Ex-secretário de Saúde comenta de novo sobre SUS e HDM

por Carlos Britto // 17 de abril de 2010 às 14:44

O médico José Menino Monteiro traz novamente à baila a questão da saúde pública em Petrolina, sobretudo no que se refere ao Hospital Dom Malan (HDM).

O artigo é longo, mas bastante informativo. Confiram:

Historicamente Pernambuco, juntamente com o Rio de Janeiro, era o Estado com maior rede hospitalar pública, quando ainda não existia o SUS – Sistema Único de Saúde. Com a Carta de 1988 e a Reforma Sanitária, a criação do SUS apontou para:

a) Acesso universal aos serviços de saúde;

b) Controle social;

c) Financiamento público e

d) Gestão municipalizada dos serviços de saúde, entre outros.

O foco inicial, com a edição da NOB-01 (Norma Operacional Básica 01), foi à organização dos serviços municipais de saúde, entenda-se aí a necessidade de que todas as unidades públicas de saúde existentes no município – federais e estaduais – devessem passar para o gestor municipal. Nas regras de então, o financiamento integral do SUS “municipal” só seria “possível” com o cumprimento destes requisitos.

Fiz questão de assim começar minhas colocações para me contrapor as afirmações do Dr. Britto, pois diferentemente do que ele afirma, o HDM É UM HOSPITAL DA SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE PETROLINA. Foi cedido, sob a forma de comodato, pela SES de Pernambuco, conforme Lei aprovada ainda no governo de Joaquim Francisco. O que o então prefeito FBC fez foi cumprir o que a Lei Orgânica da Saúde determinava. (Vale lembrar que a Prefeitura de Petrolina também assumiu a gestão de outras unidades Federais e Estaduais, tais como a FNS – Ex- Fundação SESP, os postos e unidades de saúde da Secretária Estadual, a exemplo do Posto do José & Maria). No contrato de então, coube ao Estado de Pernambuco a manutenção da folha de pagamentos dos servidores da SES e da FUSAM lotados no HDM. Estava previsto que a SES repassaria ao Município 50% dos excedentes das despesas mensais de manutenção. ESTE PARTE NÃO FOI HONRADA PELO ESTADO, enquanto ocupei a cadeira de Secretário Municipal de Saúde.

A instalação do SUS em Petrolina data da primeira gestão do Prefeito Guilherme Coelho. Nesta gestão era responsabilidade da Prefeitura a manutenção de atendimento nos postos (precários) de saúde da Cohab IV, da Vila Eduardo, José e Maria, Areia Branca e Jardim Amazonas, na área urbana, e atendimento na zona rural e distritos.

No primeiro governo FBC, como acima referido, com a nova orientação do Ministério da Saúde, ocorreu a expansão da rede de atendimentos do Município, em especial a gestão do HDM.

O teto financeiro de repasses do Fundo Nacional de Saúde para Petrolina girava ao redor de R$ 250.000,00 mensais, incluídos os repasses dos recursos relativos às atividades do HDM. Em outubro de 1994, após apresentação do projeto das atividades possíveis de serem desenvolvidas pelo município de Petrolina, foi aprovada a elevação do teto financeiro do SUS Petrolina para R$ 1.190.000,00 mensais; aumento de 376% graças ao projeto de Petrolina e empenho do governo municipal. Foi este fato determinante para consolidação do Sistema Municipal de Saúde.

Tais fatos, juntamente com a reforma do HDM, contribuíram para a mudança do perfil de atendimento do HDM. De 03 unidades – maternidade, hospital geral e hospital infantil – nasceu um hospital de referência e reconhecido pela UNICEF e MS.

Na história da assistência à saúde, no Brasil e no mundo, registra-se um fato que desafia a Administração: Maior eficiência gera maior gasto. Quanto melhor atende uma unidade pública mais ela é acessada pela população, inicialmente a população mais carente, depois toda a comunidade. Tal fato aconteceu e acontece com o HDM. À proporção que o hospital aumentava seu poder de resolutividade, mais e mais cidadãos, daqui e dalures, buscavam e buscam o HDM para solução dos seus agravos à saúde.

Cabia e cabe ao gestor municipal elaborar novos programas de saúde e submetê-los às instâncias deliberativas dos SUS, municipal, regional, estadual e nacional, para, tendo seus projetos aprovados, buscar fontes de financiamentos através do Fundo Nacional de Saúde.

