder, a solução foi velha conhecida: soltar fumaça.
Prisão em série. Operações com nome de impacto. Manchetes estridentes. Paixões reacendidas.

É um roteiro que sempre funciona: o povo hipnotizado pelo espetáculo, o sistema operando no escuro, e o dinheiro, mais uma vez, escorrendo por baixo da porta.

Não é novidade. A história já contou essa mesma trama com outras roupas.

A Revolução Francesa começou sob intensos aplausos. A multidão comemorava a queda do rei, a prisão de nobres, a censura de jornais “perigosos”. Parecia vingança justa. Parecia vitória moral. Parecia libertação.

Até que, tarde demais, perceberam que enquanto gritavam nas ruas, o poder real se concentrava nas mãos de um pequeno grupo. Na França, eram doze. No Brasil de hoje, são onze.

Onze pessoas não eleitas. Onze pessoas que decidem o que pode e o que não pode ser dito. Onze que reinterpretam, ampliam, restringem o sentido das regras do jogo. Onze que, na prática, orientam o rumo do país acima e além da disputa eleitoral.

Mesmo quem confia no Judiciário como pilar de justiça e equilíbrio deve se perguntar:
Até que ponto essa confiança é justificada quando os próprios fundamentos do sistema financeiro e político parecem escapar ao seu escrutínio?

A guilhotina não começou pelo tirano. Começou pelos entusiasmados.
Os que mais vibraram foram, pouco a pouco, os primeiros engolidos pelo monstro que ajudaram a alimentar. A lição é simples de entender, mas o mundo insiste em não aprender:
quando o povo aplaude a punição do inimigo político sem perceber o aumento de poder de quem pune, está, sem saber, fabricando o próprio algoz de amanhã.

No Brasil, a cada grande personagem derrubado, o Judiciário sobe mais um degrau. Testa um limite aqui, outro ali. Estica mais um pouco. Avança. E o povo, satisfeito porque o adversário do dia foi humilhado, não percebe que está fortalecendo justamente o poder que, em situações extremas, pode se tornar o árbitro absoluto das regras — para o bem e para o mal.

O elenco muda. A estrutura, não.

No fim, a conta cai sempre no mesmo colo.
Se você tinha um milhão aplicado, receberá duzentos e cinquenta mil. O resto desaparece na matemática fria das “regras do sistema”. Se, em vez disso, você devia ao banco, o novo controlador cobrará até o último centavo, com juros e correção.

Quem comandou a fraude negocia, contrata bons advogados, se protege em gabinetes e escritórios caros. Quem confiou no sistema paga a conta.

É sempre o mesmo tabuleiro:
O povo discute prisão.
O país perde dinheiro.
E o poder que realmente importava passa ileso.

Este Brasil de 2025 não é, em essência, sobre Bolsonaro. Não é sobre este ou aquele político. Não é sobre quem caiu nesta semana ou na próxima operação.

É sobre uma máquina jurídica e financeira que cresce, silenciosa, a cada distração coletiva. Sobre um teatro que empolga as massas, enquanto as engrenagens reais continuam girando sem plateia, sem luz, sem escrutínio.

A história tenta avisar. Ela repete a lição, século após século, até que alguém finalmente pare para escutar.

Resta saber se o Brasil está disposto a aprender — ou se prefere continuar aplaudindo enquanto, calmamente, alguém afia a lâmina.

Rivelino Liberalino/advogado

Artigo do Leitor: “O dia em que o Brasil celebrou um espetáculo e não viu o roubo a céu aberto”

  1. Fabricia de Sá Granja disse:

    A prisão de Bolsonaro foi para abafar o roubo no banco Master,roubo este que a esposa do Alexandre de Moraes faz parte

