Neste novo artigo, o advogado Rivelino Liberalino usa a rotina de quem enfrenta o trânsito da Ponte Presidente Dutra como metáfora para refletir sobre algo maior: a decadência silenciosa dos valores coletivos no Brasil. Entre buzinas e manobras apressadas, ele enxerga um retrato fiel da falta de empatia, do “jeitinho” e da desonestidade cotidiana que, segundo ele, corroem o país muito antes da corrupção chegar aos gabinetes.
Confiram:
Dizem que quando pedimos algo a Deus, Ele não nos entrega respostas prontas — Ele nos oferece exercícios transformadores. Durante muito tempo pedi a Deus paciência. E Ele, com Sua sabedoria perfeita, me matriculou num curso regular de longa duração, com previsão de pelo menos um ano: a travessia diária da Ponte Presidente Dutra.
Com as obras de ampliação e reforma, especialmente no trecho do lado de Juazeiro, formam-se engarrafamentos hercúleos — verdadeiras provas cotidianas de resistência interior. A cada manhã, o deslocamento ao escritório se transforma num ritual de espera, silêncio e observação.
Se fosse apenas o trânsito lento, tudo bem. O problema é que a cena diária sobre a ponte revela algo muito mais profundo e alarmante: o retrato da nossa decadência silenciosa.
Vê-se de tudo: motocicletas cortando por onde não há passagem, veículos invadindo pistas na contramão, condutores tentando se enfiar em brechas inexistentes, forçando os outros a ceder, como se o espaço público fosse um campo de batalha. Cada gesto parece ditado por um impulso quase instintivo de “levar vantagem” — ainda que por um metro. É nesse cenário aparentemente banal que o país se mostra nu.
Ali, sobre o Velho Chico, entre Juazeiro e Petrolina, não há maquiagem capaz de esconder a falta de empatia, a desonestidade cotidiana e a cultura do jeitinho que nos adoece como nação.
Os políticos não são anomalias — eles são reflexos ampliados do comportamento coletivo.
A corrupção de gabinete nada mais é que a versão institucionalizada do “jeitinho” na ponte:
– do motorista que corta fila;
– do cidadão que acha esperteza desrespeitar o outro;
– do eleitor que troca sua consciência por um saco de cimento;
– de quem compra o que é roubado achando que está sendo “esperto”.
Chamamos isso de “jeitinho brasileiro” como se fosse charme cultural. Mas não é. É anticultura. É o vírus invisível que corrói a confiança, desintegra o senso de comunidade e mina, pouco a pouco, os pilares da vida pública. Enquanto muitos se contentam com migalhas — bolsas, favores, “painhos” — a nação vai se esfarelando nos alicerces. Porque não é possível construir um país forte sobre pequenas espertezas.
A cada manhã sobre a ponte, Deus me oferece a chance de exercitar a paciência e moldar a alma. É ali, entre buzinas, manobras e olhares impacientes, que percebo com clareza: A decadência de um país não começa no Palácio — começa na fila, no trânsito, na ponte, no pequeno desvio “inofensivo”.
Talvez seja hora de pararmos de apontar o dedo para cima e começarmos a olhar para dentro. Porque é nos detalhes aparentemente mínimos que a grandeza — ou a ruína — de uma nação se revela.
Rivelino Liberalino/Advogado



Culpa dos políticos de Juazeiro ba
Perfeito bela análise e concordo com o advogado aí tem que ter muita paciencia nessa ponte
Concordo plenamente, entristece muito quando observamos que independe do nível de escolaridade, nas áreas profissionais temos médicos em vários postos de trabalho que coincidem horários, advogados com seus jeitinhos, muitas vezes induzindo o cliente até a mentir. Empresários obrigando seus motoristas a desobedecerem às leis de trânsito por estarem atrasados e muito mais…
Acredito que isso é o progresso que esta indo rapido demais e as cidade de Petrolina-PE e Juazeiro-BA não estão no mesmo ritmo faz jus a um nova ponte ou outra ou outro meio altenativo para travesia. O progresso cobra seu preço é isso que vemos todo dia.
Meu Deus, que drama para um congestionamento devido a uma obra kkk
Excelente reflexão. Foi cirúrgico nos adjetivos.
É alarmante a decadência ética do nosso povo e essa reforma da ponte é como um slide que transmite as imagens da metástase moral que nos encontramos. Pobre Brasil.
Belo texto que mostra o que nossa sociedade é!
Faz mais de 50 anos que escuto falar na duplicação da ponte presidente Dutra, é só se aproximar das eleições. Esse ano já vi um político do governo atual falando que o governo vai duplicar, logo vai aparecer construção de METRÔ em Petrolina como foi feito antes e outras mentiras, afinal o importante é se eleger não o povo. A verba do “Fundo Eleitoral” é de R$4,9 bilhões em 2026, um valor muito atrativo para qualquer político.
Texto de IA
Infelizmente temos que dizer: o povo têm o governo que merece. Ele (opovo) é o exemplo no seu comportamento. Triste.