O desabafo de um poeta contra a transposição

por Carlos Britto // 05 de novembro de 2009 às 22:38

O poeta Odilon Filho nos envia este belo cordel, demonstrando sua posição contrária à transposição de águas do Rio São Francisco.

Na verdade, o cordel é uma resposta de Odilon a um poeta que subiu no palanque do presidente Lula em Cabrobó, Sertão do São Francisco, por ocasião da visita deste ao município, no mês passado. Boa leitura!

Rio da Vida (Cordel)

 

Escutei de um poeta

Que o Velho Chico vai cortar,

Terras sertanejas e muita gente ajudar.

Vou lhe replicar em versos sinceros

De um jovem que acredita,

Que antes de transpor, precisa revitalizar o rio da vida!

 

Rio que mata a sede pode ficar na secura,

Por causa de uma obra obscura e politiqueira

A vida é muito maior que essa porqueira,

Que muitos querem se beneficiar.

 

Quantos jogaram pedras é um homem que apareceu do nada,

Deu risco sua vida e enfrentou uma batalha.

Levantou a bandeira da vida pra enfrentar essa guerra

Em terra que a seca inferna,

Que a botija que mata a sede.

 

Desse jeito até o verde que nas margens dele é rico.

Quer fazer de cimento um piso

Para água passar,

Quem já viu margens de pedra alguma planta ficar?

 

Como é que o coitado do jumento vai poder beber da água

Que se chegar perto da margem vai escorregar dentro d’água,

E a sede que ele iria matar

Num teve saída e no rio de cimento a se afogar.

 

Mas pra o Doutor Presidente lhe peço uma desculpa!

O Senhor precisa de uma lupa pra pode enxergar,

Enxergue enquanto é tempo não pense só no seu bolso

Comece a furar poço e mude essa história,

Que a vida pede tanto essa vitória.

 

Em obras de Deus não se mexe

Pare obra a que o povo esquece,

E tente outra solução, dê uma boa desculpa!

E ajude essa nação.

 

Odilon Filho

O desabafo de um poeta contra a transposição

  1. Vadre retro disse:

    Pense num caba por fora da realidade esse poeta. Arrieégua, chega a ser leviano…

  2. Paulo Robério disse:

    Caro Carlos Britto,

    Esse texto pode ser qualquer coisa, menos Literatura de Cordel. Há, na composição, uma mistura de sextilhas (estrofe de 6 versos) com quadras (estrofe de 4 versos) e quintilha (estrofe de 5 versos), revelando total disparidade em relação a tradiconal composição do cordel; que pode ser em sextilhas ou décimas, sendo a primeira a mais utilizada por todos os renomados cordelistas.

    Ademais, há uma verdadeira “babel” em relação à métrica: a medida tradicional dos versos na literatura de cordel é sete sílabas poéticas, seja na sextilha ou na décima. No citado texto apenas o 1º e o 5º versos da primeira estrofe, estão de acordo com a regra, o que também ocorre no 4º verso da terceira estrofe.

    Daí por diante, se formos escandir todo o texto, identificaremos medidas variadas, com até 17 sílabas poéticas em um único verso, como é o caso de “O/ Se/nhor/ pre/ci/sa/ de/ u/ma/ lu/pa/ pra/ po/der/ en/xer/gar”. Versos como esse, é denominado heterométrico, haja vista apresentarem um grande variação de medida.

    Quanto às rimas, agridem os ouvidos dos poetas parnasianos, que cultivavam o preciosismo nas rimas raras e ricas e buscavam a perfeição formal do poema. O texto apresenta uma heterogeneidade nas rimas. Convivem no poema, rimas emparelhadas, misturadas e versos brancos ou livres, descaracterizando-o em relação à literatura de cordel.

    Não pretendemos com essa breve análise, desclassificar a criatividade e o dom poético do autor, mas não podemos aceitar que a produção seja classificada como LITERATURA DE CORDEL. Em outras palavras, trata-se de um poema (está composto em estrofes) livre e de versos brancos.

    Outrossim, em relação ao poeta que se apresentou em Cabrobó, trata-se de Antonio Marinho do Nascimento, (meu conterrâneo) de São José do Egito, filho de Zeto e Bia Marinho, neto de Lourival Batista ( O rei dos trocadilhos), bisneto de Antonio Marinho (um dos maiores repentistas nordestino) e sobrinho de Otacílio Batista (autor de “Mulher nova bonita e carinhosa, faz o homem gemer sem sentir dor”) e de Dimas Batista (extraordinário repentista, foi advogado e professor universitário no Ceará).

