Professora bate duro nos critérios de distribuição do milho a cargo da Conab

por Carlos Britto // 21 de janeiro de 2013 às 21:00

Os critérios de distribuição do milho sob a responsabilidade pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) aos agricultores prejudicados pela longa estiagem mereceram duras críticas da professora Luiza Coelho Rodrigues.

Confiram o artigo enviado por ela ao Blog:

MilhoEntendendo que as pessoas têm a predisposição a tirar conclusões precipitadas acerca da conduta dos outros (citando o professor de Comportamento Educacional e Organizacional, Argyris), por muito tempo procurei manter-me calada. Mas, diante de tamanha falta de preparo e de desrespeito com o ser humano na cidade de Petrolina-PE, sinto-me na obrigação de expressar a minha indignação com a maneira como a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) trata o público (produtor rural) na execução da política de liberação de grãos (milho).

Funcionando em uma sala no prédio do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR), a equipe da Companhia Nacional de Abastecimento não consegue atender, com presteza, a demanda da região, bem como não consegue cumprir uma programação segura, se é que existe algum planejamento para a efetiva distribuição do milho aos agricultores/produtores rurais castigados pela longa estiagem no Nordeste, mais precisamente no sertão Pernambucano.

Ao iniciar os trabalhos, em 2012, a equipe da Conab divulgava a relação dos cadastros aprovados por meio de listas afixadas nas paredes da antessala do posto de trabalho na sede no STR (não ocupada por nenhum agente público). Os agricultores pediam ajuda aos outros, uma vez que, além da dificuldade para enxergar os nomes das poucas listas disponibilizadas, não entendiam a letra – os nomes foram escritos à mão e não obedeciam à ordem alfabética.

Quando “por um milagre” começaram a aparecer listas escritas no computador, para surpresa nossa, os nomes dos agricultores que tiveram seus projetos aprovados não seguiam à classificação alfabética, o que continuou demandando tempo na identificação dos “sortudos”.

Caso alguém pretendesse conversar com os profissionais da Conab, surgia outra decepção: a equipe resolveu fechar a porta para “adiantar” o trabalho de cadastro, pois eram vários os pacotes amarrados por um barbante e deixados no chão, esperando uma análise e quem sabe uma deliberação.

Ah, os agricultores precisavam compreender que houve greve dos caminhões, falta de grãos, havia pouca gente para atender aos muitos necessitados, e que após encontrar o nome na lista deveriam ainda agendar um dia para receber o boleto que deveria ser pago no Banco do Brasil, voltar ao STR para deixar uma cópia na Conab, aguardar mais ou menos uma semana para saber se o cereal já estava disponível no depósito. Enquanto isso, os animais, à espera de comida, aos poucos desaparecendo, sem falar do gasto com passagens, do tempo perdido, da humilhação, é claro. Não há homem compreensivo que suporte tamanha provação!

E os que fizeram o cadastro ainda no primeiro semestre de 2012, mas que não obtiveram resposta, ou melhor, o cadastro desapareceu? Como não houve comprovante de entrega do documento, só existe uma solução: deixar outro cadastro. E aquele produtor que teve a primeira liberação em novembro e que diante da escassez de grãos, recebeu apenas 17 sacos (1.020 quilos), independentemente da quantidade de animais ou do total aprovado?

Vamos entender que a aprendizagem é fenômeno individual que depende da socialização e de uma interação mais ampla com o meio, recorrendo ao professor Uribe (2001). Vamos imaginar que aquela Companhia tenha otimizado o atendimento à comunidade. Eis que surge a mudança do comportamento organizacional: a Conab não mais libera lista.

Os produtores que sejam criativos e procurem agora não mais a Companhia, e sim uma pessoa do Sindicato dos Trabalhadores Rurais para agendar o dia de pagar o boleto referente à parcela de dezembro, lembrando, porém, que o STR afirma que apenas colabora com seu trabalho, mas não tem poder gerencial. Ou seja, o que parecia melhorar dificultou ainda mais.

Os do município de Petrolina são atendidos durante as segundas-feiras. Parece bom? Não. Por falta de espaço na agenda da Conab, o STR agenda para o mês de janeiro a liberação do boleto para pagamento. A liberação do grão deve seguir todo aquele procedimento anterior. A indefinição continua! Mas chegou janeiro/2013, e agora? A Conab não tem milho, não sabe quando chega. E as entrevistas/propagandas de liberação de 200 toneladas semanais?

O agricultor volta desolado para casa: o longo recesso na liberação de milho não pode ser aplicado na sua propriedade, pois os animais que ainda vivem precisam de alimentos. O mandacaru acabou, a palma já foi cortada pelo tronco, a água é comprada e as políticas públicas não funcionam. Só resta rezar para a chuva voltar ao sertão.

Diante de tudo isso, não é possível aceitar a incapacidade gerencial da Conab, essa dificuldade em enfrentar o problema e apresentar solução rápida para a distribuição de grãos, essa conduta defensiva que esconde medidas em prol do ser humano que sofre com a longa estiagem. Lembrando Peter Senge, é necessário melhorar os modelos mentais na Conab.

Luzia Coelho Rodrigues/Professora

Professora bate duro nos critérios de distribuição do milho a cargo da Conab

  1. Criador falido disse:

    Concordo com todo o texto. Eu mesmo desisti, depois de esperar um tempão nas filas, ser avisado que só me atenderiam na segunda por eu ser de Petrolina (mesmo que não tivesse ninguém naquele dia). E ainda tinha uma cota de 50 fichas por segunda. Perdi as esperanças e saí para comprar abóboras e farelo na Agrovale.

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