No inicio da década atual, uma outra vez a visão de FBC, foi planejado, projetado e consolidado a construção do Hospital de Traumas e Emergências. Não sei o quanto foi acrescido ao Fundo Municipal de Saúde, mas ai ficou consolidado o crescimento exponencial das despesas com o quesito assistência à saúde no nosso município.

Não mais acompanhei e não tenho notícias se este caminho tem sido trilhado. O que se sabe é que o teto financeiro do SUS Petrolina tem aumentado tão somente devido a aumento vegetativo da população.

A Carta Magna e Lei Orgânica da Saúde são claras quanto a quem dever gerir os serviços de saúde municipais. O avanço que o SUS de Petrolina teve e tem, luta da sociedade organizada encampada, às vezes solitariamente, pelo Conselho Municipal de Saúde parece retroceder. Estamos abrindo mão, conforme decidiu o Edil Municipal, de cuidar dos agravos à saúde de nossos concidadãos. Me pergunto: será que esta é uma decisão de um homem só? Como fica a autoridade deliberativa do Conselho Municipal de Saúde? Como fica a sociedade organizada que, em momento nenhum, decidiu por esta decisão?

Devolver o HDM, sob quaisquer circunstâncias, é demonstração de Incapacidade de Gestão do Município de Petrolina. Petrolina não pagará apenas por este fato; outros pleitos da nossa cidade serão vistos e revistos antes de aprovados, ou reprovados. Será, imagino, demasiadamente onerosa esta decisão. O futuro dirá se tenho ou não razão.

É preciso, por mais doloroso que seja, afirmar que a responsabilidade pelos cuidados da saúde dos munícipes é do Gestor Municipal. Petrolina não pode fugir desta responsabilidade. É falsa, como tem sido falsa a discussão, a afirmação de que a responsabilidade pela gestão e financiamento do HDM é do Governo Estadual. Repito e reafirmo: A FONTE PRIMEIRA DE FINANCIAMENTO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE É O FUNDO NACIONAL DE SAÚDE. OS RECURSOS PARA O FUNDO NACIONAL DE SAÚDE SÃO DE RESPONSABILIDADE DO GOVERNO FEDERAL, NÃO DO ESTADO OU DO MUNICIPIO. Cabe, isto sim, ao Município, através de suas receitas próprias aportar recursos complementares para a manutenção do sistema. A Unidade Federativa, Estado unidade, deve e é dever seu, aportar recursos para as ações que vão além das responsabilidades do município.

É DEVER DO EXECUTIVO MUNICIPAL ELABORAR PROJETOS E PROGRAMAS PARA SOLUCIONAR OS GARGALOS DAS POLÍTICAS DE SAÚDE. É NOS FÓRUNS INSTITUCIONAIS QUE A BUSCA POR RECURSOS DEVE SE DÁ. DE NADA ADIANTA O BATE-BOCA NAS REDES TELEVISAS OU RADIOFÔNICAS. AÍ É PRÁTICA POLÍTICA PARA “INGLÊS VER”.

Não quero fazer análise da situação atual da qualidade do atendimento no HDM. É forçoso notar que, com raras exceções, os administradores do HDM, por indicados políticos que são, não possuem nenhuma experiência na gestão de uma grande empresa. O HDM, olhado por este prisma, é uma das maiores empresas de Petrolina, se a não a maior, em número de empregados, diversidade de profissionais envolvidos, de procedimentos e itens manejados. NÃO É TAREFA PARA AMADOR. É PARA PROFISSIONAL.

Encerro estas reflexões com algumas perguntas:

Qual a opinião da Câmara Municipal sobre esta decisão?

Quando se estabeleceram “gargalos” na gestão do “novo” HDM, a quem vai reclamar a população? Ao bispo, ou terá de ir, em comitiva, ao Recife?

Qual a deliberação do Conselho Municipal de Saúde a respeito desta desmunicipalização do hospital materno-infantil da Petrolina?

Será que todos (a comunidade petrolinense e regional) teremos que “pagar” este mico que o Prefeito está cometendo?

Até quando a prefeitura vai manter os servidores municipais em atividade no HDM estadualizado?

É justo o Município, elo mais fraco nesta disputa, manter despesas numa unidade Estadual?

