Técnico lamenta nova paralisação no abastecimento d’água em interior de Petrolina

por Carlos Britto // 02 de agosto de 2010 às 06:00

A mais recente paralisação no abastecimento d’água na zona rural de Petrolina, por conta da falta de repasse de recursos ao Exército, que deveria ser feito pelo Ministério da Integração Nacional, valeu o desabafo do técnico em Defesa Civil, Jenivaldo Santos, o ‘Jota’ Santos.

Confiram, na íntegra o artigo dele enviado ao Blog:  

Até parece brincadeira. Há pouco mais de um mês, a Distribuição Emergencial de Água Potável do Ministério da Integração Nacional/Secretaria Nacional de Defesa Civil – Operação Carro Pipa, teve o fornecimento de água às famílias da zona rural deste município e região afetadas pelo fenômeno de estiagem, paralisado.

Hoje, em pleno período eleitoral, as famílias da área de sequeiro, mais uma vez, recebem a notícia de que não receberão água.

Caros leitores, só pra terem ideia da gravidade do problema causado por essas constantes paralisações, as famílias da zona rural que receberam água (8 mil litros/t) no mês de julho, só voltarão a receber no mês de outubro, isto é, daqui a dois meses.

Atualmente, em Petrolina, são disponibilizados aos beneficiários da Operação Pipa, 8 mil litros de água a cada dois meses, isto é, mês sim, mês não, destinado apenas para o consumo humano (beber e cozinhar). É evidente que esse quantitativo de água é insuficiente para as famílias sobreviverem, mesmo se não houvesse as interrupções.

Vale lembrar que os mananciais que servem para abastecer as populações da zona rural, encontram-se todos secos. A única água disponível para o consumo humano é a disponibilizada pela Operação Carro Pipa do MI/SEDEC, gerenciado pelo Exército.

Por tudo isso, podemos concluir que, quem tiver dinheiro para comprar um pipa d’água que varia entre R$ 60,00 e R$ 120,00, vai superando a estiagem. E quanto aqueles que sequer têm dinheiro para comprar o que comer, como fica?

É extremamente preocupante a situação dessas famílias. É necessário e urgente mudar o modelo do atual Programa de Distribuição Emergencial de Água Potável no Semiárido Nordestino, visto que não atende às necessidades básicas do povo que sofre com os efeitos da estiagem, pois o ideal seria essas famílias receberem, no mínimo, uma carrada de água todo mês.

É inaceitável que o programa só leve em conta, beber e cozinhar como necessidade básica daqueles que vivem na zona rural, para fins de cálculo do quantitativo de água a ser disponibilizada. E quanto à higiene pessoal? Será que esse povo não toma banho? E a roupa suja, será que eles não lavam? Se os mananciais se encontram todos secos, como ficam os animais? As pessoas terão que ficar assistindo a seus animais morrerem de sede? Pois bem, o nosso período chuvoso começa em dezembro. No entanto as chuvas fortes que servem para repor a carga dos mananciais só a partir de janeiro.

Enfim, daqui até lá como ficará a situação? Sem dúvidas, calamitosa. Espero que esse meu desabafo sirva, pelo menos, de reflexão a todos, em especial, a classe política de nossa região.

Jenivaldo Santos – J. Santos/Técnico em Defesa Civil/Ex-Coordenador Adjunto da Defesa Civil de Petrolina

Técnico lamenta nova paralisação no abastecimento d’água em interior de Petrolina

  1. Paulo Robério disse:

    Meu caro J.Santos, você fala realmente como quem conhece a situação. Em pleno século 21 ainda vemos milhares de famílias nordestinas a mercê de um programa de governo (excessivamente burocrático) constituído para abastecer a população do sequeiro, mas que não leva em conta a regularidade do abastecimento, a qualidade da água e muito menos as reais necessidades dos assistidos.

    Com o advento das cisternas de placas, alguns políticos demagogos propagaram que esta região se libertaria da lata d’água, só que agora precisam se libertar dos carros pipas, coisa que ainda vai durar muito tempo, até porque tem muita gente ganhando com isso e essa continuidade interessa a alguns.

    Parabéns pelo seu comentário. Nós sabemos muito bem o que é isso, pois convivemos com essa realidade.

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