O Centro de Conservação e Manejo de Fauna da Caatinga (Cemafauna)/Univasf registrou um importante avanço científico com a descrição de uma nova espécie de joaninha identificada no semiárido nordestino. A descoberta foi publicada no periódico internacional Annales de la Société entomologique de France e revela aspectos inéditos da biodiversidade da Caatinga.
A espécie, batizada de Mada gregaria, pertence ao grupo Mada adusta e é a primeira do gênero com ocorrência confirmada no Domínio Caatinga. Os exemplares foram encontrados em áreas de dunas nos municípios de Casa Nova e Pilão Arcado, no norte da Bahia, região conhecida como Dunas do São Francisco, caracterizada por ecossistemas de caatinga arenosa. De acordo com os pesquisadores, a nova joaninha possui corpo oval, coloração que varia do amarelo ao castanho-amarelado e não apresenta as tradicionais pintas nos élitros. As margens laterais mais claras e características genitais específicas dos machos permitem a diferenciação da espécie dentro do grupo taxonômico.
O estudo foi desenvolvido por pesquisadores do Laboratório de Mirmecologia do Cemafauna, coordenado pelo professor Benoit Jean Bernard Jahyny, em parceria com o professor Daniel Pifano, curador do Herbário de Referência do Sertão Nordestino (HRSN), e com a Gerência de Planejamento e Novos Projetos do Centro de Estudos em Biologia Vegetal (CEBIVE).
Além da descrição da espécie, a pesquisa trouxe informações inéditas sobre sua biologia e comportamento. Os cientistas identificaram que a Mada gregaria utiliza como planta hospedeira a Strychnos rubiginosa, conhecida popularmente como capitão ou bacupari. Este é o primeiro registro documentado da associação entre uma joaninha herbívora da tribo Epilachnini e uma planta da família Loganiaceae.
Durante o trabalho de campo, foram observados adultos se alimentando de folhas jovens, a postura de ovos na parte inferior das folhas e larvas raspando a superfície foliar após a eclosão. Outro comportamento que chamou a atenção dos pesquisadores foi a agregação dos adultos, que permaneceram agrupados por meses mesmo sem oferta de alimento, indicando uma possível estratégia de dormência adaptada às condições ambientais da caatinga.
Conhecimento ampliado
Segundo o professor Benoit Jahyny, a descoberta amplia o conhecimento científico sobre a biodiversidade regional. “A descrição de Mada gregaria representa um avanço significativo para a taxonomia de Coccinellidae no Nordeste e para o entendimento da biodiversidade da Caatinga. Registrar não apenas uma nova espécie, mas também sua biologia, comportamento gregário e uma associação inédita com plantas da família Loganiaceae reforça a importância das pesquisas de campo em ambientes semiáridos”, destacou.
A pesquisa também amplia o número de famílias vegetais conhecidas como hospedeiras de joaninhas herbívoras na Região Neotropical, antes restritas a Aristolochiaceae, Cucurbitaceae e Solanaceae, levantando novas questões sobre coevolução e adaptação desses insetos. O artigo científico completo está disponível no site da revista internacional: www.tandfonline.com/journals/tase20.


