Coisas que se recebe pela internet…

por Carlos Britto // 21 de julho de 2010 às 23:02

A professora Socorro Lacerda, uma feminista por convicção, enviou ao Blog este belo poema, da jornalista e atriz capixaba, Elisa Lucinda.

Intitulado “Aviso da lua que menstrua”, o texto é uma ode ao universo das mulheres. Vale a pena ler até o fim:

Moço, cuidado com ela!

Há que se ter cautela com esta gente que menstrua…

Imagine uma cachoeira às avessas:

cada ato que faz, o corpo confessa.

Cuidado, moço

às vezes parece erva, parece hera

cuidado com essa gente que gera

essa gente que se metamorfoseia

metade legível, metade sereia.

Barriga cresce, explode humanidades

e ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar

mas é outro lugar, aí é que está:

cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita..

Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente

que vai cair no mesmo planeta panela.

Cuidado com cada letra que manda pra ela!

Tá acostumada a viver por dentro,

transforma fato em elemento

a tudo refoga, ferve, frita

ainda sangra tudo no próximo mês.

Cuidado moço, quando cê pensa que escapou

é que chegou a sua vez!

Porque sou muito sua amiga

é que tô falando na “vera”

conheço cada uma, além de ser uma delas.

Você que saiu da fresta dela

delicada força quando voltar a ela.

Não vá sem ser convidado

ou sem os devidos cortejos..

Às vezes pela ponte de um beijo

já se alcança a “cidade secreta”

a Atlântida perdida.

Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela.

Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas

cai na condição de ser displicente

diante da própria serpente

Ela é uma cobra de avental

Não despreze a meditação doméstica

É da poeira do cotidiano

que a mulher extrai filosofando

cozinhando, costurando e você chega com a mão no bolso

julgando a arte do almoço: Eca!…

Você que não sabe onde está sua cueca?

Ah, meu cão desejado

tão preocupado em rosnar, ladrar e latir

então esquece de morder devagar

esquece de saber curtir, dividir.

E aí quando quer agredir

chama de vaca e galinha.

São duas dignas vizinhas do mundo daqui!

O que você tem pra falar de vaca?

O que você tem eu vou dizer e não se queixe:

VACA é sua mãe. De leite.

Vaca e galinha…

ora, não ofende. Enaltece, elogia:

comparando rainha com rainha

óvulo, ovo e leite

pensando que está agredindo

que tá falando palavrão imundo.

Tá, não, homem.

Tá citando o princípio do mundo!

Coisas que se recebe pela internet…

  1. Rose disse:

    Êta poema marrom, no sentido do -, é daqueles que parece que vai ser bom e termina sem dizer a que veio. Já li coisa melhor.

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