Quanto a Prefeitura de Petrolina será obrigada a repassar, mensalmente, do Fundo Municipal de Saúde para o Fundo Estadual de Saúde, referente às despesas com internamentos e atendimentos do HDM? Afinal de contas, a PM de Petrolina recebe do Fundo Nacional de Saúde repasse referente à Gestão Plena do SUS Municipal e, com a nova configuração surgirá uma unidade hospitalar não pertencente ao Município, o que hoje não ocorre, e assim, esta unidade figurará no cadastro da Prefeitura como se fosse uma unidade credenciada, isto é, não pertencente a rede própria. O prefeito já pensou nisto?

ESTA ATITUDE É INICIO DA TRANSFORMAÇÃO NEOLIBERAL QUE ALMEJA O PREFEITO: A PREFEITURA MÍNIMA?

OBS: Não tratei aqui das melhorias da atenção à saúde implementadas em Petrolina depois da gestão do SUS.

*Dr. José Menino Monteiro é médico cardiologista; foi secretário municipal de saúde (1993/94); Diretor Regional de Saúde (1997/98); e Superintendente de Saúde de Petrolina (2001).

J

Ex-secretário de Saúde comenta de novo sobre SUS e HDM

  1. Ajomar Coelho de Lima disse:

    Muito bom o artigo do Dr. José Menino. Faz observações pertinentes, e covoca toda sociedade petrolinense a debater a questão. A câmara de veriadores não pode ficar omissa, e muito menos o conselho municipal de saúde. Quanto a situação vivida pelo o atual prefeito já era esperado pois, administração pública é completamente diferente da empresarial. A administração pública se consolida em meio a questões políticas, vale lembrar que o prefeito afirmara em campanha que não era político, e estava filiado a um partido porque para ser candidato se fazia necessário tal filiação. Veja a situação do atual presidente da república, nunca administrou empresa nenhuma no entanto, apresenta uma desenvoltura política como nunca visto na história brasileira, quer nacionalmente ou internacional.

  2. Jose Carlos disse:

    Muito bom Dr. José Menino,

    Este artigo é definitivamente esclarecedor. É preciso que a sociedade de Petrolina cobre deste prefeito a responsabilidade pela situação e suas consequências, e principalmente está na hora deixarmos de tratar o prefeito de vitima e colocarmos ele no seu devido lugar: Prefeito omisso com um falso discursso que o povo já percebeu.Um gestor perdido que não apresentou ainda uma proposta inovadora para a cidade.

    Abraços

  3. Djalma Campos disse:

    Nem merece comentário, quando Secretário de Saúde , não foi lá muita coisa. Agora é fácil para todos tripudiar da gestão …….

  4. SELMA TORRES disse:

    Caro CARLOS BRITTO,sou seguidora do seu blog e com muito respeito quero pedir a você que ignoremos essa “briga” entre Dr José Brito Veiga e o Dr JoséMenino,os dois têm suas versões e estarão certos das suas afirmações,está ridiculo um responder ao outro no “NOSSO BLOG”,espero que lavem suas roupas sujas entre eles,por favor,nos poupem de mais comentarios desses dois,encheu o saco!!!
    Muito Grata!

  5. José Florencio disse:

    Comungo com o pensamento e as razões muito bem expostas por Dr. José Menino. Vivenciamos a luta para tornar a administração do HDM municipal. Ele muito mais que eu. Por isso, transcrevo o que já havia comentado sobre esse assunto.
    É do conhecimento de todos que a saúde pública no Brasil funciona precariamente. A questão é complexa e estrutural. Sem uma reforma ampla de parte do governo federal não se chegará a bom termo. Esse lenga lenga vai continuar e a imposição de sofrimento aos mais carentes também.
    Antes o HDM era estadual e funcionava mal, como de resto a saúde em todo o País. Lembro que foi uma luta árdua para municipalizar o hospital. O raciocínio era de que sob a administração do Município poderia funcionar melhor, já que com a descentralização dos serviços, as autoridades ficariam mais próximas para serem cobradas.
    Agora o Município vai devolver a administração do hospital ao Estado.
    Bem sei que a insuficiência de recursos é gritante, mas essa atitude deixa transparecer a falta de luta e de garra com a coisa pública e de compromisso com os mais necessitados.
    Se já é difícil reclamar e ser ouvido pelas autoridades locais, imagine essas autoridades bem longe, em Recife.

  6. Tarcísio Menezes disse:

    Fico honrado em ler estas palavras. Só sinto por nossa Petrolina estar tão passiva quanto a situação de saúde em que vivenciamos. Faço o 4º período de medicina na Univasf, sou filho desta cidade e me dói no peito ver o descaso do GESTOR para conosco. Tudo isso, pra mim, parece um grande cartel da rede privada, visto que agora as justificativas é fazer convênios com as clínicas privadas da região, afim de comportar a demanda local de saúde.

