Os embates e trocas de farpas já se tornaram rotineiros entre as bancadas de situação e oposição na Câmara Municipal de Petrolina. Mas na sessão virtual de ontem (16) o clima pouco amistoso não se resumiu apenas entre os adversários.

Apenas com projetos de decreto legislativo na pauta de votação, referentes a concessão de títulos de cidadania e da Medalha de Honra ao Mérito Dom Malan a personalidades da sociedade local, o azedume começou a partir de uma moção de aplausos apresentada verbalmente pelo líder oposicionista Paulo Valgueiro (PSD) e subscrita pelo colega Gabriel Menezes (PSL). Valgueiro enalteceu a Operação ‘Ripstop’, deflagrada ontem pela Polícia Civil de Pernambuco (PMPE) para investigar suspeitas de fraude na ordem de R$ 132 milhões em prefeituras do Estado, incluindo Petrolina.

Foi a gota d’água para o governista Alvorlande Cruz (Republicanos), que já vinha insatisfeito com os constantes ataques da oposição ao governo municipal. Segundo ele, Valgueiro deveria também apresentar uma moção de aplausos à PCPE para que investigue desvios de R$ 1 milhão na compra de 17 mil barrotes sob sua gestão na antiga EPTTC (atual AMMPLA), em 2015.

“A gente tem de frear a língua desses camaradas. São sujos, cheios de lama e querem continuar com esse ódio, agredindo”, disparou. Alvorlande aproveitou para apresentar também duas moções de aplausos: a primeira para o 1º vice-presidente da Mesa Diretora, Ronaldo Cancão (DEM), que à época era oposição ao Governo Lossio – do qual Valgueiro fazia parte – e denunciou os desvios à polícia. A segunda moção é para Edilsão do Trânsito, pelo trabalho feito recentemente à frente da AMMPLA.

Sem se sentir afrontado, o líder da oposição no Legislativo devolveu no mesmo tom. Primeiro disse que denúncias vazias não calarão sua voz no Legislativo. Em seguida afirmou que o Governo do Novo Tempo (como costuma chamar a atual administração) deveria escalasse alguém mais qualificado e com idoneidade moral para o enfrentar, e não “pau de galinheiro nem poleiro de pato”.

Valgueiro deixou claro não ter nenhum fato que manche sua índole, caso contrário não teria nem se candidatado a vereador. “Não tenho nenhum rabo preso para ninguém puxar”, garantiu. Ele disse ainda não ter ficado nenhum ressentimento com Ronaldo Cancão, pois acredita que o colega cumpriu seu papel de então opositor ao Governo Lossio e apresentou a denúncia. Mas passados cinco anos do fato, Valgueiro desafiou a atual bancada governista a verificar no Fórum Dr.Souza Filho ou no Ministério Público se há um só inquérito instaurado contra ele. A moção de aplausos do líder oposicionista acabou sendo aprovada por todos, mas Ronaldo Silva (DEM) deixou claro que Petrolina não foi alvo da operação da PCPE.

Aero x Elena

Valgueiro também provocou um mal estar na base aliada ao apresentar um requerimento (131/20) com o objetivo de solicitar ao prefeito Miguel Coelho a elaboração de um projeto arquitetônico para permitir a construção de muros e garagens padronizados nos conjuntos residenciais do Programa ‘Minha Casa Minha Vida’. Embora rejeitada por 12 votos a oito, a matéria contou com o respaldo da vereadora Maria Elena (MDB) e de mais dois governistas – Ronaldo Silva e Edilsão do Trânsito (MDB).

Líder da base aliada na Casa Plínio Amorim, Aero Cruz (MDB) devolveu o que considerou de “rebeldia” de Elena ao afirmar que votaria no requerimento 114/20, de autoria da vereadora, propondo moção de aplausos à coordenadora do Programa Transforma Petrolina Lara Secchi Coelho e sua equipe, bem como às ONGs parceiras, pela  atuação no atendimento às famílias e demais segmentos da cidade em situação de vulnerabilidade social por conta da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). “Ao contrário da vereadora, que não seguiu com a bancada, eu voto a favor”, disse.

Elena, no entanto, não deixou barato. Ela disse que não tem a obrigação de seguir todas as diretrizes da sua bancada. “Você não é Deus”, desabafou. O requerimento de Elena foi aprovado por 19 votos e houve uma abstenção (do oposicionista Gabriel Menezes).