30 anos sem Tancredo

por Carlos Britto // 22 de abril de 2015 às 00:02

imagesEm fevereiro de 1985, Leitão de Abreu, chefe da Casa Civil do último general-presidente da ditadura de 64, avisou ao presidente eleito Tancredo Neves que Délio Jardim de Matos, ministro da Aeronáutica, estava furioso. Dizia que Tancredo se comprometera a não escolher para sucedê-lo seus desafetos Moreira Lima e Dioclecio Lima. Mas que estava prestes a fazê-lo. Corria contra isso um manifesto de brigadeiros. Tancredo telefonou para Aureliano Chaves, que apoiara sua eleição: “Você tem cinco minutos para dizer quem será o ministro da Aeronáutica: Moreira ou Dioclecio”. Aureliano preferiu Moreira. Tancredo telefonou para seu Secretário de Imprensa e orientou-o a anunciar o nome de Moreira. Francisco Dornelles, sobrinho de Tancredo, que a tudo assistiu, comentou: “Mas, o senhor fez o contrário do que o Leitão disse”. Tancredo: “Se existir um manifesto, quem assinou ainda terá tempo de retirar a assinatura. E quem não assinou não assinará mais”.  Tancredo pediu a Dornelles: “Procure o Leitão. Diga que foi Aureliano quem indicou Moreira. E que a essa altura eu não pude fazer mais nada”. Não houve manifesto.

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Ao saber que Alfredo Karan, ministro da Marinha, conspirava contra sua candidatura a presidente, Tancredo convidou-o para continuar no cargo. Karan aceitou radiante. Às vésperas de tomar posse, Tancredo explicou-se a um amigo: “Karan tentou me dar um golpe e eu dei um golpe nele. Não será ministro”.

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Um dia, Tancredo recebeu um recado do deputado Gustavo Farias (PMDB-RJ): “Paulo Maluf me oferece 100 mil dólares para eu votar nele. E o senhor?” Tancredo: “Só prometo que não mandarei atrás de você nem a Polícia Federal nem a Receita”. Ganhou o voto de Gustavo.

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Houve momentos difíceis na campanha de Tancredo para presidente. Num deles, reunido com auxiliares, as reclamações foram muitas. Um disse: “O senhor abandonou Minas.” Outro: “O comitê do Maluf tem mais computadores do que o nosso”. Um terceiro: “Maluf fala olhando para a câmera de televisão e o senhor não”. Tancredo perdeu a paciência: “Se Maluf é tão melhor por que vocês não vão apoiá-lo?” Ninguém foi.

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Eleito governador de Minas em 1982, Tancredo ouviu do seu Secretário de Planejamento, Ronaldo Costa Couto: “Para pôr ordem nas contas teremos de demitir 10 mil funcionários”. Tancredo: “Posso contratar mil?” Surpreso, Ronaldo respondeu que sim. No dia seguinte, a manchete do principal jornal de Minas foi a notícia da contratação. A fonte dela: Tancredo. Que se justificou: “Mineiro só gosta de admissão”. O jornal não noticiou as demissões.

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Governador, Tancredo telefonou para Dornelles. Quando a secretária de Dornelles passou a ligação, Tancredo já estava na linha. Dornelles: “Mas o senhor está aí? Pensei que fosse a secretária”. Tancredo: “Só cheguei a governador porque sempre entrei na linha na frente dos outros”.

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A um amigo que o viu esperar mais de uma hora para ser atendido por um burocrata do Ministério da Fazenda, Tancredo, ainda deputado federal, ensinou: “Ele me humilha, mas libera minhas verbas. Ministro não manda em ministério. Quem manda é o segundo escalão”.

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Crisanto Muniz, deputado do PSD, queixou-se a Tancredo: “Somos amigos, mas você dá mais atenção ao Ernane Maia” (deputado do PTB). Tancredo: “Faço isso por um só motivo: ele é doido. E doido tem que ser tratado com muito carinho”. (Do Blog do Noblat)

30 anos sem Tancredo

  1. galdino disse:

    Pelo relato , concluimos que já havia mensalão desde governo militar:

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    Um dia, Tancredo recebeu um recado do deputado Gustavo Farias(PMDB-RJ):
    “Paulo Maluf me oferece 100 mil dólares para eu votar nele. E o senhor?
    Tancredo: ” Só prometo que não mandarei atrás de você nem a Policia Federal nem a Receita”. Ganhou o voto de Gustavo.

  2. galdino disse:

    No item 5 vê-se claramente que desde a década de 80 a familia Neves dominava e manipulava a imprensa mineira.

  3. Osvaldo disse:

    Um Grande HOMEM Tancredo Neves.

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