Artesanato e produtos típicos do Sertão pernambucano na mira de nova IG

por Carlos Britto // 28 de abril de 2025 às 20:53

Foto: Roberta Guimarães/Fenearte

O artesanato de madeira de Sertânia (Sertão do Moxotó), assim como o bolo de rolo, a renda renascença de Poção e o artesanato de barro de Caruaru (Agreste Central), representa mais do que um produto: é parte fundamental da identidade cultural de Pernambuco. Agora, uma iniciativa do Governo de Pernambuco, através da Agência de Desenvolvimento Econômico (Adepe) e do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/PE), busca dar ainda mais notoriedade a esses e outros símbolos culturais. Juntas, as instituições desenvolverão um projeto para propor o reconhecimento de 13 Indicações Geográficas (IGs) para o Estado, com um investimento de R$ 2,9 milhões.

Em Sertânia, o artesanato em madeira destaca-se pela produção de esculturas que refletem a cultura e o cotidiano sertanejo. A tradição começou com famílias locais que, utilizando madeiras nativas da caatinga, como umburana e cedro, passaram a esculpir figuras humanas, animais e cenas típicas da vida no sertão. As peças são marcadas por traços finos, expressivos e detalhados, evidenciando a habilidade dos artesãos. Um dos principais representantes dessa tradição é Marcos Paulo Lau da Costa, conhecido como ‘Marcos de Sertânia’ (foto). Desde os 12 anos, Marcos aprendeu a arte da escultura com seu avô e tios, inicialmente produzindo utensílios domésticos. Com o tempo, desenvolveu um estilo próprio, criando peças que retratam a vida sertaneja, como a escultura da cachorra Baleia, inspirada no livro ‘Vidas Secas’, de Graciliano Ramos. Suas obras já foram expostas em feiras e galerias pelo Brasil e no exterior.

A atividade artesanal é uma importante fonte de renda para as famílias da região. As peças são comercializadas em eventos como a Fenearte, CasaCor, feiras de decoração, mercados locais e outros espaços culturais, sendo muito procuradas por turistas e apreciadores da arte popular. O reconhecimento do artesanato em madeira de Sertânia como IG valoriza essa expressão cultural, protege sua autenticidade e impulsiona o desenvolvimento econômico local. O projeto da Adepe e do Sebrae tem como objetivo identificar, estruturar e solicitar o registro das novas IGs junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Atualmente, Pernambuco conta com três IGs registradas: Vinhos do Vale do São Francisco, Uvas e Mangas de Petrolina e o Porto Digital no Recife. Em todo o Brasil, existem 130 Indicações Geográficas registradas, principalmente em estados com fortes tradições agrícolas e artesanais, como Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná.

Além do artesanato de madeira de Sertânia, também serão estudados produtos como: mel e queijo coalho do Araripe, barro de Caruaru, abacaxi de Pombos (Agreste Central), café de Triunfo (Sertão do Pajeú), manta caprina da região de Dormentes (Sertão do São Francisco), artesanato de Tracunhaém (Mata Norte), renda renascença de Poção (Agreste Central, além de iguarias como os bolos de noiva, bolo de rolo e bolo Souza Leão. O projeto será desenvolvido em quatro etapas: diagnóstico, estruturação, submissão dos pedidos e acompanhamento dos processos, com conclusão prevista para 2026.

Para o presidente da Adepe, André Teixeira Filho, a iniciativa representa um grande avanço na valorização dos arranjos produtivos locais. “É missão da Adepe fomentar o desenvolvimento dos arranjos produtivos de todo o Estado, em seus 184 municípios. O Projeto de Identificação Geográfica vem para dar destaque àqueles mais relevantes e torná-los exemplo da valorização do que é produzido em Pernambuco“, destacou. Já o superintendente do Sebrae/PE, Murilo Guerra, enfatizou que a valorização do regionalismo é uma estratégia fundamental para o desenvolvimento econômico e social. “O reconhecimento das Indicações Geográficas protege o conhecimento tradicional ao mesmo tempo em que agrega valor aos produtos e serviços locais”, afirmou.

Indicação Geográfica

As Indicações Geográficas são certificações concedidas a regiões que se tornaram conhecidas ou apresentam características distintivas ligadas a um produto ou serviço. Elas podem ser classificadas como Indicação de Procedência (IP), quando a região já é reconhecida pela produção, fabricação ou extração de determinado produto ou prestação de determinado serviço, ou Denominação de Origem (DO), quando há uma ligação entre as características do produto e seu meio geográfico e dos fatores naturais e humanos ali presentes.

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