Artigo do leitor: “As chibatas dos capitães do mato”

por Carlos Britto // 06 de dezembro de 2019 às 21:49

Com uma bagagem cultural e de vida, acumulada nos anos de estrada pelo Brasil afora carregando sua música, o pernambucano Maciel Melo – cantor, poeta e compositor – fez um desabafo sobre as contradições da sociedade. O artista faz referência à política nacional e diz que o país não deve se intimidar com a “gulodice dos meliantes engravatados” – numa abordagem que lhe é característica.

Boa leitura:

Brasil, onde estás?

Não vês que o teu povo clama? Não ouves a voz dos que proclamam o direito de ir e vir? A cor púrpura te sangra, te cega, te entontece, te mata e não vês as veias abertas da América, te sugando todo o sangue.

Enquanto isso, a vida se adianta, o país se atrasa, e o povo segue sua sina cigana, tirando as pedras do caminho, sem direito a se deitar em berço esplêndido, nem acordar ao som do mar, à luz de um céu profundo. Segue desafiando em seu peito a própria morte; vendo a fome bater à sua porta, esmolando migalhas de respeito, lealdade e cidadania.

O Brasil que sonhamos não está na gulodice dos meliantes de gravatas que se esbaldam no sarcasmo de sua prepotência. Não está na arrogância dos patrões escravocratas, que continuam discriminando e agindo como se não tivesse havido a abolição. Não está nas vidas severinas afogadas nas águas do açude de Cocorobó, nem no açoite das chibatas dos Capitães do Mato. Não está nas lápides geladas da tortura, no descaso, nas agruras, na falsa cegueira de quem não quer ver.

O Brasil que sonhamos está onde o verde louro de sua flâmula aflora o fruto posto à mesa, e a fauna engorda nos pastos sobre a terra dividida. Está no direito de ir e vir, está nos versos de Joaquim Osório Duque Estrada; está em O Guarani, de Antônio Carlos Gomes, nos folhetos de cordel, na sanfona de Luiz Gonzaga, nas violas encantadas dos menestréis, dos cantadores violeiros. Está no sabor do extrato do grão do café torrado no caco e coado de manhã cedinho, alimentando os filhos pretos, de mães pretas, de pais pretos, para irem à labuta do dia a dia.

O Brasil que sonhamos está na cabeça de Paulo Freire, no Auto da Compadecida, está entre Deus e o Diabo Na Terra do Sol, está nos livros de Guimarães Rosa, nos grandes sertões, nas orações de Dom Hélder Câmara. Não está no presente, nem no futuro próximo.

O Brasil que sonhamos está em todos nós, mas, hoje, à mercê dos deuses, que na realidade é apenas um.

Maciel Melo/ Cantor e compositor

Artigo do leitor: “As chibatas dos capitães do mato”

  1. Paulo Gilberto disse:

    Artistas tem que reclamar com os artistas que se deram bem muito bem nos governos do PT onde utilizaram das leis das roubalheira do PT e CIA LTDA para enriquecer tipo Daniela Mercury Caetano Veloso Gilberto Gil Wagner Moura e outros tantos que encheram os bolsos ao mesmo uma coisa vou concordar com Bolsonaro tá moralisando as instituições luladrao cadeia

  2. Amigo de Petrolina disse:

    O país quase foi ao fundo do poço por conta de enganadores e pessoas que diziam defender o povo, mas que na realidade só queriam o poder. O tal Paulo Freire deixou o país entre os últimos colocados na educação no exame do PISA.
    Temos pessoas que terminaram o segundo grau e sequer sabem ler ou escrever.
    Houve um poltico que a um tempo atrás, chegou a comparar-se com Deus, fazer política sobre o caixão da falecida esposa, e usou o enterro do neto para os mesmos fins.

    O Brasil que eu quero, não passa por canalhas.

    Um forte abraço Maciel, continuarei te admirando com cantor e músico.

  3. João Vitor disse:

    O brasil esta mudando e melhorando, só não enxerga quem não quer ver mesmo! Nobre poeta dessa vez suas palavras foram muito infelizes.

  4. Roberto mendes disse:

    Se o Brasil estivesse ainda na cabeça de Paulo Freire era suicídio para a nova geração. Esses Cantores hipócritas que só pensam em se e suas famílias para viverem com o dinheiro público com história de cultura. Quem tem talento vai ao relento para mostrar para que veio. Cresci ouvindo apresentadores hipócritas como Faustão dizendo para o povo votar em políticos honesto e o povo não cobram dos seus representantes e que não vai a rua. Mas quando isso aconteceu e mexeu com seus ganhos e da sua emissora, ele vem soltando indiretas com o povo a ponto de chamar o povo de imbecis.

  5. Maria disse:

    João Vitor, realmente seu brasil está mudando para o bem estar dos banqueiros, agiotas, para a banda podre do empresariado. Você faz parte desse grupo? Se não, é apenas mais um pobre a lamber a sola dos sapatos desses que você festeja a melhora do seu brasil.
    Paulo Gilberto e Amigo de Petrolina me mostrem aonde foi que o Brasil foi ao fundo do poço, mas não vale dados de rede social, quero dados sérios de Instituições sérias. Porque até agora o que foi mostrado é que essa tese que a tanto vocês se agarram foi inventada para que o povo real do Brasil, não tivesse acesso a nada. E somente os brasileiros irreais é que estão levando vantagem com essa balela que vocês se agarram.
    Larguem de serem bestas, esses ricos que vocês tanto defendem não estão nem aí para vocês. Para eles vocês só servem para fazer mais riquezas para ele e nada para vocês.

  6. Maria disse:

    Estarrece-me a ignorância desta camada do povo brasileiro, quem nem interpretar um belo texto como o do Maciel sabe. Como saberiam votar e saber quem colocam no trono da presidência? Haja paciência para ver o país afundar e ver a água dando no pescoço, e ainda assim, ver certas pessoas a chamar o outro de mito. Ninguém merece!!

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