O cantor e compositor Carlos Maurício Dias Cordeiro, o ‘Mauriçola’, enviou um artigo lamentando a morte do médico Humberto Pereira, ou ‘Dr.Humberto (foto), para os mais próximos. Defensor das manifestações culturais, ele era figura queridíssima entre os artistas de Petrolina e Juazeiro. Confiram:
“Dr. Humbertão, como a gente carinhosamente o chamava, é uma figura ímpar, dessas que a gente não esquece jamais. Como um “Charles anjo 45” do bem, era protetor e tutor de uma geração de músicos, atores, sonhadores, poetas, malucos de Juazeiro.
Sua casa, ali na Praça da Catedral, era nosso abrigo – não sei como ele e dona Neide suportavam um bando de doidos sonhadores querendo mudar o mundo com música, poesia e teatro – a casa do Dr. Humbertão e dona Neide era o templo do grupo Exodus e quase todos os artistas que passavam por Juazeiro apareciam por lá- João Gilberto esteve no seu sítio, o “Marí” que era extensão da sua casa nos fins de semana- ali na beira do São Francisco, João disse que ficaria para sempre.
Quantas manhãs e tardes e noites de música e sonhos Dr. Humbertão e dona Neide abençoaram. O escudo, a sala de visita da cultura de Juazeiro estava ali, naqueles tempos. Humbertão fundou o hospital Semec, primeiro ao lado da casa dele. Era médico também do hospital D. Malan – se Paulo Coelho estivesse vivo e Fernando Bezerra fosse prefeito de Petrolina era luto oficial por 30 dias por lá.
Mas a história está morrendo, a memória já se foi, a inversão de valores é muito violenta, o conteúdo de certas formas estéticas inteligentes de vida e arte estão sendo diuturnamente massacrados com tanta miséria cultural e existencial.
Eu não tenho muitas palavras e talvez com palavras, em profusão de seu conteúdo, por si só elas não possam traduzir o que sentimos agora que o Dr. Humbertão se foi – ele já tinha voltado para Salvador com mais de 80 anos e na fragilidade de nossas existências a metafísica da morte, tão real e cruel, não nos trouxe paz eterna. O bálsamo, o elixir que a fé pode produzir não nos alivia a dor da saudade, do fim de um ciclo, uma época, um século, um dia, um segundo.
As despedidas de velhos e eternos amigos do círculo de convivência cultural de Juazeiro nos anos 70: Dr. Humberto, Dr. Expedito, Pedro Raymundo (nosso poeta maior) Euvaldão (meu velho parceiro de música), Zé Maurício (o coringa doido de todas as artes).
Fico por aqui, o texto da homenagem (não é meu não) diz muito melhor. “De um lado, carrego os meus mortos – é por isto que eu ando meio de banda””.
Carlos Maurício Dias Cordeiro (Mauriçola)/compositor



