Artigo do leitor: “A luta de classe e a representação política”

por Carlos Britto // 08 de junho de 2016 às 20:00

Em artigo enviado a este Blog, o diretor da Associação dos Policiais e Bombeiros do Estado da Bahia (Aspra)/Representação Juazeiro, Ênio Silva da Costa, fala sobre a luta de classe da categoria. No texto, ele enaltece as entidades de policiais e bombeiros.

Acompanhem:

Durante a mobilização paredista dos policiais e bombeiros militares baianos no ano de 2001, vivemos na pele a falta de representantes políticos. Foi um momento muito importante para toda classe, porém muitos foram duramente punidos. Quando não demitia sumariamente, o comandante geral a serviço do governo destilava o seu ódio contra os praças. Muitos foram transferidos para os lugares mais distantes do estado. Uma forma cruel e desumana de tratar quem simplesmente lutava pelos os seus direitos.

Nas últimas eleições para deputado estadual e federal, um fenômeno claro: cada vez mais policiais são eleitos para as assembleias legislativas nos estados e para a Câmara Federal. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, iniciaram o mandato em 2015 cerca de 15 deputados estaduais, e 40 estaduais são policiais, que de algum modo atuaram discutindo polícia e segurança pública. É um sinal claro de que há uma mobilização entre os integrantes da categoria, visando a defender seus interesses.

Durante o processo de elaboração da atual carta política do país e no período que antecedeu às suas primeiras emendas, em 1993, as Polícias Militares e os Corpos de Bombeiros tiveram seus interesses seriamente ameaçados, o que deu origem ao início de movimentos em defesas dessas instituições. Nesse contexto surgem várias associações em defesa dos policiais e bombeiros militares. Nessas ações ficou evidenciada a necessidade dessas instituições contarem com representações políticas nas casas legislativas de todos os níveis.

Com o passar do tempo, essa necessidade foi percebida pelos dirigentes das associações representativas de classe dessas corporações, e absorvida também pelo espírito de cidadania dos policiais e bombeiros militares, que teve um grande impulso com o advento da Constituição atual. Levadas por esse sentimento, as associações de policiais foram se articulando e criando entidades nacionais, na busca de criação de meios de pressão política na luta em defesa dos seus interesses.

Dessa forma, teve início um processo de politização desses profissionais e uma busca cada vez maior pela ocupação de espaços políticos nas esferas municipal, estadual e nacional. Nas eleições realizadas ao longo desse tempo, policiais, do serviço ativo e da reserva, foram eleitos para os cargos de Vereadores, Prefeitos, Deputados Estaduais e Federais, em todo país. 

Em grande parte da polícia brasileira há um sentimento de abandono entre os policiais em relação as suas necessidades trabalhistas. Às vezes faltam condições básicas e segurança para as realizações das missões. 

Para entender que há uma luta de classes na polícia brasileira, um exemplo bem simples: existe um grupo formado por pessoas do alto escalão das policias (oficiais e delegados) com o lobby muito bem articulado no Congresso e que não tem o menor interesse nos avanços da segurança pública. Esse grupo necessita desse lobby para garantir a manutenção de poder dentro do sistema atual, visto que para superar as contradições apresentadas por esse modelo vigente, é necessário que se mude as estruturas de poder dentro das corporações.

Existe um abismo salarial entre os cargos ocupados pelos oficiais e os ocupados pelas praças. Isso se dá pela ausência de um plano de carreira para os Praças. Por isso defendemos a carreira única. Que o ingresso na corporação seja através do posto de soldado e ao longo do tempo, sendo promovido ao último posto, que é o de coronel, habilitado para comandar a corporação. 

Por fim, somente através da representação política, com escolhas bem definidas dos seus representantes, com discussões e organização politica, os policiais e bombeiros militares, assim como outras classes sociais e profissionais, terão vez e voz nas decisões das politicas públicas.

Ênio Silva da Costa/Sargento BM e Diretor da Aspra Juazeiro

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