Vacina contra o novo coronavírus pode não funcionar no Brasil se for baseada no padrão atual de imunização

por Carlos Britto // 08 de setembro de 2020 às 17:00

Foto: Bernardo Portella/Fiocruz

A esperada vacina para o novo coronavírus (Covid-19) pode não ter resultado no Brasil se o país seguir as tendências atuais de imunização, com aumento do abandono entre doses e perda da cobertura vacinal observada nos últimos anos. Para se ter uma ideia, a chamada “taxa de abandono” de vacinas no Brasil cresceu 47,6% nos últimos cinco anos. Passou de 15,8% em 2015 para 23,4% no ano passado.

Isso significa que cada vez mais gente inicia um esquema vacinal no país, mas não finaliza o processo com todas as doses necessárias, algo que pode impactar a proteção contra uma determinada doença. Os dados são do Sistema Nacional de Imunização da base Datasus.

As taxas de abandono são calculadas no Brasil para nove vacinas, como a meningocócica C (com duas doses), a tríplice viral (contra sarampo, rubéola, caxumba; também com duas doses) e a poliomielite (com três doses).

A título de exemplo, entram nas estatísticas de abandono as crianças que tomarem, por exemplo, a dose inicial da hepatite B logo após o nascimento, ainda na maternidade, mas não tomarem pelo menos uma das duas doses seguintes, que devem ser ministradas, respectivamente, com um mês e aos seis meses de vida. Não entra no cálculo de abandono a vacinação contra gripe, que deve ser feita anualmente por pessoas com mais de sessenta anos. Nesse caso, é como se cada dose fosse independente da outra.

Em algumas regiões do país, a desistência entre doses vacinais é ainda mais preocupante. Em Goiás, o abandono cresceu 99,2% de 2015 para 2019. No Distrito Federal, o aumento de quem larga o esquema vacinal chegou a 69,2% no mesmo período. O crescimento da taxa de abandono entre doses de imunização tem preocupado cientistas no contexto da pandemia de Covid-19.

Rigorosas

Das 33 vacinas para a doença causada pelo novo coronavírus em testes clínicos no mundo, 29 exigem pelo menos duas doses de imunização. Esse é o caso da vacina da farmacêutica chinesa Sinovac, que está sendo testada e produzida pelo Instituto Butantan, em São Paulo, e que prevê duas doses na imunização.

Mesma coisa acontece com a Sputnik V, do Instituto Gamaleia, da Rússia, que tem acordo para produção anunciado com o governo do Paraná, e com a vacina da Universidade de Oxford e do laboratório AstraZeneca, que está em testes no Brasil. Ambas demandam duas doses cada. Além disso, há expectativa de que a imunização contra Covid-19 tenha de ser reaplicada periodicamente. Há casos de pessoas que se contaminaram duas vezes pelo novo coronavírus em menos de seis meses. (Fonte: Folhapress)

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