  3. Sirley Sá disse:

    Concordo com tudo que o Paulo escreveu, o caboclo entende mesmo de Literatura de Cordel, acho que ele deve escrever também, publica aí macho!!!

  4. ÓÓÓÓÓÓ disse:

    ÓÓÓÓÓÓdilon… poeta???

  5. Vade Retro disse:

    Muito bem, Robério, excelente explicação.

    Literatura de Cordel não é só escrever um monte de palavras e mandar para a internet, onde chega até a ser chamado de “Belo Cordel”, vixe Maria.

    Nada contra Oldilon, vc tem talento, está começando como se vê, mas sua obra foi inflacionada pelo blog.

    Colocar seus versos em “desafio” ao poeta Marinho é subestimar a literatura de Cordel e a inteligência de quem conhece a poesia nordestina e o Marinho, um dos maiores poetas da nova geração.

    O último parágrafo do Robério disse tudo.

  6. Marcos Ribeiro disse:

    Prezados leitores, que deste blog acompanham a vida de toda região. Não tenho nada contra as críticas ao governo Lula, mas, quem assistiu o poeta Antonio Marinho em Cabrobó teve a oportunidade impar de ver o verdadeiro espetáculo em forma de cordel e não esse amontoados de palavras sem nexo . Gostaria de externar os mais sínceros votos de agradecimento ao Paulo Robélio pela aula de literatura e esclarecimento do que um cordel.

  7. Fernando disse:

    Parabéns, Odilon… a Transposiçao vai colocar Lula ao lado de homens públicos do quilate de Hitler, Mussolini.

  8. Fernando disse:

    É a ditatura do lulismo. Agora até fazer poesia tem que seguir as regras do Estado. É muita hipocrisia desses pseudoscomentadores.

  9. sertanejo nato disse:

    Parabens Odilon Filho, realmente seu texto retrata o sentimento de uma pessoa que vive a realidade da nossa terra, que diz com poucas palavras a real situação dessa obra faraonica que veio para beneficial os grandes, pois por aqui mesmo na beira do rio muitas pessoas sofrem com a sede, enquanto muitos sairão com suas contas bancarias abarrotadas com o dinheiro do povo, e prestem atenção, não é pouco. Notei que a materia causou uma certa discussão por
    conta da palavra CORDEL, pois ai apareceram os defensores do grande poeta e repentista Antonio Marinho que veio com certeza abrilhantar com seus versos, a passagem do Presidente Lula por Cabrobó, e ainda ganhar uns tracados que é justo. Isso é que é união, o pessoal da terra do berço da poesia de cordel, São José do Egito, entrou logo em defesa do patricio Antonio Marinho, más abriu uma boa oportunidade para se aprender sobre literatura de cordel com o professor Paulo Robério.

  10. Milca disse:

    Fernando, tus és ignorante pra caramba.

  11. Luis disse:

    Visualizo o rio da unidade
    Com água pra beber e irrigar
    Com o Velho Chico pujante
    E levando mais água ao mar
    Mais árvores nas suas margem
    Mais peixes em todo lugar

    O meu rio revitalizado
    Correndo como era outrora
    Sem esgotos prá dentro dele,
    Águas limpas e com melhora
    Para a vida dos ribeirinhos
    E pros nordestinos de fora

    Antevejo o rio da vida
    Matando a sede e a secura,
    Em razão de grande obra
    Que o homem fez bem segura
    Levando água ao meu povo
    Límpida, farta e muito pura

    A vida é um fardo leve
    Quando se quer ajudar
    Quando se pensa nos outros
    E não em se beneficiar
    Nem jogar pedras naqueles
    Que se dispõem a trabalhar

    Na vida trava-se batalhas
    Ao final vence o homem a guerra
    Se quando a chuva escasseia
    Seca e árida fica a terra
    Trabalhando o homem com garra
    Tem o tesouro que ela encerra

    Nas margens do Velho Chico
    Um novo verde encantador
    E cada canal de cimento
    Tal qual um fio condutor
    Transportando água da vida
    Como um bálsamo redentor

    E o jumento nosso irmão
    A cabra, a ovelha, o bezerro
    Comendo pasto à vontade
    Bebendo a água sem erro
    Homens com água e alimento
    Livres de um triste desterro

    Deus confiou seu mundo
    Ao homem trabalhador
    Que sendo um servo fiel
    Cumpre bem o seu labor
    O mundo é obra de Deus
    O homem o seu zelador

    Assim, Doutor Presidente
    Dou-lhe vivas e parabéns
    O Senhor enxergou longe
    E com a coragem que tens
    Mudou a historia de povos
    Que não serão mais reféns.

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