Neste artigo abaixo, a funcionária pública Wanicleidy Passos enaltece o movimento realizado em Petrolina, Juazeiro e no Vale do São Francisco na última sexta-feira (21), e acredita que nem tudo está perdido.

Confiram:

No último dia 20 na região do Vale do São Francisco, aconteceu uma linda manifestação ordeira e pacifica. Muitos até podem achar que essa onda de manifestação é modismo e que de nada serve. Respeito a opinião de cada um, afinal estamos numa democracia, mesmo assim quero registrar o meu apoio e torcer para que assim como eu muitos acordem para a real situação do País.

Apesar de ter conhecimento da roubalheira e das injustiças, ainda assim me faltava consciência! Envergonhadamente admito minha cegueira político-social, mas após toda essa repercussão acordei! E estou tendo uma visão generalizada do caos no Brasil e com isso tendo a oportunidade de rever alguns conceitos. Confesso que ao atravessar a ponte do Rio São Francisco ao som do povo cantando o Hino Nacional, vivi uma das maiores emoções da minha vida, algo do tipo “ainda dá tempo, pois nem tudo está perdido”.

Um ato digno de aplausos e de apoio, pois representa o anseio de uma nação que clama mudanças e mostra que o descaso público é geral: Falta saúde, educação e segurança e, consequentemente, dignidade para o nosso povo.

A revolta dos R$ 0,20 ou a marcha do vinagre, não importa como denominar o que podemos considerar como uma grande prova de patriotismo e de coragem de uma nação incrédula, mas ainda assim esperançosa. A verdade é que esse manifesto representa uma sociedade cansada da impunidade e inconformada com os gastos exorbitantes em obras faraônicas e surreais e de uma população revoltada com o contraste da propaganda que retrata um País em desenvolvimento, diferente da realidade do nosso povo.

Ao contrário do que estão impondo, não somos contra a Copa de 2014 no Brasil, afinal somos o País do futebol, mas não podemos concordar sem questionar os investimentos feitos nos estádios, enquanto pessoas ainda morrem nas filas de hospitais públicos.

E como mãe de aluno de escola pública, também não posso me calar com a falta de investimento na educação, com os baixos salários dos professores e achar que a cota para alunos de escola pública resolverá a situação. Quero o melhor para meu filho, quero qualidade no ensino para que ele possa competir igualmente pelos seus sonhos.

Difícil também ficar calada diante do monstro da inflação que volta a amedrontar as nossas vidas. O que mais impressiona é que essa juventude que está levantando a bandeira não viveu esse pesadelo, poucos desses jovens viveram a dolorosa experiência de ir diariamente ao supermercado sem saber o que fazer, pois o salário não era suficiente para fazer uma feira mensal, e o mais grave é que estamos caminhando para isso novamente. Mesmo assim esses jovens estão nas ruas dando o grito de alerta.

Então, como posso ficar apenas como telespectadora diante do que o meu Brasil está vivendo? Sou da geração cara-pintada, que mostrou ao mundo que sim, é possível retomar a ordem e o progresso, mostramos isso nos anos 90 através da campanha ‘Fora Collor!’ e do consequente Impeachment jamais visto na história, e agora apoio a geração “Apenas R$0,20 (centavos)” com muita satisfação. Finalizo fazendo minha as palavras de Jô Soares, que inteligentemente explica pra quem não entendeu ainda: os vinte centavos, um por um:

R$ 0,01 – a corrupção

R$ 0,02 – a impunidade

R$ 0,03 – a violência urbana

R$ 0,04 – a ameaça da volta da inflação

R$ 0,05 – a quantidade de impostos que pagamos sem ter nada em troca

R$ 0,06 – o baixo salário dos professores e médicos do estado

R$ 0,07 – o alto salário dos políticos

R$ 0,08 – a falta de uma oposição ao governo

R$ 0,09 – a falta de vergonha na cara dos governantes

R$ 0,10 – as nossas escolas e a falta de educação

R$ 0,11 – os nossos hospitais e a falta de um sistema de saúde digno

R$ 0,12 – as nossas estradas e a ineficiência do transporte público

R$ 0,13 – a prática da troca de votos por cargos públicos nos centros de poder, que causa distorções

R$ 0,14 – a troca de votos da população menos esclarecida por pequenas melhorias públicas (pagas com dinheiro público), que coloca sempre os mesmos nomes no poder

R$ 0,15 – políticos condenados pela justiça ainda na ativa

R$ 0,16 – os mensaleiros terem sido julgados, condenados e ainda estarem livres

R$ 0,17 – partidos que parecem quadrilhas

R$ 0,18 – o preço dos estádios para a copa do mundo, o superfaturamento e a má qualidade das obras públicas

R$ 0,19 – a mídia tendenciosa e vendida

R$ 0,20 – a percepção que não somos representados pelos nossos governantes.

Se precisarem tenho outros vinte centavos aqui, é só pedir.

 Wanicleidy Passos/Funcionária Pública