Jaildo Marinho: Trajetória de sucesso de Santa Maria da Boa Vista para o mundo

por Carlos Britto // 01 de agosto de 2016 às 21:06

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No próximo dia 26 de outubro o pernambucano Jaildo Marinho completará 46 anos de vida – metade deles vividos em Paris, na França, de onde não para de colher louros pelo belo e surpreendente trabalho que realiza com esculturas inspiradas na arte contemporânea. Sertanejo de Santa Maria da Boa Vista, ele deu os primeiros passos quando se mudou, no início dos anos 90, para o Recife.

Lá, ingressou na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde foi aluno de Suely Cisne, que foi a responsável pela restauração dos vitrais da Catedral de Petrolina, e do mestre João Batista Queiroz. Este tinha um ateliê de esculturas, o que bastou para Jaildo decidir o que queria da vida.

De passagem por Petrolina, onde fica até quinta (4) visitando familiares e a imprensa local, Jaildo contou um pouco ao Blog como foi essa trajetória de sucesso. Ele lembra de ter tido a sorte de conviver com nomes no Recife como Paulo Burque, que o estimulou a alçar voos mais altos. Ao ir embora para a França, criou um forte vínculo de amizade com outro pernambucano ilustre: Cícero Dias. Para se ter uma ideia, Cícero era muito amigo de ninguém menos que Picasso, a ponto de se tornar padrinho de sua filha.

Com uma referência como esta, Jaildo começou a galgar seu espaço. Mas não teria conseguido se não tivesse talento. Com clientes internacionais famosos em sua lista, ele já foi destaque também recentemente na Revista Veja e expôs seus trabalhos em vários países da Europa, além de Estados Unidos. Mas Jaildo não gosta muito desse tipo de badalação. Discreto, prefere comentar as instituições que colecionam sua arte, a exemplo da Fundação Antonio Queiroz, de Fortaleza (CE), que exibirá as peças de Jaildo até dezembro. “É a maior coleção da América Latina”, frisa o artista.

Vernissage

Jaildo afirma que o cenário sertanejo, fonte de suas inspirações, o ajudou a evoluir no seu trabalho. “Quando tomei consciência de que existia um verde na nossa região e que bastava uma chuva para tudo se transformar, dei um grande passo”, pondera. Atualmente a arte de Jaildo vai bem além disso. Os traços contemporâneos de suas esculturas impressionam até especialistas de renome na área. É como se outros elementos num determinado espaço onde ele atua se tornassem parte integrante de sua obra. Não é à toa que o pernambucano tem trabalhos em exposições ao lado de nomes do calibre de Hélio Oiticica e Lygia Clark (já falecidos), e Beatriz Milhazes.

O ritmo de Jaildo no seu ateliê, na capital francesa, é alucinante: trabalha das 6h às 22h, de domingo a domingo. A matéria-prima de suas esculturas ele vai buscar na Itália, na região de Carrara. O mármore famoso (e caro) transforma-se em arte nas mãos de Jaildo.

Os momentos de instabilidade política no mundo deixam o artista de Santa Maria apreensivo. Um dos sangrentos atentados que traumatizaram os franceses, na Casa de Shows Bataclan, ocorreu a pouco mais de três metros do seu ateliê. A maior preocupação de Jaildo é enquanto pai. Ele reconhece que os atos terroristas mudaram a vida da população e, consequentemente, afetaram também as artes. “A França é um berço da liberdade e isso (os atentados) vem tirando o povo das ruas, vem freando a criatividade dos artistas. As pessoas não estão indo mais aos museus, às exposições. Mas como dizia Luis Gonzaga: ‘Quando não se morre de tiro, se morre de veneno de cobra. Tento tirar isso de letra”, afirmou.

De Petrolina Jaildo irá até o Recife, onde fará palestra na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), por intermédio do ex-diretor da Fundarpe Rodrigo Pelegrino, que atualmente ocupa um cargo na Unicap. Ele deverá voltar ao Sertão em 2017, quando planeja um grande vernissage. Otimista, ele prevê um futuro promissor para a cultura local. “Por enquanto o foco da região ainda é a produção agrícola. Mas o momento cultural chegará, e seremos uma influência internacional”. Quem duvida?

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