    E realmente, cadê o conselho municipal de saúde? (controle social?)
    Cadê os nossos vereadores? (controle legislativo?)
    Cadê o prefeito da saúde?
    Cadê…
    Cadê…
    Cadê…

    Vamos endossar o caldo, o HDM é nosso, a gestão é plena e isso deve ser encarado como um problema municipal de saúde e como tal, deve ser resolvido aqui, e não no Recife!

  7. Tadeu disse:

    Carlos Brito e Eleitores, lamentavel essa situação temos lei que garante a participação da população e dos trabalhadores atraves do Conselho que deveria definir a vida do HDM, mais infelizmente fica o GOVERNO Municipal e Estadual usando o HDM com palco para Politica,
    pergunto:
    …..Qual vai ser o valor em dinheiro que a Prefeitura será obrigada a repassar, mensalmente, do Fundo Municipal de Saúde para o Fundo Estadual de Saúde; ja consultaram os juridicos para ver a legalidade?

    …..Quando aos crediciamentos dos programas de saude de petrolina os mesmos sofreram alguns danos?

    …..Cadê o Conselho Municipal de Petrolina??? por quê não se manifestar?
    …… Lembro: CMS de Além de representar a comunidade nas discussões sobre Saúde Pública e contribuir para que haja melhorias nos programas de saúde e no atendimento ao usuário, o CMS serve para articular a participação dos vários segmentos da sociedade na política municipal de saúde.

    …… Espero que a população não venha sofrer com essa ação maluca do Governo Estadual em querer assumir o HDM ser ver a legalidade, e depois abandonar o mesmo. cabe a Dr. Julio ver as consequencias dessa ação que pode ser penosa para população que faz uso do HDM.

    Tadeu Plinio da Silva
    Tec. em Enfermagem

    DOCUMENTOS PARA CONSULTAR:

    LEIS DO SUS
    ……….1 – Constituição Federal Seção II. da Saúde.
    Art. 196, 197, 198, 199, 200

    Assistência à saúde por parte do estado e o direito de todos. Regulamentação, fiscalização, controle, execução. O Sistema Único e suas diretrizes. O direito de assistência à saúde por parte da iniciativa privada. As competências do SUS nos temos da lei.

    …………2 – Lei Orgânica da Saúde/nr. 8080, de 19 de Setembro de 1990.

    Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e das outras providências.

    Art. 1oº Esta lei regula, em todo território nacional, as ações e serviços de saúde, executados, isolada ou conjuntamente, em caráter permanente ou eventual, por pessoas naturais ou jurídicas de direito público ou privado.

    ………3 – Lei No 8142, de 28 de Dezembro de 1990.
    Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde – SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e das outras providências. (Conferência de Saúde, Conselhos de Saúde, Recursos – Fundo Nacional de Saúde).
    …..4 – Decreto No 99.438, de 07 de agosto de 1990.
    Dispõe sobre a organização e atribuições do Conselho Nacional de Saúde, e das outras providências.

  8. de boa memória disse:

    Esse moço deve estar pleiteando alguma coisa. Para querer justificar o boicote politico sofrido pela administração de Dr. Júlio. Além do mais ele já esteve a frente da Secretária de saúde e sua gestão não foi lá das melhores. Portanto é melhor ele ficar na dele, pra não cair em contradição.

  9. Fernando disse:

    Só faço uma pergunta. A saúde pública era razoável na época dele…

  10. CARLOS ALBERTO disse:

    O QUE VEMOS É A PRIVATIZAÇÃO BRANCA ACONTECER, OS NEOLIBERAIS:FBC,ODACY E JÚLIO ESTÃO ENTERRANDO A SAÚDE PÚBLICA. ESSE NEGÓCIO DE FUNDAÇÃO PRIVADA ADMINISTRAR A COISA PÚBLICA EM NOME DE ESTATAL, ESSE NEGÓCIO DE IMIP, APAMI, PRÁ ADMINISTRAR O SUS É TUDO BALELA. A COISA PÚBLICA TEM QUE SER ADMINISTRA PELO PODER PÚBLICO, SÓ VÍ UM CANDIDATO DEFENDER A SAÚDE PÚBLICA NA ELEIÇÃO PASSADA, FOI O ROSALVO DO PSOL, POR ISSO VOTEI NELE.

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