  2. Edilberto disse:

    O teatro de horrores que se instalou no Brasil, faz 3 anos que o governo sujo atual, PERSEGUE e condena o ex presidente Bolsonaro que não cometeu nenhum crime. Liderado pelo ex presidiário presidente que “passou” 580 dias na cadeia por corrupção (roubo mesmo) e, foi “descondenado”. Está infiltrando seus comparsas (descondenados) no governo (ministros), advogados de facção, dinheiro na cueca, desvio na Covid19, na Bahia governo comprou até drogas. A cada dia estoura a roubalheira em estatais, presididas por comparsas deste governo corrupto, a violência aumenta. E um ministro do STF ditador apoiado pelo governo insiste em “matar” o ex presidente Bolsonaro, com narrativas falsas que entorpece o nosso povo, menos esclarecido e fanáticos pela facção suja esquerdista. O presidente Bolsonaro não causou “prejuizo”, desfalque algum aos cofres públicos nem ao nosso povo. É apenas uma perseguição para manter a organização política que ai está no poder e, tira-lo de cena por afrontar a quadrilha política que se instalou desde 1964. Essa organização suja leva o Brasil ao caos financeiro, fundo do poço, taxando e explorando o povo, o tempo vai confirmar isso.

  3. José Monteiro disse:

    Faltam consistência, dados e informações. Trata-se de um texto opinativo. Opinião pode ser dada: não tem custo. Não necessita checar ou confrontar dados. Espelha uma das múltiplas visões interpretativas de um fato.
    A Semiótica explica.

  4. disse:

    E isso porque as previdências geral e próprias ainda são públicas. Imagine o cenário, desejado por muitos, de uma previdência única e privada. O que ocorreria? Exatamente isso: “o fundo quebrou”, diriam os donos dos fundos de pensão, enquanto o trabalhador, que passou a vida inteira contribuindo, ficaria à míngua. É o cenário perfeito para a atuação de canalhas como este do banco Master e outros, que tratam o servidor público como vagabundo e são obcecados pelos fundos de pensão dos servidores. Paulo Guedes tá de olho.

  5. Antônio Marreco disse:

    Uma situação dessas, em que um suposto banqueiro, comete uma fraude desse jaez, em alguns países implica em pena de morte. Isso é fato. Da mesma forma, administradores do fundo dos aposentados que colocam bilhões em investimentos em banco de saúde financeira duvidosa, merecem ser investigados para, se tiverem participado da fraude, serem punidos e sofrerem perdimento de patrimônio para ressarcir os aposentados do fundo previdenciario. Quanto aos generais golpistas e o capitão chefe da trama, nada mais justo do que cadeia pelos crimes praticados, tudo dentro da legalidade.

  6. Paulo disse:

    Na política e na justiça hoje só tem corruptos e um bando de noiado aplaudindo o caos que está chegando

  7. Zezim da Jega Amojada disse:

    Pensamento, mais uma vez, tendencioso. Esse advogado é extremista e bolsonarista, pois tenta criar a possibilidade de “nuvens de fumaça” nas distintas situações criadas pela própria imprensa golpista e elitista. Sem condições esse colunista. Desnorteado!

  8. Paulo disse:

    Zezim da jega se e julgue e petralha

  9. Rivelino Liberalino disse:

    José Monteiro , obrigado por ter lido e por ter deixado sua impressão.
    Só faço uma observação sincera: seu comentário diz muito menos sobre o texto e muito mais sobre o desconforto que ele provoca.

    Quando alguém responde a um conteúdo forte falando apenas da forma, é porque não conseguiu — ou não quis — encarar o que estava dito.
    A fuga para a “semiótica”, para o “opinativo”, para o “faltam dados”, costuma ser o abrigo de quem prefere analisar o verniz a tocar na madeira.

    Nada do que escrevi você contestou.
    Nenhum ponto. Nenhuma informação.
    Você apenas deslocou a discussão para um canto mais seguro, mais técnico, mais asséptico.
    É compreensível.
    Alguns realmente precisam dissecar a embalagem para não abrir a caixa.

    Mas agradeço sua participação.
    Ela mostra exatamente o que o artigo expõe:
    muita gente se ocupa do detalhe periférico para não admitir o tamanho do que está acontecendo bem diante dos olhos.

    De minha parte, sigo tranquilo.
    O incômodo também é um tipo de leitura.
    Às vezes, até a mais honesta delas.

    Abraço.

  10. ANTONIA COSTA DOS SANTOS disse:

    Parabéns! Foi cirúrgico! Ah as vaidades e as cegueiras.

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