50 anos da Ditadura Militar: “É proibido proibir”, de Mauriçola

por Carlos Britto // 19 de março de 2014 às 21:36

MauriçolaNo mês em que o golpe da Ditadura Militar completa 50 anos, o artista Maurício Dias, mais conhecido como ‘Mauriçola’ (foto), retomará em Juazeiro o espetáculo ‘É proibido proibir’.

Em artigo enviado ao Blog esta semana, o músico e compositor relata o que viveu nos Anos de Chumbo e diz que é preciso lembrar desse período sombrio da nossa história para que ele não se repita.

Vejam:

Escancarada, a ditadura formou-se. A tortura foi o seu instrumento extremo de coerção e o extermínio, o último recurso de repressão política que o Ato Institucional nº 5 libertou das amarras da legalidade. A ditadura envergonhada foi substituída por um regime a um só tempo anárquico nos quartéis e violento nas prisões. Foram os Anos de Chumbo.

O Milagre Brasileiro e os Anos de Chumbo foram simultâneos. Ambos reais, coexistiram negando-se. Passados mais de 30 anos (50 agora) continuam negando-se. Quem acha que houve um, não acredita (ou não gosta de admitir) que houve o outro (Elio Gaspari).

Em março de 1964 em tinha quase nove anos e ainda morava em Juazeiro. Em abril de 1984 eu estava no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, no maior comício da nossa história pelas “Diretas já”, com mais de um milhão de pessoas.

Ainda em 1984, participei de um evento que lembrava os 20 anos do golpe de 1964 no Sesc Pompéia, em “Sampa”. Conheci gente que foi presa, torturada, fiquei amigo de amigos de Geraldo Vandré. 1994, de novo em Juazeiro, montei o show “É proibido proibir” para lembrar os 30 anos do golpe e em 2004 fiz pelos 40 anos e agora vamos fazer mais forte pelos 50 anos. Lembrar para nunca mais acontecer.

Em 1973, fugi de Salvador, aos 17 anos, para o Rio e Belo Horizonte para não servir ao Exército, mas não escapei da humilhação de ficar das 5h da manhã com fome até às 5h da tarde na “Fonte Nova” numa violenta seleção. Doei meio litro de sangue (foi a única parte humana), fiquei tonto e ainda tive que carregar “brita” num carrinho de mão das obras do estádio. Fui entrevistado por um oficial e ele colocou na minha ficha: “Convém servir”, “Ideias confusas”, “rebelde”. No final fui dispensado pelo “excesso de contingente” e paguei uma promessa ao “Senhor do Bonfim”.

Em 1980, fui de novo entrevistado, desta vez por um agente da censura no antigo prédio da superintendência da Polícia Federal em Salvador (Terminal da França) para poder realizar o meu primeiro show no Teatro Vila-Velha.

Agora vou contar esta minha história dos “Anos de Chumbo” e espero que cada um conte a sua, vou de novo apresentar “É proibido proibir”.

Mauriçola

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