Artigo do leitor: “Como será que nasceu o Rio São Francisco?”

por Carlos Britto // 03 de outubro de 2016 às 21:36

Foto: Blog do Carlos Britto/arquivo

rio são francisco

Nesta quarta-feira (4) o Rio São Francisco – também conhecido por Rio da Integração Nacional ou simplesmente ‘Velho Chico’ – está completando 515 anos de descobrimento. O ambientalista Vitório Rodrigues, um dos nossos colaboradores mais assíduos, não deixou de enviar seu artigo, desta vez levantando algumas curiosidades, sem deixar de fazer um alerta.

Confiram:

Hipótese:

Há cerca de 65 milhões de anos, devido aos constantes movimentos da Terra, o globo foi se dividindo em partes que foram batizadas depois de placas tectônicas. Com esses movimentos poderá ter havido uma fissura, e daí o surgimento da calha principal do Rio São Francisco, e pelo processo erosivo pode ter ocorrido o aparecimento de seus afluentes. Ou será que todos eles surgiram por meio do processo erosivo? E, se foi, como se explica o formato do Cânyon Sanfranciscano que, a grosso modo, dá uma impressão que ocorreu uma fissura na Terra durante as eras geológicas, dando caminho ao nosso Velho Chico? É claro que estamos apenas fazendo suposições. Quem tiver outras explicações mais convincentes, por favor, fique à vontade.

Segundo a Lenda de Irati ou Iati:

Para os amantes da cultura lendária, o Rio São Francisco surgiu a partir do derramamento das lágrimas da índia mais bela da Serra da Canastra. E assim é narrado: “Era uma vez, uma índia chamada Irati, a bela filha da Serra da Canastra. Contam que sua beleza era tanta que todos os animais das matas paravam para admirá-la. Certo dia, os tambores inimigos tocaram distante, chamando para a guerra os bravos guerreiros de Irati. A pedido dela, desceram a serra rumo ao desconhecido e nunca mais voltaram. Irati passou a seguir seus rastros diariamente e nos campos pisoteados foi formando um caminho comprido, onde o mato não mais brotava. Desiludida, ela chorou. E sobre o pranto de Irati e das árvores caiu o pranto do céu. Dia após dia, noite após noite, as lágrimas caíram incessante. Gotejando sobre as pedras, deslizando, enchendo as cavidades, avolumando-se, encachoeirando-se, seguindo sempre adiante. Impetuoso e incontido, cobrindo os buracos abertos pelos pés dos bravos guerreiros. Foi do pranto de Irati, a bela filha da Serra da Canastra, que nasceu o Rio São Francisco”.

História segundo Vicente Licinho Cardoso:

“Rio sem história… porque, de fato não há história sem sequência, e, do povoamento e penetração do Vale do São Francisco, ficaram-nos apenas depoimentos isolados, dados escassos ou detalhes insignificantes (…), rio sem história. De fato, não há como segui-la no emaranhado desconexo de dados isolados, sem datas que se superponham ou referências que se completem(…)”. (Cardoso, Margem da História do Brasil – 1933). (6) De fato, o único mapeamento completo já feito no Rio São Francisco foi o de Fernando Halfeld, entre 1852 e 1854, de Pirapora até a foz, tipografado em 20 de julho de 1858 na Tipografia Moderna de George Bertran, na cidade de Paraibuna Rio de Janeiro.

Situação ambiental atual:

Desde quando o homem branco descobriu o Rio São Francisco, começaram os desmatamentos, exploração das margens para o cultivo da agricultura de subsistência, substituição das matas ciliares por pastagens para sustentar a criação do gado introduzido por Garcia D’ávila, garimpagem de minérios, produção de carvão para as siderúrgicas com o que sobrou da vegetação, introdução da agricultura irrigada em larga escala, construção de barragens para geração de energia, que indubitavelmente têm dado origem ao desmoronamento de ribanceiras e consequentemente ao assoreamento, aumento das cidades instaladas às margens do rio principal e seus afluentes, aumentando de forma descontrolada o lançamento de efluentes sem tratamento, que tem comprometido o desenvolvimento da fauna ictiológica (peixes) e terrestre, e por aí vai.

Com todos esses problemas causados pelas ações antrópicas, somados aos problemas oriundos da própria natureza, como escassez de chuva, muito vento arrastando a camada agricultável do solo desnudo (sem vegetação), contribuindo para o soterramento das calhas fluviais. O que tem o Rio São Francisco pra comemorar neste dia 4 de outubro de 2016, quando completará 515 anos do descobrimento pelo homem branco?

Mas ainda não é fim, ainda há tempo de salvá-lo. Mas para isso precisamos de união da sociedade e governos de todos os estados brasileiros e do governo federal, para o desenvolvimento de ações reparadoras (preventivas e corretivas), pois nosso rio serve a todo o Brasil, e não apenas ao Nordeste. O Rio São Francisco é original, não tem cópia, vamos salvá-lo. A natureza agradece.

Vitório Rodrigues de Andrade/Ambientalista e Professor

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